Ele é o poeta que resumiu o espírito da Semana de Arte Moderna de 1922 e da Revolução Constitucionalista de 1932, tendo lutado nas trincheiras no município de Cunha contra as tropas fieis a Getúlio Vargas. E para homenagear este ilustre filho da terra a Secretaria Municipal de Cultura de Campinas realiza, entre os dias 4 e 11 de julho, mais uma edição da Semana Guilherme de Almeida.
O evento é gratuito, virtual e este ano terá a participação de poetas do Brasil e da América do Sul, do Peru, e uma programação bem diversificada com batalha de poesia, poemas de cordel, haicais, declamação, leitura dramática, músicas, palestras e debates sobre a vida, a trajetória e as obras do poeta nascido em Campinas, a 24 de julho de 1890 e falecido em São Paulo, a 11 de julho de 1969.
A Semana será transmitida no canal do Youtube Cultura Abraça Campinas. A programação segue durante a semana e já está disponível no https://semanaguilhermedea.wixsite.com/2021.
Patrimônio de Campinas
“Gostaríamos de fazer um sarau presencial, mas a Semana Guilherme de Almeida no formato on-line foi preparada com todo carinho para passar ao público a mesma emoção e toda a riqueza do nosso grande poeta, um dos maiores patrimônios da cidade de Campinas”, disse a secretária municipal de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli.
“A finalidade ao revisitar a vida e obra de Guilherme de Almeida é proporcionar o protagonismo e interação de poetas e artistas vivos campineiros e até de outros cantos do mundo. Nosso desejo é tornar a cada ano mais conhecido ‘o príncipe dos poetas brasileiros’ e assim encontrar novos amantes da poesia e da arte. Vamos juntos trazer para Campinas um pouco mais de poesia e arte em tempos tão sombrios que estamos passando”, destaca a coordenadora setorial de Bibliotecas, Renata Alexsandra da Silva.
A abertura será neste domingo, às 15h, por meio de uma live que terá a participação da secretária municipal de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, do diretor de Turismo, Gabriel Rapassi, de Renata Alexsandra, da Coordenadoria Setorial de Bibliotecas, Maria Cristina de Oliveira, da União Brasileira de Trovadores, Ana Maria Negrão da Academia Campinense de Letras e Teresa Azevedo, do Projeto Ondulações com um bate-papo sobre “Faces de Guilherme de Almeida”.
Destaques
Para a Semana Guilherme de Almeida, a escritora e poeta de Campinas, Teresa Azevedo e outros participantes do Projeto Ondulações, apresentaram a vida e obra do poeta através de áudios e vídeos produzidos por voluntários para o poeta Miguel Reinoso do Peru, os homens privados de liberdade do Centro de Progressão Penitenciária de Hortolândia, deficientes visuais, usuários do Instituto Campineiro de Cegos Trabalhadores de Campinas e homens e mulheres refugiados da ONG África do Coração, São Paulo.
A partir do conhecimento da vida e obra de Guilherme Almeida, haverá a participação de algumas pessoas dessas entidades que produzirão poesias, música e outras artes de sua própria autoria e serão divulgadas em vídeo na programação da Semana.
Um poeta trovador do Norte do Peru, Miguel Reynoso, participará com um vídeo em espanhol em homenagem ao poeta, acompanhado de seu violão e vestido com o seu traje típico de chalan.
Haicais
Alunos do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental da EMEF Profª Angela Cury Zakia vão participar da Semana revisitando os versos autorais criados no ano passado, que foram produzidos após conhecerem os Haicais de Guilherme de Almeida. Haicais são poemas curtos de origem japonesa.
Esta é a terceira edição que a escola tem sua participação na Semana por meio da interação com a Biblioteca Pública Distrital de Sousas “Guilherme de Almeida”, localizada em Sousas.
Na edição de 2021 a produção é uma continuidade dos trabalhos, diz o professor Paulo Campos, mas com um olhar diferente dos alunos, pois alguns já retornaram presencialmente à escola. Os professores trabalharam com orientações de língua portuguesa, métrica do haicai, leitura, nuvem de palavras. A produção teve como tema expressões de saudade, esperança e outros sentimentos vividos em pandemia que serão retratados no vídeo que será apresentado no dia 08/07.
