Por José Pedro Soares Martins
Campinas, 20 de novembro de 2021
Presidente do Sindicato Rural de Caconde, no interior de São Paulo, Ademar Pereira acordou ainda mais cedo do que costuma a 20 de julho de 2021. Ele queria verificar pessoalmente os possíveis estragos provocados nos cafezais pela intensa geada que caiu na madrugada daquele dia em grande parte do território paulista. E o que viu foi pior do que esperava. “É muito triste, produtor trabalhando a vida toda e perdendo quase tudo em um dia”, diz Pereira, resumindo o panorama de destruição que comprovou naquela data e que se repetiria em outros dias até o final de julho.
“O município tem 13 mil hectares de cafezais e cerca de 2.000 hectares ficaram torrados, com a geada chegando a altitudes que onde antes não atingia”, completa o agricultor, que diz ter perdido, ele mesmo, cerca de oito hectares com as geadas. Mas não foram apenas esses prejuízos contabilizados pelos cafeicultores de Caconde em 2021. “Outro grande problema na realidade tem sido a seca extrema, que prejudicou muito o ciclo normal de desenvolvimento dos cafeeiros”, destaca Pereira, que também é presidente da Câmara Setorial do Café do estado de São Paulo.
Como resultado da estiagem prolongada, o produtor estima em aproximadamente 25% as perdas da safra 2020-2021, podendo ser ainda maior que isso para a próxima safra, se não não chover em volume apropriado nos próximos meses. “Situação muito complicada para o agricultor, que também viu o custo de produção crescer demais”, resume Pereira, citando o caso do preço da tonelada de adubo saltar em um ano de cerca de R$ 1.500,00 para R$ 4.000,00, aproximadamente.
O caso dos agricultores de Caconde é um resumo perfeito dos enormes impactos nas regiões produtoras de café na Região Sudeste do Brasil, decorrentes de eventos climáticos extremos ocorridos na safra de 2021. Somados à alarmante situação climática, os cafeicultores ainda enfrentaram os desafios naturais decorrentes da pandemia de Covid-19 e, ao mesmo tempo, uma das mais graves crises logísticas da história, pelas múltiplas dificuldades enfrentadas no transporte marítimo de mercadorias desde o início da crise sanitária no começo de 2020 e em especial pela falta de contêineres. Questões que provocaram muita reflexão sobre o futuro da atividade cafeeira no país que é o maior produtor mundial.
Desolação com as geadas
O fantasma das geadas sempre pairou sobre os produtores de café, mas quando o fenômeno acontece o sentimento é naturalmente de desolação e não foi diferente em 2021. Cafeicultor em Itamogi, na grande região produtora do Sudoeste de Minas Gerais, muito próximo de Caconde, João Ramos era só tristeza quando chegou ao seu sítio e constatou as perdas no final de julho. “Perdi sete mil pés de café e 75 pés de abacate. Tudo em formação”, lamenta.
E foi uma devastação, como constataram os institutos de pesquisa. Em Minas Gerais, ao menos 200 municípios foram atingidos pelas geadas, mais de 70% deles localizados no Sul e Sudoeste do Estado, onde 8.610 cafeicultores foram afetados. O levantamento foi feito pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater/MG). As perdas chamaram a atenção de gestores em todas as esferas. No dia 23 de julho a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, esteve em Alfenas, no Sul de Minas, para verificar pessoalmente a situação e conversar com os agricultores.
“Quando eu recebi os relatos da geada do dia 20 de julho, eu fiquei muito preocupada. Eu sei o esforço para produzir e a frustração de perder a plantação num ano com boas previsões de valores. Viemos aqui para ver, ouvir e achar soluções em conjunto, sentarmos à mesa para identificarmos uma solução, que não será única”, afirmou a ministra na ocasião. No início de setembro, foi anunciada a destinação de R$ 1,32 bilhão do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) para os produtores que sofram perdas com as geadas.
