A arte e a amizade nos consolam, em tempos tenebrosos. Quando as duas transitam juntas, a fórmula é perfeita e libertadora. Esta é uma das possíveis leituras da exposição “Cinco Amigos – Do Grupo Vanguarda à Contemporaneidade”, que tem vernissage nesta quarta-feira, dia 17 de janeiro, e abertura no dia seguinte, no Museu de Arte Contemporânea de Campinas “José Pancetti” (Macc). O local não poderia ser outro: o Macc, principal plataforma local para as artes plásticas, é um dos frutos do Grupo Vanguarda, o movimento que revolucionou a cultura campineira na década de 1950 e que é um dos exemplos de como a cidade pode brilhar se superar os limites da província.
Mas a exposição é, de fato, em primeiro lugar, um tributo ao companheirismo. No caso, aos afetos compartilhados por Dimas Garcia, Márcio Rodrigues, Vanderlei Zalochi e dois dos fundadores e expoentes do Grupo Vanguarda: Mario Bueno e Thomaz Perina, estes dois já falecidos. Durante muitos anos, os cinco artistas se reuniam e, juntos, comungavam sonhos, discussões sobre linguagens estéticas e comemoravam a vida.
Agora é a vez de Garcia, Rodrigues e Zalochi relembrarem e dividirem esse relacionamento criativo com o público mais amplo, pela exposição que ocupará todo o espaço do Macc, entre 18 de janeiro e 4 de março, com entrada gratuita. Serão 60 pinturas, a maioria inéditas ou nunca exibidas publicamente, dos cinco artistas e uma escultura de grandes dimensões assinada por Márcio Rodrigues.
Grupo Vanguarda – Será uma oportunidade excepcional para o público campineiro conhecer as obras e os estilos desses grandes artistas e de resgate da relevância que o Grupo Vanguarda teve para a cultura local. Em 2018 serão lembrados 60 anos do Grupo Vanguarda, que teve seu manifesto de lançamento publicado pelo Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), durante muito tempo a principal referência artística em Campinas.
Além de Mario Bueno e Thomaz Perina, integravam o Grupo Vanguarda: Geraldo Jürgensen, Bernardo Caro, Maria Helena Motta Paes, Raul Porto, Enéas Dedecca e Francisco Biojone, que continua muito ativo e produtivo em seu ateliê com bela vista para a Praça Carlos Gomes, no centro.
O Vanguarda rompeu os cânones acadêmicos que ainda dominavam as artes plásticas naquele final da década de 1950, quando Campinas começava a vivenciar uma metamorfose urbana que seria ininterrupta nos anos seguintes.
Muitos dos membros do Grupo Vanguarda passaram a expor em importantes salões e mostras de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Era a apresentação nacional de uma cidade que sinalizava ares metropolitanos e de um polo científico e tecnológico, o que seria confirmado pouco tempo depois com a fundação da Unicamp e do Aeroporto de Viracopos. A arte antecipava a realidade e projetava uma cidade vibrante, ousada.
Uma das consequências daquela pequena revolução estética foi a construção do Museu de Arte Contemporânea de Campinas, depois batizado de “José Pancetti”, em homenagem ao grande artista nascido na cidade e que literalmente navegou o mundo.
O MACC, por sua vez, desempenharia um papel fundamental na consolidação da arte de matriz campineira, com ações como o Salão de Arte Contemporânea de Campinas, que teve várias edições desde 1985 mas que, como outras realizações locais, perdeu-se no vácuo da inexistência de uma consistente e pluralista política cultural.
Pois chegou o momento da redenção, de revisitar – com base na amizade de cinco artistas – as propostas do Grupo Vanguarda, o seu destemor em pensar e criar o novo, com a exposição que será aberta nesta quarta-feira, dia 17 de janeiro, com vernissage a partir das 19 horas.
A produtora artística Ligia Testa resume bem o sentido da mostra, ao destacar que o conjunto de obras se torna universal ao reverenciar e valorizar o local. O curador da exposição é Gilson Barreto.
A alma de Campinas pulsa na exposição “Cinco Amigos – Do Grupo Vanguarda à Contemporaneidade”. Quem sabe seja um evento inspirador para a retomada da vocação criativa e inovadora que tem a cidade, imersa que está, nos últimos períodos, em um cenário político, cultural e estético em nada condizente com o que pode produzir e expressar ao mundo. (Por José Pedro S.Martins)