São dois monstros sagrados da literatura e da cultura ocidental, marcos da crítica de inspiração marxista do século 20, unidos no mesmo livro. Em celebração aos 125 anos de Walter Benjamin, a Boitempo publica “Ensaios sobre Brecht”, coletânea traduzida diretamente do original em alemão. A edição vem acrescida de um posfácio de Rolf Tiedmann, textos complementares de Sérgio de Carvalho e de José Antonio Pasta, orelha de Iná Camargo Costa, além de uma cronologia casada de Benjamin e Brecht e uma bibliografia recomendada sobre Brecht. A obra integra a coleção “Marxismo e literatura”, coordenada por Michael Löwy.
“Ensaios sobre Brecht” estabelece um diálogo extremamente atual entre duas grandes mentes do século 20 – dois exilados, dois alemães – ao apresentar a coletânea dos escritos de Walter Benjamin sobre a obra dramática e poética de seu amigo Bertolt Brecht, produzidos entre 1930 e 1939. Brecht e Benjamin se conheceram em meados da década de 1920, na Alemanha. Ambos marxistas, comprometidos com o potencial emancipatório das práticas culturais, divergiram e concordaram em tópicos tão variados como o fascismo e a obra de Franz Kafka. Confrontados com a subversão nazista da República de Weimar e a degeneração stalinista da revolução na Rússia, lutaram para manter vivas as tradições da crítica dialética da ordem existente e da intervenção radical no mundo. Estimulado pela teorização de Brecht sobre técnicas dramáticas, como o famoso “efeito de estranhamento”, Benjamin desenvolveu suas próprias ideias sobre o papel da arte e do artista em uma sociedade movida à crise.
Antes dessa edição, apenas alguns dos ensaios haviam sido publicados no Brasil, em coletâneas com textos diversos de Benjamin. Trata se de um conjunto de escritos essencial para os interessados na obra brechtiana, que reforça a redescoberta para além do dramaturgo, encenador e escritor – o ator político, pensador da produção artística e intelectual, crítico dos intelectuais e agente prático da crítica ao capital.
O volume contempla introduções de Benjamin à teoria de Brecht, o teatro épico e comentários de 12 poemas escritos por Brecht. Benjamin também discute algumas questões sobre Marx e a sátira em peças como A mãe, Terror e miséria do Terceiro Reich e Ópera dos três vinténs. O leitor ainda encontrará o ensaio “O autor como produtor” e trechos dos diários de Benjamin – a princípio, não destinados à publicação. Esse material registra sua intensa troca com Brecht nas visitas que fez a ele durante seu exílio na Dinamarca, versando sobre os mais variados temas, da obra de Franz Kafka aos problemas do trabalho literário à beira da guerra internacional. A edição vem acrescida de posfácio escrito por Rolf Tiedemann para a primeira edição de Versuche über Brecht, de 1966; e escritos de Sérgio de Carvalho e de José Antonio Pasta sobre a atualidade e a qualidade da obra cênica de Brecht, originalmente publicados na edição n. 0 da revistaVintém, editada pela Companhia do Latão.
Trecho – “[Brecht] licencia-se de sua ‘obra’ e, como um engenheiro que começa a realizar perfurações para descobrir petróleo no deserto, assume suas atividades no deserto do presente em pontos meticulosamente calculados – o teatro, a anedota, o rádio […]. Não se proclama renovação; planeja-se inovação. Aqui, a literatura não espera mais nada do sentimento de um autor que, desejoso de mudar o mundo, não tenha se aliado à sobriedade. Ela sabe que a única chance que lhe restou é tornar-se produto secundário num processo muito ramificado para a mudança do mundo.” – Walter Benjamin
Sobre Walter Benjamin – Filósofo e crítico literário, nasceu em Berlim em 1892 e se suicidou em 1940, na fronteira da França com a Espanha, durante uma tentativa de fuga dos nazistas. A retirada da defesa de sua tese de habilitação, “A origem do drama barroco alemão”, o impediu de exercer a docência universitária na Alemanha. A partir de 1924 descobriu o marxismo,e se tornou simpatizante do movimento comunista. Foi associado à Escola de Frankfurt, o Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, criado em 1923, e seus principais escritos versam sobre o materialismo histórico, a estética e a arte, o idealismo alemão e, de maneira geral, o marxismo ocidental. Em seus ensaios, combina referências literárias e artísticas com filosofia e sociologia. Em 1933, com a tomada do poder pelos nazistas, exilou-se na França. Teve contato próximo com Theodor Adorno, Max Horkheimer, Gershom Scholem, Bertolt Brecht e Hannah Arendt. Seu último escrito, as teses “Sobre o conceito de história”, de 1940, associa o materialismo histórico ao messianismo revolucionário. Sua obra, de caráter fragmentário e ensaístico, foi parcialmente publicada em coletâneas no Brasil, incluindo Passagens (Imesp, 2006) e três volumes de Obras escolhidas, pela Brasiliense: Magia e técnica, arte e política (1985), Rua de mão única (1987) e Charles Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo (1989). Dele, a Boitempo publicou O capitalismo como religião (2013
Ficha Técnica
Título: Ensaios sobre Brecht
Título original: Versuche über Brecht
Autor: Walter Benjamin
Tradução: Claudia Abeling
Posfácio: Rolf Tiedmann
Textos: José Antônio Pasta e Sérgio de Carvalho
Orelha: Iná Camargo Costa
Páginas: 152
Preço: R$ 39,00
ISBN: 978-85-7559-566-4
Editora: Boitempo
Coleção: Marxismo e literatura
Apoio: Instituto Goethe