Por Eduardo Gregori
Eu já havia escrito tudo que vi e vivi durante esta pandemia em Lisboa. Fui do lockdown à reabertura gradual. Seis meses se passaram, fronteiras fecharam e reabriram. Chegou o verão, guerra por turistas, poucos vieram e quem veio teve de voltar correndo para não ficar 14 dias em casa.
Controlamos bem a curva, ficamos em casa durante três meses e o governo bancando parte dos salários de quem entrou no sistema de apoio, aqui chamado de Lay Off.
Os bares e as discotecas tiveram de se reinventar ou decretar falência. O Finalmente, uma casa tradicional no bairro do Principe Real, decidiu virar uma espécie de lanchonete. A pista de dança, outrora lotada de gente do mundo inteiro, agora tem umas poucas mesas e são servidos cafés, chás, salgados e doces. Transformistas se revezam no palco como antes, mas agora sem gritos e sem aglomeração e em um horário bizarro para a casa. Antes, a noite começava às 2h30 da manhã, agora, fecha às 23h.
Quem não virou lanchonete está fechado. No Bairro Alto, reduto da boemia que vive 24 horas por dia, uma sombra paira. Muitos não reabriram e os poucos resistem com turistas minguados e os jovens cansados de estar dentro de casa. A mesma cena acontece no Cais do Sodré.
A Rua Rosa, antes uma mar de gente e de garrafas de cerveja espalhadas pelo chão, agora é um deserto. A vida por ali só vai até às 23h para quem decidiu reabrir com as determinações do governo.
Na margem do Tejo, na região mais nobre da cidade, casas noturnas que reuniam a sociedade, turistas e as celebridades, agora são apenas um eco do passado. Umas poucas conseguem fazer eventos no fim da tarde, com vista para o rio. Outras, mais longe da margem, nem reabriram.
E neste compasso para quem ainda nem retomou a vida, o ano segue e agora com a retomada das aulas presenciais e com a volta ao trabalho após o tradicional agosto de férias. O resultado não podia ser outro: aumento de casos de Covid-19. A curva de contaminados que estava pequena fez meia volta e parece que estamos de novo no começo disto tudo. E não é só aqui: Espanha, França, Alemanha, Reino Unido…
O primeiro-ministro entrou em rede nacional para anunciar novas medidas e vamos ter mais restrições novamente e não vamos abandonar as que estão em vigor. António Costa diz considerar o fechamento novamente dos shopping centers se o número de casos subir muito além do previsto. Entretanto, disse que a União Europeia não tem mais condições de decretar outro lockdown. Seria a falência e a morte da economia dos países do bloco europeu. “Não podemos parar”, disse ele.
Eu chego ao fim dos meus relatos sobre a pandemia em Portugal porque entendi que a tão temida segunda onda na verdade é o que já estamos vivendo, melhor dizendo, já estamos convivendo com o vírus e a questão de ser contaminado parece-me mais como uma loteria.
Se tiver sorte escapa e se não tiver, pega. Desculpem-me se parece ser um registro desanimador, mas pelo menos é real. Vamos ter de (con) viver com o inimigo até que uma vacina de fato eficaz consiga eliminá-lo do nosso cotidiano.