Uma barqueata, com a colocação de cruzes no leito do rio, para marcar o estado de desolação das águas, encerrou no fim da manhã deste domingo, 9 de novembro, no distrito de Sousas, em Campinas, a a 17ª edição do Reviva o Rio Atibaia. A edição deste ano foi marcada pela crise histórica dos recursos hídricos no estado de São Paulo, e particularmente nas bacias do Alto Tietê, na Grande São Paulo, e bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), na região de Campinas. O Reviva o Rio Atibaia de 2014 reforçou a importância da Área de Proteção Ambiental (APA) de Campinas e o Plano Local de Gestão Urbana da Macrozona 1 para o futuro das águas na região.
Além da barqueata, houve distribuição de mudas de árvores em tubetes, Maquete Dinâmica, Arte e Ciência e Árvore do Saber na Praça Beira Rio, Espaço Saúde e Qualidade de Vida e a Exposição Fotográfica Olhares sobre a APA, a partir das 9 horas, em Sousas. O Reviva o Rio Atibaia é o mais antigo evento ambiental em atividade no estado de São Paulo, fruto da parceria entre Jaguatibaia – Associação de Proteção Ambiental, Associação de Remo de Sousas e Laboratório MSD.
O rio Atibaia é um dos mais impactados pela construção do Sistema Cantareira, o conjunto de reservatórios que abastece metade da Grande São Paulo e que já está no uso do que resta do seu Volume Morto. Estes reservatórios são formados na divisa de Minas Gerais e São Paulo, nas nascentes dos rios Atibaia e Jaguari.
O estudo “Análise de séries temporais de vazão e de precipitação na Bacia do Rio Piracicaba) realizado por pesquisadores do Centro de Energia Nuclear da Agricultura (CENA), órgão da USP localizado em Piracicaba, comprovou que as vazões médias do rio Atibaia, um dos principais formadores da bacia do rio Piracicaba, foram reduzidas após a entrada em operação do Cantareira, em 1974.
Os pesquisadores (Juliano Daniel Groppo, Luiz Carlos Eduardo Milde, Manuel Enrique Guamero, Jorge Marcos de Moraes e Luiz Antonio Martinelli) compararam as vazões de 1975 a 1996 com as de 1947-1974, em três pontos de medição, e concluíram que elas caíram entre 14,5 e 18,5% após 1974.
“A comparação do comportamento dos rios com e sem a influência do Sistema Cantareira e a análise dos períodos em que as mudanças ocorrem sugerem que a retirada de água da bacia para o abastecimento da Grande São Paulo é a mais provável causa da tendência negativa na vazão”, concluem os autores.
Reviva – O movimento Reviva o Rio Atibaia nasceu no âmbito do processo de criação e estruturação da APA de Campinas. A Jaguatibaia – Associação de Proteção Ambiental lançou em 1997 o Reviva o Rio Atibaia, em parceria com a Associação de Remo de Sousas e Merck Sharp & Dohme. O Reviva retomou o debate sobre a APA. Na segunda edição, em 1998, foi realizado o fórum Resgate do Plano Gestor da APA. A mobilização se intensificou nas edições seguintes e, a 7 de junho de 2001, durante a Semana do Meio Ambiente, o prefeito Antônio da Costa Santos sancionou a Lei 10.850, criando a APA de Campinas, englobando os distritos de Sousas e Joaquim Egídio e também a região a nordeste do município localizada entre o distrito de Sousas, o Rio Atibaia e o limite intermunicipal Campinas-Jaguariúna e Campinas-Pedreira.
Definições apropriadas sobre o Plano de Manejo da APA são essenciais para o futuro com qualidade de vida da região. A captação de água para Campinas, responsável por mais de 90% do consumo na cidade, está localizada no Atibaia, em Sousas, a poucos metros de onde a barqueata de hoje foi encerrada com cruzes no leito do rio. Um protesto e um chamado à ação. (Por José Pedro Martins)