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LISBOICES: Cada dia mais isolado
"O desejo é que o meu país possa proteger a sua população, principalmente a mais frágil" (Foto Eduardo Gregori)

LISBOICES: Cada dia mais isolado

Por Eduardo Gregori

Em Lisboa o cerco vem se fechando contra quem tenta burlar o Estado de Emergência. Na televisão já se fala que a medida deverá ser estendida uma ou duas vezes, o que vai nos prender em casa até o fim de abril. Nada confirmado oficialmente, mas como nos aproximamos para o fim dos 15 dias desde quando foi decretado pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mais cedo ou mais tarde saberemos da decisão.

As medidas do governo contra o novo coronavírus conseguiram adiar o pico da contaminação. É verdade que já estamos no período de mitigação, quando há transmissão comunitária e não apenas de quem chega do exterior. Momento tenso em que qualquer pessoa é um potencial transmissor. Isso causa um sentimento estranho quando é preciso ir ao supermercado. Quando se vê alguém, cruza-se a rua e vê-se nos olhos das pessoas o desconforto de estar próximo.

A ministra da Saúde, Marta Temido e a diretora da Direção Geral de Saúde (DGS), Graça Freitas comemoram o que definem como “planalto” na curva da contaminação, que seguia apenas para cima e, que aos poucos, vai se estabilizando. Mas lembram que do final de abril até meados de maio chegaremos ao topo. E é justamente nesta época que deveremos ter um apagão nas ligações aéreas. Muitas companhias já avisaram que vão manter suas frotas 100% no chão. De fato, vamos ficar isolados do mundo.

Lisboa, que já estava fechada, mergulha ainda mais fundo no confinamento. No último final de semana a Guarda Nacional Republicana (GNR) fez uma operação na Ponte 25 de Abril. Quem trabalha ou vive na Margem Sul do Tejo pode seguir viagem. Quem não tinha uma explicação convincente teve de voltar para Lisboa.

A medida tem como fundamento principalmente evitar o acesso para as praias mais desertas na Costa da Caparica. Justamente por serem mais remotas, muitos pensaram que podiam escapar ao cerco da polícia. No entanto, as autoridades se anteciparam e é justamente as praias mais distantes que estão sendo vigiadas por drones.

Hoje começam as férias de muitos portugueses e, por isso, a polícia se antecipou para frear quem pretendia ir de Lisboa para o Algarve. Ainda há muita gente a pensar que estamos em férias e não em confinamento obrigatório.

A televisão mostra a costa algarvia, a preferida dos ingleses que migram para o sul de Portugal em busca do sol, do calor e de águas mornas. Ao vivo, o que se vê são quilômetros de praias vazias e nem mesmo os surfistas se atreveram a colocar suas pranchas na água.

Drones sobrevoam as areias e a polícia está na rua de momento para orientar sobre a importância de ficar em casa, mas essa medida deve endurecer com o anúncio da prorrogação do Estado de Emergência. Ventila-se que quem sair a rua sem necessidade vai mesmo ser multado e poderá responder a processo criminal. Só não irá preso porque Portugal estuda a sugestão da ONU em libertar prisioneiros mais vulneráveis.

Hoje, em plena segunda feira, a polícia fez outra operação, mas nas entradas de Cascais e de Sintra. Quem vive ou trabalha nestas cidades passou. Quem não se enquadrava nesta regra, a única saída foi dar meia volta e se meter em casa. A GNR diz que este tipo de blitz vai se manter e acontecer de surpresa, justamente para que as pessoas não tenham a falsa impressão de que talvez possam escapar do controle policial.

Assistimos com preocupação as decisões do governo brasileiro, principalmente por que aqui, onde o confinamento está cada dia mais restrito, conseguimos escapar, por enquanto, da catástrofe que está a passar em Espanha. E mesmo assim, registra-se com tristeza a contaminação e morte da população mais velha, em grande parte nos lares de idosos.

A imprensa lusa prevê que o Brasil será o próximo epicentro da pandemia se seguir para o fim do isolamento. O coração aperta e peço minha mãe que aproveite cada espaço do meu apartamento em Campinas. Ela já teve pneumonia, foi fumante e tem pressão alta: uma bomba relógio pronta para explodir se for contaminada.

Esta é a nossa realidade lisboeta e, para quem vem do Brasil como eu, o desejo é que o meu país possa proteger a sua população, principalmente a mais frágil. Só assim, e com muita esperança, possamos voltar ao que chamamos de vida normal.

contato: info@euporai.pt

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Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal