Por José Pedro S.Martins
Com obras de Tomie Ohtake, Fayga Ostrower, Sérgio Niculitcheff, Francisco Biojone, Martinho Caires, Vânia Mignone, Sylvia Furegatti, Burle Marx, Renina Katz, Ricardo Cruzeiro e Bernardo Caro, entre outros, o Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC) “José Pancetti” reabriu as suas portas ao público, com os devidos cuidados que ainda devem ser mantidos em função da pandemia de Covid-19.
O horário de visitação gratuita é de segunda-feira a sexta-feira, das 11h às 17h. A capacidade permitida é de 25% e os protocolos de segurança devem ser respeitados, como o uso de máscara, álcool em gel e distanciamento social.
Trajetória de ousadia – O MACC retoma suas atividades, como um sinal de esperança de tempos melhores para a cultura e a vida em geral em Campinas, com uma exposição de obras do seu histórico acervo. Não poderia ser diferente, considerando que esse acervo, composto por produções de alguns dos principais artistas brasileiros contemporâneos, foi construído ao longo do tempo, como fruto de uma trajetória de resistência e ousadia.
Fundado em 1965, o MACC resulta da mobilização de artistas que integraram o Grupo Vanguarda, responsável por uma revolução estética e conceitual nas décadas de 1950 e 1960. Nascido oficialmente em 1958, o Grupo Vanguarda teve seu manifesto de lançamento publicado pelo Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), durante muito tempo a principal referência artística em Campinas.
Integraram o Vanguarda os artistas Mario Bueno, Thomaz Perina, Geraldo Jürgensen, Bernardo Caro, Maria Helena Motta Paes, Raul Porto, Enéas Dedecca e Francisco Biojone. O Grupo rompeu os cânones acadêmicos que ainda dominavam as artes plásticas naquele final da década de 1950, quando Campinas começava a vivenciar uma metamorfose urbana que seria ininterrupta nos anos seguintes.
Muitos dos membros do Grupo Vanguarda passaram a expor em importantes salões e mostras de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Era a apresentação nacional de uma cidade que sinalizava ares metropolitanos e de um polo científico e tecnológico, o que seria confirmado pouco tempo depois com a fundação da Unicamp e do Aeroporto de Viracopos. A arte antecipava a realidade e projetava uma cidade vibrante, ousada.
Uma das consequências daquela pequena revolução visual foi a fundação do Museu de Arte Contemporânea de Campinas, depois batizado de “José Pancetti”, em homenagem ao grande artista nascido na cidade e que literalmente navegou o mundo.
O MACC, por sua vez, desempenharia um papel fundamental na consolidação da arte de matriz campineira, com ações como o Salão de Arte Contemporânea de Campinas, que teve várias edições desde 1985 mas que, como outras realizações locais, perdeu-se no vácuo da inexistência de uma consistente e pluralista política cultural, embora sinais revigorantes tenham sido emitidos nos últimos anos.
Grande parte das obras que compõem o acervo do Museu deriva dos Salões de Arte Contemporânea, que desapareceram, entre outros motivos, com o pretexto de que aquele modelo não seria mais cabível no cenário das artistas plásticas do século 21. Pouca coisa inovadora, diferente, contudo, foi feita no lugar.
A reabertura do MACC, como um sinal de que a vida possa ser retomada aos poucos depois da pandemia, deve ser recebida então com a expectativa de que a marca da resistência e da coragem seja também resgatada. Que o Museu seja de fato um território livre para a expressão das inquietações e criações humanas, que com certeza serão incrementadas em função do pesadelo planetário da Covid-19. Um pesadelo que, no Brasil, tem sérios agravantes vindos de Brasília, como um negacionismo tosco que não rima em nada, por exemplo, com a vocação científica que Campinas cultivou no decorrer de sua história.