O Secretariado da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas divulgou nesta sexta-feira, 30 de outubro, um relatório inquietante, indicando – ou admitindo – que as metas e ações apontadas pelo conjunto de países que participarão da Conferência do Clima (COP-21) em Paris no final do ano não serão suficientes para evitar que a temperatura média global atinja no máximo 2 graus centígrados até 2100. O Secretariado estima que os esforços projetados farão com que a temperatura atinja cerca de 2,7 graus até o final do século, o que representaria grandes impactos, como maiores secas em algumas regiões e chuvas intensas em outras, maior derretimento de geleiras e elevação do nível dos oceanos. Será então necessário enorme esforço dos chefes de Estado e governos que estarão na capital francesa para que se chegue a um acordo sobre a redução da emissão de gases que alimentam as mudanças climáticas.
O relatório fez uma síntese dos documentos referentes às chamadas Contribuições Pretendida Nacionalmente Determinadas (INDCs), na prática o que 147 países pretendem fazer para a redução de suas emissões atmosféricas nas próximas décadas. Esses 147 países representam 75% dos países que aderiram à Convenção das Mudanças Climáticas e a 86% das emissões globais de gases-estufa em 2010. Portanto, trata-se de um universo mais do que representativo do que o conjunto da comunidade internacional pretende fazer para cortar as suas emissões.
Os números apontados pelo documento são de fato muito preocupantes. A implementação das metas apontadas indica uma emissão global de 55,2 (o mais provável entre 52,0 e 56,9) Gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2 eq) até 2025 e de 56,7 (entre 53,1 e 58,6) Gton de CO2 eq até 2030. As emissões globais acumuladas desde 2011 chegariam a 541,7 Gton de CO2 eq em 2025 e a 748 Gton de CO2 eq em 20130.
Esses números indicam que, com os cortes previstos pelos governos, as emissões seriam de 34 a 46% maiores em 2025 e entre 37 a 52% maiores em 2030 em relação a 1990; de 29 a 40% maiores em 2025 e de 32 a 45% maiores em 2030 do que em relação a 2000: e de 8 a 18% maiores em 2025 e de 11 a 22% maiores em 2030 em relação a 2010.
As emissões per capita, segundo os cortes projetados pelos governos, cairiam entre 8 e 4% em 2025 e entre 9 e 5% em 2030 em relação a 1990 e 2010, respectivamente.
De acordo com o Secretariado da Convenção das Mudanças Climáticas, os esforços agregados apontados pelos governos até o momento não serão suficientes para manter a temperatura global em até 2 graus centígrados a mais até 2100. O documento assinala que a projeção de aumento global de temperatura até o final do século depende justamente das emissões até 2030. Ou seja, as metas e ações agregadas não melhorarem, o objetivo de se chegar no máximo a 2 graus centígrados até o final do século – cenário mais otimista previsto pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) – não será atingido.
O Secretariado observa que as emissões são cumulativas e, portanto, maiores emissões nos próximos anos exigirão esforços mais dispendiosos posteriormente, de modo que seja atingido o propósito de evitar um aumento global de temperatura em no máximo 2 graus até 2100 em relação aos níveis pré-industriais. Esforços maiores de redução agora terão melhor resultado, portanto.
Em resumo, as projeções a partir do que os governos sinalizaram indicam que a temperatura média global pode subir até 2,7 graus centígrados até o final do século 21. O Secretariado afirma que se trata de uma média muito melhor do que os 4 ou 5 graus de aumento de temperatura que eram projetados antes da adoção do sistema das INDCs. O relatório das Nações Unidas é divulgado cerca de um mês antes do início da Conferências das Partes (COP-21) da Convenção das Mudanças Climáticas, que será realizada em Paris. (Por José Pedro Martins)