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A arte da amizade, refletindo a alma de Campinas
Os cinco amigos artistas, em ilustração composta por Martinho Caires

A arte da amizade, refletindo a alma de Campinas

A arte e a amizade nos consolam, em tempos tenebrosos. Quando as duas transitam juntas, a fórmula é perfeita e libertadora. Esta é uma das possíveis leituras da exposição “Cinco Amigos – Do Grupo Vanguarda à Contemporaneidade”, que tem vernissage nesta quarta-feira, dia 17 de janeiro, e abertura no dia seguinte, no Museu de Arte Contemporânea de Campinas “José Pancetti” (Macc). O local não poderia ser outro: o Macc, principal plataforma local para as artes plásticas, é um dos frutos do Grupo Vanguarda, o movimento que revolucionou a cultura campineira na década de 1950 e que é um dos exemplos de como a cidade pode brilhar se superar os limites da província.

Mas a exposição é, de fato, em primeiro lugar, um tributo ao companheirismo. No caso, aos afetos compartilhados por Dimas Garcia, Márcio Rodrigues, Vanderlei Zalochi e dois dos fundadores e expoentes do Grupo Vanguarda: Mario Bueno e Thomaz Perina, estes dois já falecidos. Durante muitos anos, os cinco artistas se reuniam e, juntos, comungavam sonhos, discussões sobre linguagens estéticas e comemoravam a vida.

Thomaz Perina - Nasceu em Campinas, em 23 de maio de 1921, e faleceu na sua cidade natal, a 28 de novembro de 2209. Muitas exposições, individuais e coletivas, e vários prêmios, como Grande Medalha de Prata no IX Salão Paulista de Arte Moderna, em 1960

Thomaz Perina – Nasceu em Campinas, em 23 de maio de 1921, e faleceu na sua cidade natal, a 28 de novembro de 2009. Muitas exposições, individuais e coletivas, e vários prêmios, como Grande Medalha de Prata no IX Salão Paulista de Arte Moderna, em 1960

Agora é a vez de Garcia, Rodrigues e Zalochi relembrarem e dividirem esse relacionamento criativo com o público mais amplo, pela exposição que ocupará todo o espaço do Macc, entre 18 de janeiro e 4 de março, com entrada gratuita. Serão 60 pinturas, a maioria inéditas ou nunca exibidas publicamente, dos cinco artistas e uma escultura de grandes dimensões assinada por Márcio Rodrigues.

Grupo Vanguarda – Será uma oportunidade excepcional para o público campineiro conhecer as obras e os estilos desses grandes artistas e de resgate da relevância que o Grupo Vanguarda teve para a cultura local. Em 2018 serão lembrados 60 anos do Grupo Vanguarda, que teve seu manifesto de lançamento publicado pelo Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), durante muito tempo a principal referência artística em Campinas.

Dimas Garcia - Nasceu em Promissão, em 1938, e desde 1970 mora em Campinas - antes, viveu em Limeira. Um dos organizadores do Grupo Campinas Arte Hoje, na década de 1980, e da 1ª Bienal Internacional de Gravura de Campinas, de 1987

Dimas Garcia – Nasceu em Promissão, em 1938, e desde 1970 mora em Campinas – antes, viveu em Limeira. Um dos organizadores do Grupo Campinas Arte Hoje, na década de 1980, e da 1ª Bienal Internacional de Gravura de Campinas, de 1987

Além de Mario Bueno e Thomaz Perina, integravam o Grupo Vanguarda: Geraldo Jürgensen, Bernardo Caro, Maria Helena Motta Paes, Raul Porto, Enéas Dedecca e Francisco Biojone, que continua muito ativo e produtivo em seu ateliê com bela vista para a Praça Carlos Gomes, no centro.

O Vanguarda rompeu os cânones acadêmicos que ainda dominavam as artes plásticas naquele final da década de 1950, quando Campinas começava a vivenciar uma metamorfose urbana que seria ininterrupta nos anos seguintes.

