A emergência do Zika Vírus, transmitido pelo Aedes aegypti, mosquito que prolifera em condições inadequadas de saneamento básico, reforça a estreita ligação entre saúde e meio ambiente, tema da segunda Assembleia das Nações Unidas sobre Ambiente (UNEA-2), que será realizada entre 23 e 27 de maio, em Nairóbi, Quênia. O evento, promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), também discutirá a relação entre crises humanitárias e meio ambiente.
O PNUMA cita números da Organização Mundial da Saúde (OMS), confirmando como a má gestão na área ambiental tem reflexos diretos na proliferação de doenças e na provocação de mortes. Segundo a OMS, 23% de todas as mortes prematuras em todo o mundo pode ser atribuída a fatores ambientais. Entre as crianças, esse número sobe para 36%.
Ainda segundo a OMS, quase 7 milhões de pessoas morrem anualmente de exposição à poluição do ar interior e exterior decorrente da geração de energia, fogões, transporte, fornos industriais, incêndios e outras causas. Do mesmo modo, a OMS alerta que a exposição ao chumbo pode resultar em dificuldades de aprendizagem, aumenta o comportamento anti-social, redução da fertilidade e leva ao aumento do risco de doença renal e cardiovascular. Um estudo recente mostrou que a exposição das crianças ao chumbo cria perdas econômicas de US $ 977 bilhões por ano através da redução da capacidade intelectual em países de baixa e média renda.
“A propagação do Zika, assim como com o Ebola, enviou um forte sinal à comunidade internacional de que há uma necessidade de maior atenção para as ligações entre ambiente e saúde”, disse o diretor executivo do PNUMA, Achim Steiner. “Há uma consciência crescente de que os seres humanos, através da sua intervenção no meio ambiente, desempenham um papel vital no agravamento ou da mitigação dos riscos para a saúde“, completou.
O diretor também lembrou que mais de 2 bilhões de pessoas vivem em áreas com escassez de água, 1.000 crianças morrem diariamente de doenças transmitidas pela água e 42 milhões de anos de vida são perdidos a cada ano devido a desastres naturais.
Destacou, igualmente, que há fortes evidências de que a ação internacional para proteger o ambiente pode ter fortes impactos positivos sobre a saúde humana. Graças ao Protocolo de Montreal, que entrou em vigor em 1989, cerca de 100 substâncias que destroem a camada de ozono foram retiradas de circulação. Por causa disso, cerca de 2 milhões de casos de câncer de pele serão impedidos antes de 2030. E a remoção do chumbo dos combustíveis já está impedindo mais de 1 milhão de mortes prematuras a cada ano.
A UNEA-2 vai discutir, então, medidas que podem ser tomadas de forma articulada pela comunidade internacional, para evitar a proliferação de doenças e multiplicação de mortes por causas ambientais. Mas a assembleia também será dedicada a discutir a relação entre crises humanitárias e aspectos ambientais.
O PNUMA ressalta várias evidências dessa relação. Desde 1990, 18 conflitos foram pelo menos parcialmente financiados pela exploração dos recursos naturais. Nos últimos 60 anos, pelo menos 40% por cento de todos os conflitos intra-estatais tiveram um link com os recursos naturais, sejam minerais, madeira, petróleo, terra ou água. Mais de 90% dos grandes conflitos armados entre 1950 e 2000 aconteceram dentro dos países que contêm hotspots de biodiversidade, e mais de 80% diretamente dentro das áreas de hotspot, que são os territórios de alta concentração de biodiversidade.
Nessa linha, a UNEA-2 tratará da dimensão ambiental da atual crise humanitária do mundo, incluindo as causas profundas dos conflitos e deslocamentos e os danos causados ao meio ambiente por meio da exploração e comércio ilegal dos recursos naturais em áreas afetadas por conflitos.