A fachada inteiramente coberta com lambe-lambes em tons de rosa e verde flúor entrega o conteúdo: o prédio é dedicado às artes. Assim, desde a calçada, onde o público pode apreciar a obra do muralista Haroldo Paranhos (do Coletivo SHN, de Americana, SP), o Instituto Pavão Cultural anuncia a que veio. O mais novo espaço das artes de Campinas será inaugurado no dia 28 de fevereiro. Será no fervilhante distrito de Barão Geraldo, que protagoniza grande parte da cena cultural e artística local.
“Verificamos que em Campinas existem muitas iniciativas culturais esparsas e poucos espaços equipados para recebê-las. A ideia foi criar uma extensão da nossa casa para receber os amigos com arte e cultura”, conta a arquiteta Teresa Mas que, em sociedade com o também arquiteto Mario Braga, é a criadora do Instituto.
A inauguração será com a vernissage da mostra coletiva de fotografia “Diverso/Diversão”. “O tema pretende instigar a uma reflexão sobre a fotografia, a busca e captação de imagens, sobre o que é o ócio ou lazer nas diferentes perspectivas dos artistas e na diversidade do mesmo tema”, explica Teresa, que divide a curadoria com Braga. Participam da exposição inaugural os fotógrafos Ana Angélica Costa e Hélio Carvalho, de Campinas; Durville Cavalcanti, de São Paulo; Ivan Moretti,de Piracicaba, e Renato Araújo, de Bauru, residente em Nova Iorque, EUA. A mostra tem entrada gratuita e fica no local até 13 de abril (confira detalhes na ficha de serviço, ao final do texto).
Os arquitetos – paulistanos residentes em Campinas há 20 anos e que acumulam mais de 30 de experiência não apenas em diversos setores da Arquitetura, mas também em Expografia (conjunto de técnicas para o desenvolvimento de uma exposição) – conceberam o Pavão como um local para fruir a arte em suas diferentes linguagens. Além de ampla área de exposição com suporte para obras de grande porte, haverá, em breve, um pequeno palco para apresentações.
O andar superior da construção com imenso pé direito soma-se ao espaço expositivo e também acolherá oficinas que o Instituto promoverá em parceria com artistas. “Teremos ainda a colaboração do José Renato Braga, especialista em jogos de tabuleiro, que trará jogos específicos voltados para o universo das artes plásticas, com temas relacionados à História da Arte, colecionismo e outros que promovem o raciocínio espacial e a observação de estruturas”, comenta Teresa.
Outra vertente do Pavão é a pedagógica, com um departamento focado em atividades que visem a formação e a diversificação do público das artes. “A ideia é possibilitar a crianças e jovens o acesso ao conhecimento sensível por abordagens diversas do espaço escolar, com oficinas práticas e visitas mediadas por profissionais de educação e artistas às exposições”, explica a Arte-educadora e coordenadora Educativa do Instituto, Paula Monterrey, que atua em educação-não formal e em projetos educativos em exposições em Campinas e São Paulo.
Segundo Paula, os agendamentos para as atividades podem ser realizados por qualquer professor ou coordenador pedagógico de escolas públicas ou privadas do ensino básico ou de instituições de assistência social (confira os contatos ao final do texto). Parcerias com as Secretarias Municipais de Educação serão realizadas ao longo do funcionamento do espaço, diz ela.
Vendas – A maioria das obras expostas poderá ser comprada, afirma Teresa, com exceção das que eventualmente vierem cedidas de outros acervos (consultar informações no espaço). “O visitante poderá reservar as obras à venda mediante um sinal e recebê-las ao final da mostra. Se forem reproduções (fotografias, gravuras) e houver uma cópia, o comprador poderá levá-las na hora. Manteremos um catálogo virtual das obras disponíveis, e, para cada uma delas, serão fornecidos um recibo e a ficha técnica elaborados pelo próprio artista. Eles mesmos estabelecem suas condições de venda e pagamento, nós apenas intermediaremos”, explica a proprietária.
Está nos planos uma lojinha que comercializará principalmente itens personalizados com a logomarca do Instituto, além de reproduções de obras em artigos como cadernos, lápis, ímãs, camisetas e pôsteres – mediante autorização dos artistas. “Também pretendemos ter uma curadoria de peças autorais, como joias, bijuterias, cerâmicas, objetos decorativos etc., desenvolvidas por artistas convidados”, explica Teresa. Futuramente, um café funcionará para servir bebidas e comidinhas aos visitantes durante as mostras.
Funcionamento – A ideia é que o Instituto Pavão receba quatro exposições ao ano, com duração aproximada de dois meses e períodos para desmontagem e remontagem entre elas, informa Teresa. Durante os intervalos, a meta é promover eventos especiais. E a segunda mostra já está confirmada: será uma individual do artista plástico Sérgio Niculitcheff, prevista para o início de maio. “O trabalho do Sérgio é de pintura acrílica sobre tela em grandes dimensões. Ele é professor do Instituto de Artes da Unicamp e essa exposição será uma oportunidade para que exponha peças grandes que dificilmente têm espaço em outras galerias”, comenta.
O Instituto abrirá ao público de quarta à sexta-feira, das 13h às 20h, e aos sábados, das 11h às 17h. “Fora desses horários poderemos atender com hora marcada, inclusive para visitas guiadas a exposições para grupos. As oficinas, palestras e espetáculos terão horários, datas e divulgação específicas. Pretendemos ter uma agenda semanal de apresentações cênicas às quintas-feiras, por volta das 20hs. Essa agenda será montada a partir de março, para entrar em operação em abril”.