Batalha de Poesia
Para fechar a Semana haverá uma live com o Slam do Meio, um evento que acontece na região central de Campinas desde 2017. Originalmente chamado como Batalha de poesia, ele traz voz da periferia para ser ouvida em todos os cantos da cidade tendo como princípio de que qualquer cidadão é capaz de ter uma opinião válida sobre a vida, sociedade e a arte, não necessitando de formação acadêmica para tal.
Para a realização da Semana Guilherme de Almeida, a Coordenadoria de Bibliotecas da Secretaria de Cultura de Campinas contou com a comissão organizadora integrada por representantes da Academia Campineira de Letras, Ciência e Artes das Forças Armadas, Academia Campineira de Letras e Artes, Academia Campinense de Letras, Associação Brasileira Carlos Gomes de Artistas Líricos, Academia Nacional do Portal do Poeta Brasileiro, Ateliê Lisa França, Biblioteca Pública Distrital de Sousas Guilherme de Almeida, Câmara Municipal de Campinas, Centro de Ciências, Letras e Artes, Centro de Documentação Cultural “Alexandre Eulálio” – CEDAE/Unicamp, Conselho Municipal de Política Cultural, Coordenadoria Setorial de Bibliotecas Públicas de Campinas, Portal do Poeta Brasileiro, Rotary Clube de Campinas Cambuí, Secretaria Municipal da Educação e União Brasileira de Trovadores.
Príncipe dos Poetas
Guilherme de Almeida, poeta e ensaísta, é filho do jurista e professor de Direito Estevam de Almeida, e estudou nos ginásios Culto à Ciência, de Campinas, e São Bento e Nossa Senhora do Carmo, de São Paulo. Cursou a Faculdade de Direito de São Paulo, onde colou grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1912. Dedicou-se à advocacia e à imprensa em São Paulo e no Rio de Janeiro. Foi redator de O Estado de São Paulo, diretor da Folha da Manhã e da Folha da Noite, fundador do Jornal de São Paulo e redator do Diário de São Paulo.
O início da longa e rica trajetória literária foi com a publicação em 1916 das peças teatrais, escritas em francês e em parceria com Oswald de Andrade, “Mon coeur balance” e “Leur âme”. A publicação do livro de poesias “Nós” (1917)e dos que se seguiram, até 1922, de inspiração romântica, colocou-o entre os maiores líricos brasileiros.
Em 1922, foi ativo participante, com o próprio Oswald e também com Mário de Andrade e outros, da Semana de Arte Moderna, marco da cultura brasileira no século 20. Com Mário de Andrade e Sergio Milliet, funda logo em seguida a revista Klaxon, cujos primeiros números foram escritos em seu escritório.
Percorreu o Brasil, difundindo as ideias da renovação artística e literária, em conferências e artigos, adotando a linha nacionalista do Modernismo, segundo a tese de que a poesia brasileira “deve ser de exportação e não de importação”. Os seus livros “Meu” e “Raça” (1925) exprimem essa orientação fiel à temática brasileira.
A sua entrada na Casa de Machado de Assis, como é conhecida a Academia Brasileira de Letras, significou a abertura das portas aos modernistas. Formou, com Cassiano Ricardo, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia e Alceu Amoroso Lima, o grupo dos que lideraram a renovação da Academia. Em concurso organizado pelo Correio da Manhã foi eleito, 16 de setembro de 1959, “Príncipe dos Poetas Brasileiros”.
Foi membro da Academia Paulista de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Seminário de Estudos Galegos, de Santiago de Compostela e do Instituto de Coimbra. Traduziu, entre outros, os poetas Paul Géraldy, Rabindranath Tagore, Charles Baudelaire, Paul Verlaine e, também, a peça “Entre quatro paredes”, de Jean Paul Sartre.
Nas trincheiras da Revolução de 32
Outro evento marcante em sua vida foi a ativa participação na Revolução Constitucionalista de 1932, o episódio em que grande parte dos paulistas se rebelou contra o governo de Getúlio Vargas. Os revoltosos pediam a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, o que aconteceria dois anos depois do fim do conflito.
Guilherme de Almeida se alistou como voluntário e de fato lutou nas trincheiras, no município de Cunha. Mas também usou sua principal arma, a escrita, tendo colaborado intensamente com o “Jornal das Trincheiras”, publicação que teve 13 números e circulou de 14 de agosto a 25 de setembro de 1932, tendo sido uma das principais publicações de veiculação do ideário constitucionalista.
