Uma esteira de 15 metros é o novo recurso da Cooperativa de Recicláveis “Antônio da Costa Santos” para ampliar a sua produção e a renda dos cooperados. Doada pelo Grupo Arcor, a esteira foi inaugurada na manhã desta quinta-feira, 30 de abril, com a presença de representantes da empresa, do Instituto Arcor Brasil e da Prefeitura de Campinas. Localizada no Jardim Satélite Íris, a Cooperativa “Antônio da Costa Santos”, que leva o nome do ex-prefeito de Campinas, tornou-se referência nacional e internacional em gestão, é uma das primeiras no Brasil a ser paga pelo município pelos seus serviços, nos termos da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Um dos momentos emocionantes da inauguração foi a homenagem feita ao ex-prefeito de Campinas que dá nome à cooperativa.
A doação da esteira inaugurada nesta quinta-feira é mais um passo na relação que vem sendo estabelecida desde 2011 entre a cooperativa e o Grupo Arcor e o Instituto Arcor Brasil. Nos últimos quatro anos, o Instituto Arcor tem sido o apoiador financeiro e técnico do projeto “Construindo Sonhos Através dos Recicláveis”, com o qual a Cooperativa “Antônio da Costa Santos” participou do programa internacional PorAmérica.
“A ideia é contribuir para a transformação social, e o projeto mostrou que é possível”, afirmou a diretora-executiva do Instituto Arcor Brasil, Célia Ribeiro de Aguiar, na inauguração da esteira. Por sua vez, o diretor industrial da Arcor do Brasil, Gabriel Albertinazzi, notou que o apoio à Cooperativa de Campinas representa a valorização “da cultura do empreendedorismo e da proteção ambiental”, em consonância com a política de sustentabilidade da empresa.
Ainda no evento da manhã deste dia 30 de abril, o diretor da Secretaria Municipal de Trabalho e Renda, Dirceu Pereira Júnior, observou que a Cooperativa “Antônio da Costa Santos” é a primeira em Campinas a receber da Prefeitura pelos serviços prestados, nos termos da Lei 12.305, da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A presidente da Cooperativa, Aparecida de Fátima Assis, estava especialmente emocionada no evento. Ele é uma co-fundadora da Cooperativa e seguiu todos os passos da organização, desde o momento em que as mulheres separavam os recicláveis sentadas no chão.
Dona Cida, como é conhecida, destacou que a esteira representa “mais um passo importante para aumentarmos a produção e a renda”. Ela acredita que a Cooperativa “Antônio da Costa Santos” poderá “crescer muito mais, com qualidade”, em razão do apoio do Instituto Arcor e Grupo Arcor, culminando com a doação da esteira. Antes, nota Dona Cida, os materiais eram separados em bancas com no máximo quatro cooperados. Agora, são 16 cooperados trabalhando de forma mais organizada, oito em cada lado da esteira.
Parcerias – Os avanços da Cooperativa “Antônio da Costa Santos” foram muitos, após sua participação no PorAmérica, o que abriu a possibilidade de contar com muitas parcerias. O Programa PorAmérica – Programa Fortalecimento de Organizações de Base – ODB para Combater a Pobreza foi uma iniciativa da RedEAmérica, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Corporação Consórcio para o Desenvolvimento Comunitário. A RedEAmérica é uma rede que reúne organizações de investimento social privado de 12 países do continente.
Pois entre 2011 e 2014, em função da participação no Programa PorAmérica e do apoio do Instituto Arcor, a Cooperativa de Campinas passou por completa reformulação do espaço físico e de seu processo de gestão.
A Cooperativa “Antônio da Costa Santos” implantou uma política de qualidade, mudou seu layout e capacitou triadoras para atuar de forma apropriada diante do Sistema de Gestão de Resíduos Sólidos de Campinas, no âmbito das possibilidades abertas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Além do apoio financeiro e técnico do Instituto Arcor Brasil e Grupo Arcor, o Projeto Reciclando Sonhos foi viabilizado pelo suporte recebido de várias organizações, como o Centro de Referência em Cooperativismo e Associativismo (CRCA), PUC-Campinas, Reciclamp (rede de cooperativas de recicláveis de Campinas), Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), Banco Popular da Mulher e Prefeitura de Campinas.