O público – O maior objetivo do Pavão é oferecer conteúdo variado para facilitar o acesso às artes a um amplo perfil de público. “Quanto ao recorte das exposições e manifestações artísticas que sediaremos, não será nem eclético nem específico; usaremos nossa bagagem e repertório cultural, junto com os nossos colaboradores, para selecionar trabalhos e artistas que acreditamos terem qualidade”, define.
“Se temos alguma pretensão, no sentido egóico da palavra”, continua ela, “é justamente criar e fomentar um público de arte. Muita gente viaja e vai a museus e galerias, exposições de artistas consagrados têm filas enormes nas portas; mas como se forma um artista? Que caminhos tomou? Quem define o que é arte? Posso ter uma obra de arte em casa? É caro? É bonito? Tudo isso se aprende visitando espaços de arte, conversando com artistas, observando o mundo ao redor, educando o olhar. As visitas guiadas e as oficinas são pensadas para isso e as nossas exposições terão entrada gratuita”, anuncia.
A origem e as razões
E porque investir num espaço dedicado às artes em um País que segue trilhando caminho inverso à valorização da cultura no campo institucional? Teresa aposta na trajetória do casal e na confiança de que isso é mais necessário do que nunca. “A formação do arquiteto é técnica, mas também profundamente humanista; arte e cultura sempre estiveram no nosso dia-a-dia. Como dizia uma amiga mineira, “fomos criados nesse costume”. E achamos que poesia e arte são artigos de primeira necessidade, cada vez mais”.
A história do nome Pavão (bem como a da própria concepção do espaço) merece ser contada porque envolve um significativo representante das artes no Brasil: João Baptista da Costa Aguiar, um dos maiores designers gráficos do País, celebrizado como capista e falecido em 2017 (é dele o famoso logo da editora Cia. das Letras. Para a Prefeitura de São Paulo, Aguiar criou a logomarca da cidade, a identidade visual da Secretaria Municipal de Cultura e a padronização da frota de ônibus do transporte público na gestão Luiza Erundina).
“A partir de uma montagem para a exposição de trabalhos do João no Instituto Tomie Othake, em 2007, o Mário passou a ser chamado para outras montagens expográficas no Brasil e no exterior; assim foi criada a empresa Pavão Arquitetura e Expografia, embrião do Instituto Pavão Cultural”, narra Teresa. O sócio completa: “o João criou o logo da empresa desenhando num guardanapo de bar”, diverte-se Braga.
Histórico dos proprietários – Teresa Mas é arquiteta formada pela FAU-USP em 1983. Após a graduação, estudou em Barcelona, Espanha. De volta ao Brasil, trabalhou em vários escritórios de Arquitetura com perfis e projetos diversos nos setores comercial e residencial. Em Expografia, fez parte das equipes da Arquiprom e Expomus, duas empresas com grande expertise na área. Em 1994, com o arquiteto Ronald Cavaliere, projetou e montou duas grandes mostras na Fundação Bienal de São Paulo. Em 1998 veio morar em Campinas e montou escritório próprio, mantendo a maior parte da clientela na capital do Estado. Sempre trabalhou desenhando mobiliário e peças de design autoral e em 2017 criou a PURA Atelier, marca de pequenos móveis e peças decorativas com interesse em inovação e resignificação de materiais tradicionais.
Mário Braga é arquiteto formado pela FAU-Belas Artes em 1985. Ainda na faculdade, trabalhou no Laboratório de Habitação da Belas Artes, que foi embrião do Laboratório de Habitação da Unicamp e, posteriormente, da USINA – Centro de Trabalhos para o Ambiente Habitado. Por muitos anos atuou em projetos e obras de habitação de interesse social, ambiente em que desenvolveu linguagens de comunicação entre a equipe técnica multidisciplinar, a população e os gestores públicos – linguagem essa que foi tema de sua tese de mestrado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP (IPT). Paralelamente, foi professor de Projeto na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) por 20 anos. A partir da montagem da mostra de João Baptista da Costa Aguiar, há 12 anos, criou a empresa Pavão Arquitetura e Expografia, embrião do Instituto Pavão Cultural.
SERVIÇO
Instituto Pavão Cultural
Endereço: Rua Maria Tereza Dias da Silva, 708, Cidade Universitária, Barão Geraldo. Campinas, SP.
Telefone: (19) 3397-0040 (atendimento das 10h às 18h)
Facebook e Instagram: @pavão cultural
Para agendamento de atividades e visitas mediadas para escolas e entidades de assistência social: educativo@pavaocultural@org ou (19) 99118-0337 (com Paula Monterrey)
Mostra Diverso/Diversão (coletiva, fotografia)
De 28 de fevereiro (vernissage para convidados) a 13 de abril, de quarta à sexta-feira, das 13h às 20h, e aos sábados, das 11h às 17h.
Artistas participantes: Ana Angélica Costa, Campinas (Paisagens Desobjetivas – fotografia analógica com a técnica pin hole); Durville Cavalcanti, São Paulo (Praias – fotografia digital em preto e branco); Hélio Carvalho, Campinas (Street people – fotografia digital em preto e branco); Ivan Moretti, Piracicaba (Multipli(cidade) – fotografia digital a cores com objetiva aberta) e Renato Araújo, Bauru, radicado em Nova Iorque, EUA (Portfólio – fotografia digital com tratamento cromático).