O extermínio de jovens e a impunidade em grande parte dos crimes são denunciados na Campanha da Fraternidade 2015, lançada nesta quarta-feira, 18 de fevereiro, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A Campanha tem como tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45).
O principal objetivo da Campanha de 2015, segundo a CNB, é “aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus”.
Como objetivos específicos, a Conferência dos Bispos indica, entre outros, o aprofundamento da “compreensão da dignidade da pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do espírito e do diálogo inter-religioso e intercultural, para superar as relações desumanas e violentas”.
A violência é, de fato, uma das questões mais citadas no documento-base da Campanha da Fraternidade de 2015.
“A violência não para de crescer, sob todas as formas e em todos os estratos da sociedade”, observa o documento, citando que o Brasil tem uma taxa de 20,4 homicídios por 100 mil habitantes, a oitava pior marca entre 100 nações com estatísticas confiáveis sobre o tema.
O documento informa que as mais altas taxas de homicídios estão em Alagoas (55,3), Espírito Santo (39,4), Pará (34,6), Bahia (34,4) e Paraíba (32,8), com maior incidência nas periferias urbanas e em cidades com rápido crescimento. As mortes violentas, acrescenta a CNBB, antes concentradas em grandes centros urbanos, se espalharam pelo país. São 50 mil mortes violentas por ano, adverte a Conferência dos Bispos.
Para os bispos brasileiros, o comércio de drogas e a drogadição “estão entre as principais causas do vertiginoso aumento da violência e da criminalidade”. O país é o maior consumidor mundial de drogas como o crack, e o segundo de cocaína, eles lembram, acrescentando que o consumo devastador de drogas “chegou a cidades do interior”.
Os bispos católicos notam que “o índice de crimes e delitos esclarecidos é baixo e contribui para a sensação de impunidade na sociedade. Mesmo assim, mais de meio milhão de brasileiros está detido no sistema carcerário”.
A maioria da população, salienta o texto-base da Campanha da Fraternidade, é “jovem, negra e pobre, com poucas oportunidades de reintegração social. Esta situação provoca debates, soluções, algumas duras, como a diminuição da maioridade penal e até a pena de morte”.
O envolvimento dos jovens na drogadição e no tráfico, “com a alta taxa de assassinatos que os atinge, um autêntico extermínio, em que pese a crescente inclusão, parece ilustrar o peso do materialismo e do consumismo associados à busca da ascensão social, à complexidade desse desafio, às limitações das políticas públicas distantes de valores éticos e morais”, denuncia o documento.
São várias sugestões apontadas pela CNBB para atuação por parte das milhares de comunidades cristãs diante da realidade atual. Cita por exemplo: “Refletir nas famílias sobre o que edifica a vida e o que não é gerador de vida, e sobre estratégias de solução”.
Outra proposta é promover “momentos para exercer o discernimento evangélico acerca do que ocorre na comunidade, bairro, cidade, e identificar ameaças à vida (pontos de vendas de entorpecentes, prostituição, tráfico de pessoas, pessoas em situação de miséria, fatos ocorridos com pessoas, famílias e outros)”. E, também, “pensar em formas de contribuir para a resolução de tais situações, considerando as capacitações requeridas para as ações de enfrentamento da realidade identificada”.