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Pingue-pongue: O estímulo ao estudo da matemática na escola e a independência tecnológica do País
Leo Akio Yokoyama tem um canal de vídeos com aulas de matemática no YouTube e apresenta o programa 'Matemática em toda parte II' do canal TV Escola do MEC Foto: Arquivo pessoal

Pingue-pongue: O estímulo ao estudo da matemática na escola e a independência tecnológica do País

Por Adriana Menezes

Ele ensina matemática pela internet e utiliza todos os recursos de linguagem e imagem possíveis que o aproximem do seu público, formado por jovens estudantes. Leo Akio Yokoyama é um apaixonado pelo ensino da matemática. Além de manter um canal de vídeos com aulas de matemática no YouTube, ele apresenta o programa “Matemática em toda parte II”, do canal TV Escola, do Ministério da Educação (MEC).

Graduado pela Unicamp, com mestrado e doutorado na área de educação em matemática, Leo também dá aulas presenciais e não apenas no mundo digital. Ele é professor do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e dedica-se a formar professores dos anos iniciais.

Em todos os canais ele tenta mostrar outros caminhos para o entendimento da matemática, que vão muito além de decorar tabuadas e fórmulas. Segundo ele, metodologias tradicionais podem eliminar a curiosidade dos alunos. “O método tradicional de ensino de matemática sempre foi desestimulante.”

Em entrevista pingue-pongue (abaixo), Leo Akio fala sobre ensino de matemática e da importância dessa disciplina na formação geral do aluno. Para ele, por exemplo, a matemática tem um papel fundamental no desenvolvimento de um país: “desenvolver tecnologia nacional significa ser independente”, diz.

matematica Leo Akio univesp

Despertar o interesse pela matemática está se tornando mais fácil ou mais difícil no Brasil?

Leo Akio – O ideal seria consultar alguém de história do ensino de matemática no Brasil, mas eu acredito que a criança é sempre interessada. É o sistema de ensino que vai retirando essa curiosidade natural dela, infelizmente. O método tradicional de ensino de matemática sempre foi desestimulante e isso vem de muito tempo. Você deve se lembrar que teve que decorar a tabuada, os procedimentos de adição (“vai 1”), de subtração (“pede emprestado”), de multiplicação, de divisão etc. Isso faz com que a matemática se torne chata, muito chata! Quando o aluno chega à adolescência, lá pelo 6º ano do ensino fundamental, essa visão da matemática, que exige decorar os conteúdos, já está consolidada.

Como despertar o interesse pela matemática nos jovens?

Leo Akio - Desde a educação infantil é necessário mostrar a matemática como algo que trabalha com o raciocínio lógico. Por exemplo, ensinar o que é um triângulo, um quadrilátero, sucessor, antecessor, número, numeral, algarismo, unidade, dezena, centena, número par, ímpar etc. Isso tudo é importante, mas não basta. Depois que o aluno entender esses conceitos, ele deve ser desafiado com jogos e por meio da resolução de problemas que estimulem o raciocínio. Com questões como: qual o resultado da soma de dois números ímpares? Por que você acha que o resultado é um número par? Será que isso acontece sempre? A soma de três números ímpares pode dar como resultado 10? Resposta: não! Por quê? E existem o que eu chamo de “matemágicas” que servem para intrigar os alunos. Exemplo:

Que mágica é essa?! Os números e a invenção do computador

Em sua opinião, qual a importância da divulgação científica e da popularização da matemática?

Leo Akio – Considero muito importantes. Um bom exemplo de popularização da matemática é o livro de ficção “O homem que calculava“, de Malba Tahan. Quando eu era adolescente, tentava resolver os desafios propostos. Um dos objetivos do programa “Matemática em Toda Parte II” é justamente mostrar as aplicações da matemática no dia-a-dia e em diversas profissões (o programa Matemática em toda parte II é uma série de treze episódios que contextualiza o saber matemático nas diversas atividades cotidianas).

É possível fazer com que o estudante enxergue as aplicações da matemática – da álgebra, ou trigonometria, por exemplo – na sua vida prática?

Leo Akio – Eu penso que sim, porém é importante destacar que, não é porque algo é útil que deve ser estudado e estar no currículo. Por exemplo, as séries de Fourier * são importantíssimas na área de música digital, mas nem por isso esse conteúdo é ensinado no ensino básico. Por outro lado, existem assuntos que aparentemente não têm aplicabilidade, mas são extremamente úteis para o desenvolvimento do raciocínio lógico e da argumentação. Por exemplo, entender que a quantidade de números pares é exatamente a mesma de números naturais. Ou que existem conjuntos de infinitos maiores que outros. Também acredito que educação financeira é assunto importantíssimo, que deveria estar no currículo.

https://www.youtube.com/playlist?list=PLxxuPLq9LHx4zWjVpithVtKlAmgY5RhHo

Que tipo de benefício o Brasil pode ter se ampliar o número de estudiosos da matemática?

Leo Akio – O desenvolvimento do país depende das engenharias, de uma economia estável, das novas tecnologias, do avanço na ciência. Importar tecnologia custa muito caro para o Brasil. Se conseguíssemos desenvolver tecnologia nacional seria muito melhor porque isso nos daria independência. A matemática tem papel fundamental na formação dos profissionais que tem que estar à frente de projetos de inovação tecnológica.

Graduado pela Unicamp, com mestrado e doutorado na área de educação em matemática, Leo Akio é professor do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)    Foto: Arquivo pessoalGraduado pela Unicamp, com mestrado e doutorado na área de educação em matemática, Leo Akio é professor do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Foto: Arquivo pessoal

Existem métodos ou recursos específicos que ajudem a fazer isso acontecer?

Leo Akio - Existem, claro. O problema é que as pesquisas na área de educação e ensino de matemática não chegam à sala de aula. Os educadores já produziram diversos materiais, recursos tecnológicos, metodologias específicas para melhorar o aprendizado de matemática. O que falta é melhorar a formação dos professores de matemática ainda na universidade. Além disso, o governo precisa oferecer formação continuada. Um exemplo positivo é o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), programa do governo federal voltado para professores dos 1º, 2º e 3º anos do ensino fundamental**.

Como surgiu seu interesse pela matemática?

Leo Akio – Desde que eu era criança meu pai já me propunha desafios de raciocínio lógico. Eu sempre gostei de pensar sobre eles e tentar resolvê-los sozinho. Na escola eu tinha facilidade nas aulas de matemática e ajudava meus colegas. Mas foi na época de cursinho pré-vestibular que fiz um curso chamado “Matemática aplicada à vida”, do professor Aguinaldo Prandini Ricieri, que existe até hoje. Foi graças a ele que decidi fazer faculdade de matemática na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Desde então, sigo apaixonado pelo ensino e pela pesquisa em educação matemática!

* Séries de Fourier: Jean Baptiste Joseph Fourier (1768-1830) publicou em Teoria Analítica do Calor seus estudos pelos quais mostrou que qualquer função, por mais complicada que seja, pode ser decomposta como uma soma de senos e cossenos com amplitudes, fases e períodos escolhidos convenientemente.

**O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa é um compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito Federal, dos estados e municípios de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental..

Entrevista publicada na revista eletrônica Pré-Uninesp

(A matemática que está em toda parte e o seu papel)

 

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