Em função da Revolução, foi preso, levado à Casa de Detenção no Rio de Janeiro e de lá para Portugal, onde permaneceu exilado. Em Lisboa, redigiu várias crônicas para a imprensa brasileira, depois reunidas no livro “O meu Portugal. Crônicas de um desterro”, um clássico da literatura do exílio.
Ainda inspirado pela Revolução, o campineiro desenhou os brasões de armas da capital, São Paulo, e de municípios do interior, como Caconde, Iacanga e Embu, além de Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF) e Guaxupé (MG). Ele considerava Brasília um símbolo de novos tempos e escreveu um hino para a nova capital federal.
EM DEFESA DO PATRIMÔNIO DE CAMPINAS
Mesmo não residindo mais e indo pouco a Campinas, Guilherme de Almeida não esquecia suas raízes. Pelo contrário, continuou preocupado com sua cidade e sobretudo com seus destinos culturais.
O poeta ficou particularmente inquieto, poucos anos antes de seu falecimento, com as notícias sobre a possível demolição do Palácio dos Azulejos, no coração da cidade. Na edição de 26 de novembro de 1967, o “Diário do Povo” publicou depoimento de Guilherme de Almeida sobre a questão. Disse o poeta, sobre suas impressões do prédio histórico:
“Era aquela nobre mansão, exatamente aquele que há quase vinte anos eu evocara e invocara nos meus artigos do Diário de S. Paulo, como modelo perfeito da nossa melhor arquitetura monárquica, no qual se instalou a Prefeitura Municipal de Campinas, e hoje secundo me informam (“horresco referens”) as picaretas oficiais estão querendo trabalhar, digo “trebelhar”. Será possível?… Não posso crer. Campinense, por mercê de Deus, embora, distante, estou presente aí, mercê do meu sangue, do meu pensamento e da minha fé, ao lado de vocês, para o que der e vier. “Campinas é bom pra nascer” — dizia o meu velho parente Rafael Duarte. Tinha razão. Tão bom mesmo que, onde, porque, como e “quando quer que seja, sempre ao inimigo soube dizer “Não”. E o dirá desta vez também”.
Neste caso os partidários da conservação do patrimônio venceram e a voz de Guilherme de Almeida foi fundamental. O Palácio dos Azulejos resistiu e hoje abriga o Museu da Imagem e do Som de Campinas.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DA SEMANA GUILHERME DE ALMEIDA
Dia 04/07 às 15h – LIVE de Abertura – Faces de Guilherme de Almeida – Roda de Conversa
Integrantes da Comissão da Semana Guilherme de Almeida 2021
Dia 05/07 – Campinas de Guilherme de Almeida em palestra e poemas
Rotary Clube Cambuí e Academia Campinense de Letras
Dia 05/07 – Um Salve a Guilherme de Almeida
Academia Nacional do Portal do Poeta Brasileiro
Dia 06/07 – Trovas a Guilherme de Almeida
União Brasileira de Trovadores UBT Seção Campinas
Dia 07/07 – Guilherme de Almeida em declamação de poesia, ilustração e leitura dramática
Ateliê Lisa França
Dia 08/07 – Poesia e outras Artes – EMEF Profª Angela Cury Zakia
Secretaria Municipal de Educação – SME
Dia 08/07- Semana Guilherme de Almeida apresenta: Sarau da Anne
Sarau da Anne
Dia 09/07 – Canção do Expedicionário
Centro de Ciências Letras e Artes – CCLA e
Associação Brasileira Carlos Gomes de Artistas Líricos – ABAL Campinas
Dia 09/07 – Poemas a Guilherme de Almeida
Academia Campineira de Letras e Artes
Dia 10/07 – Ultrapassando fronteiras com Guilherme de Almeida
Projeto OndulAções
Dia 10/07 – Guilherme de Almeida em Cordel
Samuel de Monteiro
Dia 11/07 – Guilherme de Almeida e o Modernismo
Biblioteca Pública Distrital de Sousas Guilherme de Almeida
Dia 11/07 às 16h – LIVE de Encerramento – Slam do Meio – Batalha de poesia
Slam do Meio