Por Eduardo Gregori
Eu teria muito a falar de Lisboa, do quão linda e apaixonante esta cidade é. De seus velhos casarios, da acolhedora Baixa Chiado, da multidão de turistas, da noite de vinhos no Bairro Alto, dos drinques no Cais do Sodré, na moderna região da Expo, das casas de fado, da calçada em pedras portuguesas dedicada a Amália em Alfama, da cena eletrônica ou da industrial paisagem na LX Factory.
Mas, ao fechar 2018, vejo que ainda não deu tempo de conhecer nem 10% da verdadeira cidade que Lisboa é. E não me culpo por isso. Eu imigrei para trabalhar, para pagar minhas contas no fim do mês, enfim, para viver, o que infelizmente não estava dando certo no Brasil. Isso sem falar da desesperança que se instalou no país. No meu caso também o medo pelo aumento da violência contra pessoas LGBT.
Tenho assistido muitos vídeos de brasileiros que se mudaram para cá e estão a voltar por não conseguirem se estabelecer. Mas outras centenas de vídeos mostram pessoas que, assim como eu, estão firmes e fortes em sua decisão de, pelo menos por um tempo, não regressar ao Brasil para morar e aqui estão a construir uma nova vida.
O conselho de quem está aqui para os que chegam é que temos, pelo menos por um tempo, ter uma vida mais regrada financeiramente. Se você vem pensando em comprar um carro pagando apenas 100 euros por mês, ou poder viajar para países próximos, esqueça, você estará condenado a pegar suas malas e voltar logo que o dinheiro acabe.
Aqui viemos para recomeçar do zero. Aqui não sou o Eduardo Gregori, editor do Correio Popular que era paparicado por que viajava o ano todo ou podia publicar uma reportagem. Aqui sou mais um na multidão. E confesso, essa vida real é muito mais interessante e verdadeira.
Mas quem disse que não posso viajar? Claro que sim. Daqui a alguns meses completo um ano em meu novo emprego e sairei de férias e, diferente do Brasil, aqui recebemos 100% do salário no mês de férias. Ou seja, é uma questão de ser paciente e esperar a sua hora chegar. Já caminhei um pouco, não posso negar. Fui ao sul, passei por Quarteira, Portimão e Albufeira, no norte fui a Coimbra, Figueira da Foz, Leria e ao Porto. Quantos lugares lindos. No meio disso fui à Espanha, Itália e Croácia.
Mas a vida de imigrante não é só desfrutar. A passagem de ano estive a trabalhar e não pensem que invejei estar na Praça do Comércio a ver os fogos de artifício iluminarem o Arco da Rua Augusta. O som de taças a brindar 2019 ouvi mesmo dentro de uma redação que funciona 24 horas por dia. Mesmo longe de meu marido, com quem divido minha nova vida neste lado do Atlântico, nunca passei uma noite de ano-novo tão feliz.
Feliz por ter chegado aqui e construído minha nova vida literalmente do zero. O que trouxe do Brasil foram minhas roupas, computador e só. Montei meu apartamento também do zero. Eletrodomésticos, móveis, roupas de cama, mesa e banho, tudo tive que comprar aqui e é um gasto que demora a reduzir, porque vem o Verão e vai dinheiro para um ventilador, gasta-se mais em banhos e vem o Inverno, gastos com o aquecedor, aumento no consumo elétrico, banhos mais quentes, mais gastos com o gás e por aí vai.
Hoje meu lar aqui é tão aconchegante quanto meu apartamento de Campinas. Só faltam os amigos e a família para completar. Mas nada na vida é por completo. Fica a saudade e a espera de um dia poder reencontra-los. Enquanto isso vamos criando laços com outras pessoas, fazendo amizades e conquistando nosso novo espaço.
A todos, um feliz 2019, cheio de realizações e que todos desafios que este ano promete sejam superados.