No âmbito dos poderes Executivo e Legislativo de Minas Gerais não foi diferente. Entre outras ações, no dia 10 de agosto aconteceu uma audiência pública na Assembleia Legislativa mineira para debater o cenário pós-geadas. O evento foi realizada pela Comissão de Agropecuária e Agroindústria, a pedido de seu vice-presidente, deputado estadual Antônio Carlos Arantes, que tem fortes vínculos com a região produtora de café de Itamogi e outras cidades da região. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, esteve por sua vez no dia 14 de outubro em Guaxupé, para um encontro com os produtores.
Em São Paulo a situação foi semelhante. “Três fortes ondas de massas polares, ocasionando geadas, também atingiram o território paulista, afetando boa parte da produção de diversas lavouras”, afirmaram os pesquisadores Celso Luís Rodrigues Vegro e Vagner Azarias Martins, do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, no estudo ‘Estimativa de Impacto Econômico nas Lavouras Paulistas de Café Afetadas por Estiagem Prolongada Seguida de Geadas, 2021″, publicado a 26 de outubro.
Com base em levantamentos feitos pela Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS/CATI), os pesquisadores do IER estimaram que houve perdas de 36,02% na área plantada com café em São Paulo, de 209 mil hectares. Foi de 72 mil hectares a área afetada, nas regiões produtoras de Franca, São João da Boa Vista, Marília, Ourinhos, Bragança Paulista e Jaú, entre outras.
Ainda como efeitos das geadas, sobretudo nas ocorrências de 29 a 31 de julho, foram verificadas “perdas de aproximadamente 60% no milho safrinha, com comprometimento de grande parte das lavouras devido ao plantio tardio, o que já se sente no preço de comercialização, que já se encontra em mais de R$100 a saca, com tendência de aumento devido aos efeitos acumulados”. Foi o que mostrou o boletim “Geada no Estado de São Paulo“, publicado em agosto em parceria entre Fundação e Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag), CDRS/CATI, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), IAC e Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO).
Os produtores de Itamogi e Caconde entendem que os prejuízos vão se estender para a próxima safra de café. João Ramos, de Itamogi, conta que já replantou os 75 pés de abacate perdidos mas que serão plantados em dezembro somente 3700 pés de café. Ademar Pereira, de Caconde, assinala por sua vez temer que alguns produtores, a depender da continuidade do cenário adverso, possam acabar optando por outras culturas, como soja e milho, “cuja remuneração tornou-se atraente”.
Efeitos da estiagem prolongada
O próprio Ademar Pereira reitera que os cafeicultores também tiveram que enfrentar em 2021 com outro evento climático extremo, a estiagem prolongada, repetindo o que ocorreu em 2014 e 2015. “A chuva veio, mas tarde. Já identificamos que isso prejudicou a florada”, conta o presidente do Sindicato Rural de Caconde, sintetizando uma situação flagrada por vários estudos e pesquisas.
Um sinal evidente da gravidade da crise hídrica no estado de São Paulo e em boa parte da Região Sudeste em 2021, reforçando a urgência de medidas preventivas por parte do setor agrícola para os próximos anos, foi a edição, a 1º de junho, da Resolução Nº 77 da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). A medida declarou como crítica a situação de escassez quantitativa dos recursos hídricos na Região Hidrográfica do Paraná, que abrange os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal.
Segundo a Resolução, e com o propósito de garantir os usos múltiplos da água, estipulados na legislação brasileira, a ANA passou a poder definir “condições transitórias para a operação de reservatórios ou sistemas hídricos específicos, inclusive alterando temporariamente condições definidas em outorgas de direito de uso de recursos hídricos”. Com isso, mesmo as outorgas concedidas, a órgãos governamentais ou empresas privadas, para o uso de água poderiam ser temporariamente modificadas, até 30 de novembro de 2021.
Medidas restritivas poderiam ser adotadas, para evitar o colapso no abastecimento de água que, pela legislação do país, deve ser prioritariamente para consumo humano e dessedentação animal. A Resolução também criou o Grupo Técnico de Acompanhamento da Região Hidrográfica do Paraná (GTA RH Paraná), para monitorar a situação e sugerir medidas apropriadas.
