Um modernista iconoclasta, um mago da música erudita e um mestre da arte contemporânea, em um encontro histórico. Neste sábado, dia 13 de agosto, a Fazenda Capuava, em Valinhos, sedia um diálogo de diferentes gerações e concepções artísticas, compondo um mosaico da cultura brasileira, com a “reunião” de Flávio de Carvalho, o maestro João Carlos Martins e o artista plástico Antonio Peticov. Será em um evento beneficente, com início às 10 horas e em promoção da entidade filantrópica ACESA Capuava. Ética, estética e poética, conjugando o verbo da solidariedade.
A Fazenda Capuava é o local onde foi construída a casa concebida pelo arquiteto, engenheiro, cenógrafo, artista plástico e muito mais Flávio de Carvalho, um dos grandes nomes do modernismo verde-amarelo. Nascido em Amparo de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, em 1899, Flávio de Carvalho bebeu das vanguardas europeias do início do século 20, pela oportunidade de viver na Inglaterra, entre 1911 e 1922.
Enquanto cursava engenharia, frequentou a tradicionalíssima King Edward Seventh School of Fine Arts, mas o que encantou mesmo foi a descoberta das novas linguagens propostas pelo Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo e outros ismos que explodiram no pós-Primeira Guerra. Com esta bagagem sofisticada, voltou ao Brasil e logo enturmou-se com os modernistas da Semana de 1922 e outros expoentes, como Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Lasar Segall e Portinari.
Chocou a sociedade paulistana com o seu Anteprojeto para Miss Brasil e Pensando, de 1931, mas não se furtou em lutar na Revolução Constitucionalista do ano seguinte. Depois continuou a sua trajetória provocadora, de crítica corrosiva, com obras em pintura, escultura, desenho, cenografia de teatro e outros campos. Vestido de saia, prosseguiu incomodando. Ainda em 1936 concebeu a casa sede da Fazenda Capuava, em Valinhos, pertencente à família. A casa foi construída em 1938 e é um dos grandes exemplares da arquitetura modernista no país. Flávio de Carvalho morreu em Valinhos em 1973. Em 1994 o artista plástico e escritor J. Toledo lançou “Flávio de Carvalho – o comedor de emoções”, biografia do multiartista, pela Editora Brasiliense/Unicamp.
É nessa casa de grande significado que Flávio de Carvalho “recebe” Antônio Peticov no sábado, em iniciativa da inquieta curadora Ligia Testa, que preparou uma expografia que servirá, na prática, como um grande tributo à arte contemporânea. Uma coleção de echarpes, estampando a arte de Peticov, poderá ser adquirida no evento, além de 20 gravuras autografadas doadas pelo artista para a Acesa Capuava.
Nascido em Assis, em 1946, Peticov está completando 70 anos com uma grande produção artística. Também multifacetado, é pintor, gravurista, escultor e desenhista. É uma das estrelas da arte contemporânea brasileira.
O terceiro componente do encontro histórico é o maestro João Carlos Martins, que às 10h30 rege a Orquestra Camerata Bachiana no espetáculo “O Berimbau”, viabilizado pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura pela Lei Rouanet, com patrocínio da FMC, produção da D´color Produções Culturais e coprodução da Institutas Produção Cultural.
Aos 76 anos, João Carlos Martins tem uma biografia de sucesso internacional, como pianista e regente, e também de superação, pelas lesões que sofreu em diferentes oportunidades e que não o fizeram desistir da música. Pelo contrário, sempre ativo fundou em 2006 a Filarmônica Bachiana Jovem e é regente e diretor-artístico da Bachiana Filarmônica SESI-SP.
O evento em benefício da ACESA Capuava de Valinhos, na véspera do Dia dos Pais, terá outras apresentações musicais e também oferecerá um cardápio variado de FoodTrucks e outras opções culinárias. As apresentações artísticas são gratuitas. A Fazenda Capuava fica na rodovia Flávio de Carvalho.
A ACESA Capuava é uma entidade que se propõe a atender pessoas com transtorno do espectro autista e múltiplas deficiências. Foi fundada em 2002 e reúne múltiplos profissionais na região.
Um momento histórico para as artes e a cultura em geral de Valinhos e região. Um exemplo a ser seguido por outras cidades como a metropolitana Campinas. (Por José Pedro Martins)
Impressionante a qualidade dos seus textos, José Pedro! e a completeza do que a ASN pratica! Bjs