Foram investidos US$ 126 mil (Cerca de R$ 360 mil) pelo conjunto de parceiros, para viabilizar o Projeto Construindo Sonhos Através dos Recicláveis.
O Programa PorAmérica foi concluído em 2014, mas o apoio à Cooperativa continuará, em função da doação da esteira pelo Grupo Arcor. Ao longo de 2015, o Instituto Arcor acompanhará o processo de inserção da esteira no cotidiano da Cooperativa. A capacitação das triadoras está sendo conduzida pelo Cempre, que é uma organização de referência nacional e internacional em estímulo à reciclagem no Brasil.
A Cooperativa “Antônio da Costa Santos” tem sido destaque em eventos internacionais. No último dia 26 de março, a cooperativa esteve representada no VII Fórum Internacional da RedEAmérica, em Mérida, província de Yucatán, no México. O tema geral do encontro foi “Empresa, Comunidade e Desenvolvimento: desafios de uma perspectiva sustentável”. Antes, entre 26 e 28 de novembro de 2014, a cooperativa participou do evento “Organizações que constroem oportunidades”, que marcou o encerramento do Programa PorAmérica, em Bogotá, na Colômbia.
No evento que marcou a inauguração oficial da nova esteira, a presidente da Cooperativa “Antônio da Costa Santos”, Aparecida de Fátima Assis, se emocionou com a homenagem ao ex-prefeito de Campinas que dá nome à organização. “Ele merece a lembrança”, disse ela, ao mostrar um quadro com a foto do ex-prefeito e dois artigos com referência aos momentos iniciais da Cooperativa.
A gênese da Cooperativa está no grupo de moradores do Satélite Íris que participavam de um programa do Instituto de Solidariedade Alimentar (ISA), responsável pela distribuição de hortifrutis doados pelos permissionários da Ceasa-Campinas. O programa viabiliza atualmente a distribuição de alimentos para mais de 10 mil famílias nos 80 bairros de maior concentração de cidadãos de baixa renda no município, além de atender a mais de 90 organizações não-governamentais.
As famílias beneficiadas pelo ISA chegaram então à conclusão de que era fundamental participar de um projeto coletivo de geração de renda, uma vez que, em várias ocasiões, “não tinham óleo para cozinhar a batata ou outro alimento que tinham recebido”, como lembra Valdecir Aparecido Viana, que participou dos momentos iniciais e foi o primeiro presidente da cooperativa.
Na ocasião apareceu a possibilidade de participação de algumas pessoas em oficinas de cooperativismo promovidas pela Cáritas Campinas. No começo pensou-se em cooperativa de produção de alimentos, mas o grupo acabou optando pelo setor de recicláveis.
Foram anos iniciais muito difíceis, à sombra de uma árvore ou no barracão originalmente destinado à “engorda” de suínos. As mulheres trabalhavam no chão separando os materiais, depois colocados em uma tábua.
Mas o grupo não desistiu e isso chamou a atenção dos poderes públicos, e em particular do prefeito Antônio da Costa Santos, eleito em 2000. O prefeito deu o seu apoio mas não chegou a participar da inauguração da cooperativa batizada com o seu nome, pois foi vítima de assassinato a 10 de setembro de 2001. A sua sucessora, Izalene Tiene, esteve na inauguração e continuou a apoiar a organização.
Em 2011, após longa tramitação, a Câmara Municipal de Campinas aprovou a concessão de uso para a cooperativa, sobre um terreno de 2 mil metros quadrados, bem ao lado da árvore e do barracão que marcaram o começo da mobilização. “Estamos firmes, e com o apoio que estamos recebendo vamos longe”, resumiu a Dona Cida. “É importante lembrar o Toninho”, repetiu.