Outro indicador da crise hídrica, impactando a região de maior concentração populacional do país, foi a queda brusca dos reservatórios que alimentam a geração de energia elétrica, o que levou ao temor de apagões como os de 2000 a 2002, período em que houve racionamento no consumo de eletricidade. Segundo informou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a 22 de outubro, na 12ª Reunião do GTA RH Paraná, os reservatórios do Subsistema Sudeste/Centro-Oeste estavam com 17,5% da capacidade de armazenamento no dia 20 de outubro, o que representava a pior posição alcançada no histórico do Subsistema. Na mesma data em 2020, os reservatórios do Subsistema registraram 26,3% da capacidade de armazenamento. Em função do baixíssimo nível dos reservatórios do SE/CO, o Sistema Integrado Nacional (SIN) como um todo tinha em 20 de outubro 24,4% de sua capacidade, o terceiro pior resultado da história na mesma data.
A redução acentuada no nível dos reservatórios teve impacto direto na economia de muitos municípios brasileiros, inclusive no paulista Caconde, onde funciona uma pequena usina hidrelétrica operada pela AES Brasil e que representa importante fonte de renda associada à exploração do turismo. “O café é nossa principal fonte de renda, mas a seca nesse ano prejudicou muito também o turismo ligado à represa”, comenta o cafeicultor Ademar Pereira. O reservatório da usina de Caconde chegou no auge da estiagem próximo aos 14% verificados na seca de 2014.
A situação especialmente crítica do estado de São Paulo foi detectada pelo Monitor de Secas gerenciado pela ANA. De acordo com o Monitor, em setembro de 2021 pela primeira vez todos os 21 estados monitorados apresentaram condições de seca. O estado de São Paulo, de acordo com o Monitor, registrou em setembro de 2021 o maior percentual (21%) de seca “excepcional” entre os 21 estados monitorados. “Excepcional” é o mais alto grau de severidade de seca pelos critérios do Monitor. O número indica que 21% do território paulista estavam nessa condição em setembro. Segundo os mesmos critérios, 86% do território paulista apresentaram em setembro situação de seca grave, extrema ou excepcional, a maior proporção entre os 21 estados pesquisados.
O maior uso de tecnologias apropriadas já existentes é defendido pelos especialistas para o enfrentamento de situações de estiagem intensa e prolongada como a de 2021. “Mais do que nunca chegou o momento de maior utilização, nas culturas de sequeiro ou naquelas irrigadas, de tecnologias apropriadas e já disponíveis para o uso mais racional da água, considerando que em condições de escassez cada vez mais frequentes têm ocorrido frustrações em safras agrícolas, podendo levar a situações em que agricultores não conseguirão mais produzir”, alerta Regina Célia de Matos Pires, pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Ela cita, no leque de opções, a irrigação tradicional, a chamada irrigação deficitária e o uso pelo agricultor de materiais genéticos cada vez mais adequados à sua área de plantio. A pesquisadora também acredita ser uma tendência o uso de águas residuárias na irrigação, dependendo do que diz a legislação para evitar contaminações.
Também pesquisador do IAC, Gabriel Blain tem coordenado estudos sinalizando para a mudança no padrão de chuvas desde o início do século 21. “Nos últimos dez anos, o número de anos secos tem sido muito acima do esperado e registrado para o estado de São Paulo. Como exemplo, podemos citar que, neste ano, desde janeiro até meados de outubro o volume de chuvas foi climatologicamente abaixo do normal em todas as regiões produtoras de café no estado”, alerta o pesquisador. Na sua avaliação, o cenário para 2022 não é muito promissor.
“Há um déficit de chuvas acumulado há muito tempo e mesmo que tenhamos no verão chuvas um pouco acima do normal será difícil uma completa e rápida reposição. O quadro geral é extremamente complicado, muito preocupante”, alerta Blain, que é editor-chefe da Bragantia, revista científica do Instituto Agronômico de Campinas.
