Nesta segunda-feira, 23/09, organizações da sociedade civil promoveram um protesto contra a exploração de combustíveis fósseis – principais responsáveis pelas mudanças climáticas – no Boulevard Olímpico do Rio de Janeiro. O espaço abriga o “ROGe, Conectando Energias”, congresso e feira de exposição do setor de petróleo e gás natural, que reunirá CEOs e representantes de grandes petroleiras, como Petrobras, Shell, BP, Exxon e Total. O evento é promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) ao mesmo tempo em que a cidade de Nova York recebe a Semana do Clima.
Com patrocínio principal do governo federal e da Petrobras, são esperados mais de 70 mil visitantes, de 65 países, incluindo autoridades e investidores, para promover a exploração de fósseis. Embora o ROGe se apresente como uma plataforma inovadora, os ambientalistas consideram o evento um “Saldão do Fim do Mundo”, perpetuando práticas que ameaçam a vida no planeta.
O protesto – pacífico – levou ao Boulevard Olímpico um inflável gigante com a foto dos executivos das petroleiras e a frase “Eles lucram, a gente sofre”. Em diversos bairros do Rio de Janeiro, foram espalhados cartazes para expor a responsabilidade das grandes corporações de petróleo pela atual emergência climática. A presença das petroleiras levanta questões cruciais sobre a transição para um futuro sustentável.
“Enquanto uma parte do governo brasileiro participa da Semana do Clima em Nova York, com foco em discutir ações concretas para enfrentar a crise climática, outra parte recebe os principais executivos do setor fóssil do mundo para a “Semana brasileira do petróleo e gás”, afirma o diretor para América Latina e Caribe da 350.org, Ilan Zugman. “O Brasil vem sofrendo alguns de seus piores eventos climáticos extremos, a resposta deveria ser fácil, mas até o momento não é. O país busca protagonismo internacional na agenda climática através do G20 e da COP30, então, chegou a hora de tomar suas decisões”, conclui Ilan.
Os eventos climáticos extremos não se restringem ao Brasil. Recentemente, tempestades incomuns afetaram a Europa Central e Oriental, e o tufão Yagi atingiu 1 o sudeste asiático. “As mudanças climáticas estão gerando consequências severas, e as petroleiras parecem alheias a isso. Na COP28, em Dubai, os países signatários do Acordo de Paris concordaram com a transição energética e se comprometeram a triplicar os investimentos em energias renováveis.
Mas a realidade é que as petroleiras continuam a promover a exploração de combustíveis fósseis, na contramão do que diz a ciência”, alerta Tica Minami, gerente de projetos do ClimaInfo. A situação se agrava com a insistência da Petrobras em explorar petróleo e gás na Amazônia, uma região de altíssima sensibilidade ambiental.
Em Nova York, a conservação da Amazônia é considerada parte essencial da saúde planetária. Já a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, defende perfurar poços na foz do rio Amazonas, fazendo coro com os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, que defendem a exploração “até a última gota”.
“As grandes empresas de petróleo deveriam priorizar investimentos para as soluções energéticas capazes de reduzir a demanda por óleo e gás e incluir em seus planos estratégicos o cronograma e os recursos para descontinuar o uso do petróleo”, diz Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente. “No setor elétrico, essas soluções já são econômicas e operantes por meio de energia solar, eólica e tecnologias de armazenamento. Não há desculpas.”
Um relatório recém divulgado pela Oil Change International e Zero Carbon Analytics, revela que existem pelo menos 86 ações judiciais ativas contra grandes corporações de petróleo, gás e carvão. O número de processos cresceu quase três vezes desde a adoção do Acordo de Paris em 2015, evidenciando um movimento global por responsabilização. Também com foco na resistência, a cidade de Haia fez história ao aprovar na semana passada, de maneira pioneira, uma lei que proíbe a publicidade de combustíveis fósseis e serviços de alto carbono a partir de 1º de janeiro de 2025.