Por Eduardo Gregori
Viver em Lisboa é para os fortes. A Cidade das 7 Colinas, Meca de turistas dos quatro cantos do mundo destrói muitos sonhos. Os prêmios de destino mais desejado da Europa que Lisboa vem ganhando anos e anos colocaram a cidade quase que no mesmo patamar de Veneza.
Me lembro que quando tinha de cruzar a Ribeira das Naus da Praça do Comércio até o Cais do Sodré, me sentia sufocado com tanta gente pelas ruas. O problema do turismo de massa elevado à potência máxima é que ele vai tirando do mercado imóveis de aluguel para residentes, vai elevando o preço dos serviços e alimentos, principalmente perto das zonas turísticas e vai enlouquecendo as pessoas que trabalham diretamente com quem chega à capital lusa seja em bares, restaurantes e lojas.
E o salário? Bem, este vai perdendo o fôlego para quem é de fora e paga sempre mais. Vi isso acontecer de perto. Um amigo que há muito luta por um lugar ao sol ficava mais no trabalho do que em casa. Com turistas quase que 24 horas por dia nas ruas, difícil era ir embora do trabalho e descansar para mais um dia.
O casamento acabou e a sua vida virou um ciclo vicioso entre casa e trabalho. Quando já estava demasiado cansado e perturbado pelo barulho do Bairro Alto, foi despedido. E veio a pandemia, que o deixou completamente sem dinheiro, mas trouxe-lhe descanso.
Com o tempo o descanso virou preocupação de onde tirar dinheiro para sobreviver em uma cidade cara e com um mercado de trabalho tão agressivo. Com o desconfinamento ele conseguiu trabalho, mas só para lhe dar algum fôlego financeiro.
Pelo whatsapp ele me diz que fica mais quatro meses na cidade. Está de partida para o norte em uma região quase remota. Conseguiu comprar uma pequena quinta e vai viver com os pais.
É estranho ver uma pessoa, que era a cara do Bairro Alto, que lidava com celebridades portuguesas, brasileiras e europeias, deixar o brilho da cidade para trás, é como se apagasse uma das muitas luzes que Lisboa emana à noite.
Outro amigo que chegou da Espanha há um ano também está de partida. Seu sonho era viver em Lisboa e aprender português. Chegou da Galícia com toda garra do mundo e mesmo com um salário razoável conseguiu apenas viver em um quarto na casa de uma família acolhedora que imigrou da Venezuela.
Mas onde está Lisboa, cantada por Amália Rodrigues e até por Madonna. Onde estão seus fados, suas festas populares, sua gente alegre e suas comidas deliciosas?
Isso talvez seja para os turistas e para quem tem mesmo dinheiro. Quem não tem vai se esconder em um quarto bem distante do coração da cidade e vai viver entre o trabalho e a cama.
Paco, meu amigo, vai para Madri em 15 dias e vai triste com sua desilusão lusa. A pandemia acelerou todas estas frustrações, principalmente para quem trabalha com turistas ou com grande público.
Estamos reabrindo, é verdade, mas já é tarde para muita gente. O coronavírus foi o estopim para quem já estava cansado de lutar. Já havia dentro de muitas pessoas uma bomba relógio, pronta para explodir e o vírus apenas acendeu o pavio.
A pandemia vai mudar muito mais do que o fato de termos de usar máscaras, álcool gel e manter o distanciamento social. Ela está a mudar muitas coisas nas cabeças das pessoas como meus amigos.O vírus foi um empurrão para que acordassem depois de uma luta insana e inglória que é, para muita gente, viver em Lisboa.
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