Para Blain, os agricultores têm feito a sua parte, mas adverte que algumas soluções “dependem de ações nacionais, pois a atmosfera não conhece fronteiras”. Neste sentido, considera que “a sociedade como um todo precisa estar mais atenta” à maior frequência de eventos climáticos extremos, o que na sua avaliação “não vem sendo feito de forma satisfatória”, citando o caso do desmatamento na Amazônia e seus efeitos no regime de chuvas no estado de São Paulo e em toda Região Sudeste, como tem sido demonstrado em vários estudos científicos.
Ampliar seguro rural na cultura cafeeira é desafio
Uma das consequências dos prejuízos agrícolas decorrentes de eventos climáticos extremos em 2021 foi o incremento da busca pelo seguro rural, ferramenta que, contudo, ainda tem muito campo para crescer no Brasil em geral. “As mudanças climáticas em curso, aliadas à forte valorização das commodities agrícolas, têm estimulado o desenvolvimento do seguro rural”, observa Luis Alcides Whitaker Vidigal, diretor da Prisma Agro, corretora de São Paulo. “O seguro rural é o principal instrumento para mitigar os riscos do agronegócio”, completa.
Ele observa que no estado de São Paulo, especificamente, os produtores “contam hoje com forte apoio dos governos federal e estadual e seus programas de subvenção ao seguro rural, que subvencionam partes dos custos do seguro”. Entretanto, Vidigal lembra que, “apesar do significativo apoio governamental e do crescimento que o setor vem registrando, a indústria do seguro rural é ainda muito pequena no estado”. Ele cita dados de 2020, indicando que eram cobertas por seguro, em território paulista, apenas 12,95% das áreas com café, 2,86% das áreas com cana-de-açúcar e 4,23% das áreas com milho da segunda safra.
De fato, ainda representa um desafio a maior disseminação do seguro rural nas diferentes regiões brasileiras. A Região Sul ainda concentra a maior parcela do seguro rural. Somente os estados do Paraná e Rio Grande do Sul somam 60% das apólices contratadas junto ao PSR, em 16 anos do Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural, do governo federal. Um das explicações, entende o diretor da Prisma Agro, é que na Região Sul é muito forte o cooperativismo na agropecuária. Com 14% das apólices contratadas, São Paulo está em terceiro lugar no ranking, vindo depois Santa Catarina (8%), Minas Gerais e Goiás (5% cada) e Mato Grosso do Sul (4% das apólices contratadas).
A ampliação do seguro rural para a cafeicultura é um desafio em especial. Somente 3,21% das apólices subsidiadas através do PSR do governo federal foram para a proteção de cafezais, em 16 anos do Programa. A soja soma 44% das apólices contratadas junto ao PSR, seguida do milho de segunda safra com 12,5% e da uva com 9,4%. É possível identificar alguma resistência entre produtores de café em relação ao seguro rural. Algumas reclamações são quanto aos valores dos produtos oferecidos no mercado, à forma como as informações são prestadas pelos agentes e à cobertura oferecida.
CRISE NO TRANSPORTE MARÍTIMO FOI MAIS UM DRAMA PARA O SETOR CAFÉ EM 2021
Cena 1. No início de outubro, uma operação especial realizada pelo Departamento de Mercado Externo e Administração Logística da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé Ltda (Cooxupé) viabilizou o transporte, em tempo recorde, de 276 contêineres no Porto de Santos (SP), com destino à Costa Leste dos Estados Unidos. A equipe da Cooxupé fez testes diários de booking, os espaços para os contêineres, de modo a assegurar o transporte do produto.
Cena 2. No dia 2 de outubro, a Agropecuária Labareda, que atua na Alta Mogiana Francana, interior paulista, recorreu ao transporte por avião para enviar nove toneladas de café para a Inglaterra, gastando o dobro do carregamento tradicional por navio. De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em 2021 foi de 0,07% o percentual de contêineres transportados por avião do Brasil para o exterior, contra 0,03% em 2020 e 0,05% em 2019.