Membros do Grupo Vanguarda: Geraldo Jürgensen, Bernardo Caro, Raul Porto, Thomaz Perina, Enéas Dedecca, Mário Bueno, Francisco Biojone. Foto MIS/Campinas 1981

Membros do Grupo Vanguarda: Geraldo Jürgensen, Bernardo Caro, Raul Porto, Thomaz Perina, Enéas Dedecca, Mário Bueno, Francisco Biojone. Foto MIS/Campinas 1981

Muitos dos membros do Grupo Vanguarda passaram a expor em importantes salões e mostras de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Era a apresentação nacional de uma cidade que sinalizava ares metropolitanos e de um polo científico e tecnológico, o que seria confirmado pouco tempo depois com a fundação da Unicamp e do Aeroporto de Viracopos. A arte antecipava a realidade e projetava uma cidade vibrante, ousada.

Mario Bueno - Nasceu e faleceu em Campinas (1916-2001). Artista autodidata, participou de importantes exposições, como três bienais de São Paulo e Bienal da Bahia. Produziu mais de mil obras, entre colagens, pinturas, desenhos e outras formas de expressão

Mario Bueno – Nasceu e faleceu em Campinas (1916-2001). Artista autodidata, participou de importantes exposições, como três bienais de São Paulo e Bienal da Bahia. Produziu mais de mil obras, entre colagens, pinturas, desenhos e outras formas de expressão

Uma das consequências daquela pequena revolução estética foi a construção do Museu de Arte Contemporânea de Campinas, depois batizado de “José Pancetti”, em homenagem ao grande artista nascido na cidade e que literalmente navegou o mundo.

O MACC, por sua vez, desempenharia um papel fundamental na consolidação da arte de matriz campineira, com ações como o Salão de Arte Contemporânea de Campinas, que teve várias edições desde 1985 mas que, como outras realizações locais, perdeu-se no vácuo da inexistência de uma consistente e pluralista política cultural.

Márcio Rodrigues - Nasceu em Campinas, em 1950, e já aos 12 anos foi premiado na escola onde estudava em concurso de desenho e pintura. Muitas exposições coletivas e individuais no currículo. Além dos artistas campineiros, tornou-se amigo de criadores de países como El Salvador, como o famoso aquarelista Mauricio Puente

Márcio Rodrigues – Nasceu em Campinas, em 1950, e já aos 12 anos foi premiado na escola onde estudava em concurso de desenho e pintura. Muitas exposições coletivas e individuais no currículo. Além dos artistas campineiros, tornou-se amigo de criadores de países como El Salvador, como o famoso aquarelista Mauricio Puente

Pois chegou o momento da redenção, de revisitar – com base na amizade de cinco artistas – as propostas do Grupo Vanguarda, o seu destemor em pensar e criar o novo, com a exposição que será aberta nesta quarta-feira, dia 17 de janeiro, com vernissage a partir das 19 horas.

A produtora artística Ligia Testa resume bem o sentido da mostra, ao destacar que o conjunto de obras se torna universal ao reverenciar e valorizar o local. O curador da exposição é Gilson Barreto.

Vanderlei Zalochi também é natural de Campinas (1944). Artista autodidata, integrou o Grupo Campinas Arte Hoje.  Pintor e gravador, com participação em várias exposições.

Vanderlei Zalochi também é natural de Campinas (1944). Artista autodidata, integrou o Grupo Campinas Arte Hoje. Pintor e gravador, com participação em várias exposições.

A alma de Campinas pulsa na exposição  “Cinco Amigos – Do Grupo Vanguarda à Contemporaneidade”. Quem sabe seja um evento inspirador para a retomada da vocação criativa e inovadora que tem a cidade, imersa que está, nos últimos períodos, em um cenário político, cultural e estético em nada condizente com o que pode produzir e expressar ao mundo. (Por José Pedro S.Martins)     

 

 

 

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