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CIDADES AMIGAS DA CRIANÇA
foto Aline Dassel - Pixabay

CIDADES AMIGAS DA CRIANÇA

(Leitura sugerida aos Prefeitos e Vereadores recém-eleitos)

Regina Márcia Moura Tavares

Como estudiosa do desenvolvimento de nossa espécie HOMO SAPIENS em seus aspectos físicos e culturais ao longo de sua existência no planeta, nos últimos 40 anos venho me dedicando à Ação Cultural “BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE” no Brasil, na América Latina e em vários países da Europa. (Meu livro de mesmo nome com cerca de 100, entre Brincadeiras e Brinquedos, já “tombados” pelo CONDEPACC, está indo para a 3ª. edição, incluindo os documentos extraídos em encontros nacional e latino-americano).

É preciso que se entenda de uma vez por todas que “brincar” na infância não é apenas uma atividade recreativa, mas uma Prática Cultural essencial ao desenvolvimento pleno do Ser Humano que ocorre em todas as sociedades humanas do planeta. Quando apresentam variações na forma, os princípios que as regem são os mesmos, propiciando o pleno desenvolvimento físico, motor, cognitivo, social e afetivo dos recém-chegados à sociedade.

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Os inúmeros trabalhos de especialistas que documentaram, ao longo da história, os Brinquedos e as Brincadeiras de diferentes povos são suficientes para revelar a longevidade dessa atividade infantil, bem como a sua universalidade, garantindo-lhe assim a condição de Cultura Lúdica, Patrimônio Cultural Imaterial Mundial a ser preservado para que o Ser Humano possa enfrentar melhor os desafios em sua caminhada histórica.

Num mundo cada vez mais globalizado e digitalizado, nas brincadeiras e no ato de construir brinquedos coletivamente, além dos benefícios para a saúde orgânica, mental e bem-estar emocional a criança tem oportunidade de entrar em contato com a história, os valores e as tradições de seu povo, bem como conectar-se com a natureza e os seus iguais. Aquela que se envolve mais com jogos eletrônicos individuais, através das Brincadeiras Coletivas e Colaborativas – o brincar real” fortalece os laços sociais e desenvolve habilidades de comunicação, resolução de conflitos e resiliência.

Posso dizer que a Ação Cultural que venho desenvolvendo tem tido o mérito de envolver diferentes gerações permitindo que adultos e jovens compartilhem brincadeiras de sua infância com as crianças; inclusive, vem valorizando os idosos, nem sempre reconhecidos como detentores de parte da memória da sociedade em que vivem.

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Considerada a importância da PRESERVAÇÃO DA CULTURA LÚDICA DA INFÂNCIA, o que fazer para termos CIDADES AMIGAS DAS CRIANÇAS, efetivamente?

Tenho alguma sugestão para políticas públicas:

  • Criação de Espaços Públicos de Brincar, inclusive também adequados para crianças com deficiência, a saber:
  • Praças Lúdicas e Parques Infantis com permanente manutenção que incentivem o brincar livre;
  • Parques Culturais que integrem atividades lúdicas com elementos culturais regionais, promovendo a criatividade e a socialização;
  • Fechamento de ruas para veículos, em determinados horários ou dias, onde as crianças possam brincar em segurança com a vizinhança.
  • Educação para a Ludicidade:
  1. Formação de Educadores Lúdicos para professores e educadores em geral, com programas focados na importância do lúdico no processo de aprendizado, desenvolvimento cognitivo, motor e outros.
  2. Incentivo ao Brincar nas Escolas com programas como parte do currículo escolar.
  • Festivais e Espaços de Cultura Lúdica:
  1. Eventos anuais que celebrem a Infância com brincadeiras tradicionais locais, provendo o resgate da Memória e da Cultura Popular;
  2. Museus e Centros de Cultura Infantil.
  • Participação Infantil na Gestão Pública:
  1. Conselhos Infantis para a garantia de que as crianças sejam ouvidas em projetos urbanos e educacionais que influenciem diretamente o seu dia a dia.
  • Sensibilização das muitas Comunidades da Sociedade:
  1. Promoção de campanhas de conscientização sobre a importância do BRINCAR para o desenvolvimento integral do ser humano, envolvendo pais, cuidadores, área da saúde, da mobilidade urbana, ongs, associações de bairro.

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Finalmente, permito-me propor que tais ações das Administrações Públicas sejam acompanhadas por uma Legislação de Proteção ao Tempo de Brincar, a qual assegure o direito das crianças ao TEMPO LIVRE, limitando a carga horária escolar e/ou as atividades extracurriculares que prejudiquem o tempo necessário às atividades lúdicas necessárias à criança. (Observo que o Esporte não substitui a Brincadeira Livre e Espontânea).

Tenho como certo que se as nossas Cidades levarem em conta a importância da CULTURA LÚDICA DA INFÂNCIA para o desenvolvimento de um ser humano menos problemático e destrutivo relativamente a si mesmo, ao seu entorno e ao seu habitat natural, estarão simultaneamente contribuindo para a autopercepção da criança como Criadora de Cultura, condição essencial ao exercício de uma Cidadania Plena na fase adulta.

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Regina Marcia_500X500Regina Márcia é antropóloga, profa. universitária aposentada, escritora, conferencista, membro da ACL, do IHGGC e demais entidades culturais

www.reginamarciacultura.com.br

Reg3mar@gmail.com

 

 

Sobre ASN

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