Por José Pedro Soares Martins
A pandemia de Covid-19 motivou uma mobilização sem precedentes do setor de pesquisa e desenvolvimento em escala internacional e com o polo científico e tecnológico de Campinas não foi diferente. Universidades, centros e institutos de pesquisa e startups direcionaram grande parte de seus recursos para combater o novo coronavírus.
Unicamp na linha de frente
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está na linha de frente contra o SARS-CoV-2 desde o primeiro momento. Mesmo com o cancelamento das aulas presenciais e diminuição de muitas atividades, em função dos protocolos de combate à pandemia, pesquisas continuaram, assim como tem sido fundamental o papel do Hospital de Clínicas e outros serviços médicos da Universidade para atender as vítimas da Covid-19.
A Unicamp também se preparou para a realização de diagnósticos em massa da população, em Campinas e municípios da RMC e outras regiões. Dezenas de milhares de testes RT-PCR foram realizados com os kits desenvolvidos na Universidade, tendo sido atendidos mais de 60 municípios.
A Universidade se equipou para ampliar sua capacidade de atendimento e realização de diagnóstico em massa, em razão da força-tarefa criada pelo reitor Marcelo Knobel e com a participação central de órgãos como o Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (LEVE) da Universidade, o único de nível 3 de biossegurança na RMC. O LEVE atuou, por exemplo, na ampliação da capacidade do Laboratório de Patologia Clínica do Hospital de Clínicas, para fazer os diagnósticos em massa.
Recentemente a Unicamp estabeleceu parceria com a Universidade de Chiba, no Japão, a Agência Japonesa de Cooperação Internacional (JICA) e a empresa Eiken Chemical Co. Com o nome PACT-Brazil, Partnership for Accelerating Covid-19 Testing in Brazil, o acordo estipula que a Unicamp faça a validação de kits de testes, produzidos pela Eiken Co., para detecção do SARS-CoV-2 por meio de amostras de saliva.
Observatório da PUC-Campinas
O Hospital da PUC-Campinas tem sido outro pilar fundamental no atendimento às vítimas de Covid-19 na região metropolitana. Além disso, a instituição tem atuado em outras frentes. Um exemplo é o do Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/), vinculado à área de extensão da Universidade, que desde o início de julho de 2020 passou a publicar um painel interativo e um conjunto de notas técnicas traduzindo e contextualizando os dados fornecidos pela Fundação Seade, ligada ao governo de São Paulo, entre outras fontes.
“O objetivo do Observatório PUC-Campinas é contribuir com a difusão de informações e análises que ajudem a pensar a Região Metropolitana de Campinas de várias perspectivas, a econômica, a social, a ambiental, entre outras, colaborando na elaboração de políticas públicas integradas”, explica o professor extensionista e economista do Observatório, Paulo Ricardo da Silva Oliveira. “Com o surgimento da pandemia, o Observatório não poderia deixar de atuar e então foram criadas ações como um painel interativo, com dados atualizados, e as notas técnicas, formuladas pelos docentes e alunos”, diz Oliveira. Graduandos cuidam da elaboração de mapas e gráficos que ajudam no melhor entendimento sobre os dados publicados.
Pesquisas no Projeto Sirius
O Projeto Sirius, mais importante e avançada iniciativa em ciência na história recente do Brasil, também voltou-se para pesquisas sobre o novo coronavírus. Ligado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, o Projeto Sirius iniciou suas operações com a primeira linha de luz síncroton em 2020, em caráter emergencial, em apoio à luta contra o SARS-CoV-2, causador da Covid-19.
Uma importante ferramenta na guerra contra a Covid-19 foi desenvolvida pela Embrapa Territorial, igualmente sediada em Campinas. A unidade construiu uma plataforma virtual composta por painéis estratégicos que geram estatísticas básicas sobre as notificações e os óbitos decorrentes da Covid-19 no território brasileiro.
Por meio dos painéis, é possível acompanhar em tempo real a evolução dos dados de casos notificados e óbitos nos municípios com mais de 30 mil habitantes e também nos estados brasileiros. A ferramenta fornece dados absolutos e proporcionais, contribuindo com as ações de combate ao novo coronavírus.
A Embrapa Territorial já tinha desenvolvido para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) uma ferramenta para identificar de forma precoce os riscos ao abastecimento interno e às exportações em proteína animal, derivados da pandemia de Covid-19. São painéis dinâmicos, com mapas e gráficos que permitem uma relação, em base territorial, entre a dinâmica temporal dos casos de Covid-19 em municípios brasileiros onde estão localizados os órgãos e as empresas com registro no Serviço de Inspeção Federal (SIF).
Outras ações do polo de ciência e tecnologia
Entre muitas outras ações do polo científico e tecnológico de Campinas, relacionada à luta contra a Covid-19, está a do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico (CEA-IAC), que participou da produção de nota técnica para orientações a serviços de saúde, no que se refere a Equipamentos de Proteção Individual (EPI), com medidas de prevenção e controle que deveriam ser adotadas durante assistência a casos suspeitos de Covid-19.
O CPQD, por sua vez, realizou ensaios gratuitos visando o desenvolvimento de ventiladores pulmonares (respiradores artificiais) utilizados no tratamento de vítimas da Covid-19.
No campo das startups, entre outras iniciativas está a da BIOinFOOD, que está desenvolvendo um teste diagnóstico rápido para COVID-19 com base em pedido de patente encaminhado por alunos do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp. A BIOinFOOD é uma das muitas startups surgidas na Unicamp e tem apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP.
Pesquisa, desenvolvimento, inovação. A guerra sem tréguas contra a Covid-19 tem gerado muito conhecimento, abrindo portas para outros avanços, e o polo científico e tecnológico de Campinas é um dos fronts dessa batalha.
(Publicado originalmente no Portal Ecossocial Campinas)