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Com feira e exposição, Campinas se abre para defender povos indígenas
Feira de Cultura Indígena neste sábado dia 21 de maio em Campinas, no SINPRO (Foto ONG Opção Brasil/Divulgação)

Com feira e exposição, Campinas se abre para defender povos indígenas

Com uma feira neste sábado, dia 21 de maio, na sede do SINPRO, e uma exposição no Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC) “José Pancetti”, a cidade se abre para defender os povos indígenas do Brasil, cada vez mais ameaçados por uma série de interesses de ordem política e econômica. Os dois eventos acontecem em um momento de forte discussão nacional sobre a demarcação das terras indígenas e quilombolas.

Neste sábado, entre 9 e 20 horas, a sede do Sindicato dos Professores de Campinas e Região (SINPRO), que está completando 75 anos, recebe a Feira de Cultura Indígena, uma iniciativa do Coletivo NINA e que marca o encerramento do Encontro de Cultura e Educação, que acontece desde o dia 14. A Feira traz a Campinas mais de 15 etnias que integram o Programa “Índios na Cidade”, da ONG Opção Brasil, cuja missão é promover a autonomia de povos e etnias indígenas que vivem no contexto urbano, por meio da organização de feiras e de geração de renda, além de atuação em políticas públicas, empoderamento, afirmação e valorização de suas culturas.

Serão muitas atrações na Feira de Cultura Indígena, como exposição e venda de artesanato, apresentações de canto e dança, sessão de contação de hsitórias, pintura corporal e rodas de conversa. A gastronomia estará por conta das barracas que comercializarão iguarias como sucos naturais, milho, tapioca e açaí.

O início do Feira terá uma toré, momento de dança e celebração, seguido de uma roda de conversa sobre as culturas indígenas e afro-brasileiras nas escolas. Oportunidade especial para a discussão das leis 11.645e 10.639, que estipulam o ensino destas culturas em salas de aula mas que ainda são pouco debatidas e incorporadas nos currículos e atividades escolares.

Nesta roda de conversa, representantes dos Pontos de Cultua Comunidade Jongo Dito Ribeiro e Ponto de Cultura e Memória Ibaô e representantes indígenas da ONG Opção Brasil conversarão com o público sobre a implementação dessa legislação a partir de suas práticas e conceitos. O SINPRO Campinas fica na avenida  Professora Ana Maria Silvestre Adade, 100, Parque das Universidades. Telefone (19) 3256-5022. A entrada na feira é gratuita.

Exposição permanece até o dia 12 de junho no MACC (Foto Martinho Caires)

Exposição permanece até o dia 12 de junho no MACC (Foto Martinho Caires)

Exposição no MACC –  Até o dia 12 de junho, o MACC sedia a exposição “O Olhar de Hercule Florence sobre os índios brasileiros”. Com curadoria, pesquisa e textos de Glória Kok (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP), Francis Melvin Lee (Instituto Hercule Florence) e Marília Xavier Cury (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP), a exposição reúne cerca de 150 itens, entre desenhos, pinturas, objetos, fotografias, vídeos, livros e mídias digitais que apresentam um panorama histórico e social dos povos Apiaká, Munduruku, Bororo, Guaikuru (atualmente Kadiwéu), Kayapó (hoje Panará), Coroado (Kaingang), Xavante Paulista, Guaná e Guató, e documentam as dinâmicas destes grupos.

A realização é do Instituto Hercule Florence (IHF), com apoio do Programa Incentivo à Cultura do Estado de São Paulo (ProacSP), Governo de São Paulo, MACC e Prefeitura de Campinas. Os organizadores esperam que o resgate histórico dos 190 anos que separam os registros oitocentistas de Hercule Florence e a situação atual possa contribuir para uma perspectiva futura sobre a situação indígena no Brasil. Para Campinas, é o momento de resgatar a trajetória de uma figura fundamental, o próprio Hercule Florence, apontado como o “Pai da Fotografia”, para se entender a construção da cidade, e particularmente sua estruturação como polo de pesquisa e desenvolvimento.

A exposição reúne trabalhos que Hercule Florence produziu como um dos desenhistas da Expedição Langsdorff, que percorreu o Brasil entre 1825 e 1829 e teve contato com várias etnias indígenas. Junto com a Feira de Cultura Indígena, a exposição representa, portanto, ocasião mais do que propícia para uma reflexão sobre o que aconteceu com os povos indígenas e também sobre o estado atual e perspectivas para esses grupos.

Depois de séculos de massacre e opressão, os povos indígenas brasileiros passaram a ter esperança com a Constituição de 1988, que reconheceu “sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam”. Cabe à União, pela Constituição, o papel de “demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.

Um dos resultados desse preceito constitucional é a que a população indígena voltou a crescer no Brasil, chegando a 817.963 pessoas em 2010, segundo o Censo do IBGE, das quais 502.783 na zona rural e 315.180 nas cidades – ou seja, são muitos indígenas no cenário urbano, como procura demonstrar a Feira de Cultura Indígena desde dia 21 de maio no SINPRO Campinas. No total, o Brasil tem mais de 230 povos indígenas, o que torna o país um dos mais ricos no mundo em diversidade cultural e linguística.

Ocorre que, em função de vários fatores, os povos indígenas continuam muito ameaçados no Brasil. Há forte resistência à demarcação de todas as terras indígenas, sendo grande a pressão para que essa decisão passe para a esfera do Congresso Nacional, e não mais sobre determinação do governo federal. Grandes projetos de hidrelétricas na Amazônia são outro grande risco para a integridade das terras e cultura indígenas, como já ocorreu com as usinas de Tucuruí (PA) e Balbina (AM) e, recentemente, com Belo Monte (PA). Interesses de mineração também ameaçam as comunidades indígenas, como têm denunciado organizações como Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Instituto Sócio Ambiental (ISA).

A exposição no MACC traz informações especiais sobre os povos Bororo e Coroados e Kaingang. Apesar das guerras, crises de fome e epidemias, os Bororo voltaram a crescer, após séculos de redução da população. Atualmente são 1.682 pessoas, vivendo em seis terras indígenas demarcadas, em território descontínuo no Mato Grosso.

Os Coroados ou Kaingang se distribuíam por amplo território entre São Paulo e Rio Grande do Sul e foram igualmente massacrados. A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e a expansão da cafeicultura paulista foram alguns dos elementos que contribuíram para sua diminuição populacional. Calcula-se que 80% da população Kaingang tenha sido exterminada.

A Feira de Cultura Indígena e a exposição  “O Olhar de Hercule Florence sobre os índios brasileiros” não deixam de ser motivo para esperança. O Museu de Arte Contemporânea de Campinas “José Pancetti”  fica na rua Benjamin Constant 1633, Centro. (Por José Pedro Martins)

Exposição reúne trabalhos de Hercule Florence e também fotos e muitos objetos (Foto Martinho Caires)

Exposição reúne trabalhos de Hercule Florence e também fotos e muitos objetos (Foto Martinho Caires)

 

 

 

 

 

 

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