Os dois fatos ilustram como o setor cafeicultor brasileiro foi afetado diretamente pela crise marítima internacional observada ao longo da pandemia de Covid-19. “Em função da pandemia, houve um represamento enorme da demanda internacional por vários produtos que precisam ser transportados e faltou contêiner para atender a toda movimentação”, explica José Vicente Caixeta Filho, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), de Piracicaba.
Coordenador do ESALQ-LOG, grupo de estudos de logística agroindustrial da instituição, Caixeta nota que, pela falta de contêineres, os valores ficaram mais elevados. Ele entende que a crise deve ser totalmente equacionada em um ano. “Haverá contêiner para todo mundo, mas continuará mais caro”, ele avalia.
O pesquisador entende que a crise marítima afetou as exportações brasileiras, mas ainda mais as importações, por exemplo de vários insumos que ficaram mais caros para o produtor rural. Caixeta salienta ainda que um estudo do ESALQ-LOG constatou a grande concentração do mercado de transporte marítimo, com seis empresas somando cerca de 75% da movimentação.
Um estudo do Cecafé mostrou que a crise marítima internacional repercutiu no impedimento de exportação, entre maio e agosto de 2021, de aproximadamente 3,5 milhões de sacas de 60 kg de café, correspondendo a cerca de US$ 500 milhões. Segundo o mesmo estudo, sobretudo em função da crise logística o volume de café exportado pelo Brasil declinou 18,7% nos dois primeiros meses do atual ano-safra (julho e agosto), chegando a 5,54 milhões de sacas de 60 kg.
Além da crise logística, o Cecafé aprofundou em 2021 o debate sobre os temas emergentes internacionais que podem impactar as exportações brasileiras. Um deles é a crescente preocupação de consumidores de café e outros produtos em vários países com as emissões de gases de efeito estufa (GEE) pelas atividades agrícolas, além de questões associadas ao respeito integral dos direitos humanos.
Neste sentido, o Cecafé iniciou em 2021 o Projeto Carbono, que vai avaliar as emissões de carbono inicialmente de 40 produtores de café arábica de Minas Gerais, sendo 10 da região do Cerrado, 10 das Matas e 20 do Sul do Estado, a maior produtora do país. O estudo está sendo conduzido pelo Comitê de Sustentabilidade do Cecafé, com apoio do professor Carlos Eduardo Cerri, da ESALQ/USP.
No início de 2021 já foi divulgado o resultado de trabalho semelhante, realizado pela Imaflora, de Piracicaba, junto a 34 produtores filiados à Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo (Monteccer), no Sul de Minas Gerais. O estudo comprovou que esse grupo de produtores mais sequestra do que emite carbono (CO2) para a atmosfera.
“As unidades da Monteccer emitem 4,02 toneladas de CO2 equivalente por hectare ao ano, enquanto a média mundial é de 28 tCO2e por hectare ao ano. E, graças às técnicas de cultivo empregadas, o balanço de emissões das fazendas da cooperativa é negativo, -5,66 tCO2e por hectare ao ano. Ou seja, além de emitir abaixo da média, as propriedades conseguem sequestrar o carbono gerado”, explica a Imaflora, sinalizando a contribuição do setor café para o imenso esforço de enfrentamento das mudanças climáticas decorrentes de emissões atmosféricas resultantes de atividades humanas.
Segundo o diretor superintendente da Monteccer, Regis Damasio Salles, a intenção é fortalecer as práticas sustentáveis e de baixo carbono no conjunto dos cooperados. Em anos de pandemia, os impactos dos eventos climáticos extremos e da crise logística internacional provocaram reflexão e questionamentos no setor cafeeiro do Brasil, maior produtor mundial. Temas emergentes como a produção de forma cada vez mais sustentável, visando uma inserção crescentemente sólida no mercado global, tendem a estar no topo da agenda do segmento nos próximos anos.