Por José Pedro Soares Martins
Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito neste dia 30 de outubro de 2022 presidente da República do Brasil pela terceira vez, tendo pela frente um país para unir e múltiplos desafios a superar. Vencendo a eleição presidencial mais tensa da história, em que o atual chefe do Executivo usou como nunca os aparelhos do Estado para sair vitorioso, e não conseguiu, Lula terá que liderar um governo de aglutinação nacional, para vencer em primeiro lugar o legado de intolerância, de armamentismo, de truculência, de misoginia, de homofobia do atual mandato, prestes a se encerrar.
Com representantes de vários setores, Lula poderá então executar um projeto de governo que tem como desafio número um dar dignidade aos 33 milhões de brasileiros que não tem o que comer em 2022, segundo os dados do II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 (II VIGISAN), promovido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania Alimentar (Rede PENSSAN), com apoio da Oxfam Brasil e um conjunto de organizações. O levantamento mostrou que 58,7% da população brasileira está em situação de insegurança alimentar. De fato, o Brasil ter voltado ao Mapa da Fome é uma das piores heranças do atual governo federal.
Para vencer a fome, será necessário um grande esforço pela geração de mais empregos com renda que de fato permita o cumprimento dos direitos básicos de cidadania. Um projeto de desenvolvimento nacional que resgate muitas iniciativas inclusivas dos primeiros mandatos de Lula e também de Dilma Rousseff, mas que tenha maior ambição no sentido de promover de fato a igualdade social, nas áreas urbanas e meio rural.
Esse projeto também terá que considerar os enormes desafios na área ambiental, como no caso flagrante da Amazônia. Como resultado do completo desmonte das estruturas de fiscalização e monitoramento, o desmatamento atingiu recordes na Amazônia durante o governo Bolsonaro. Somente de janeiro a setembro de 2022, o avanço do desmatamento já superou em 4,5% o que foi desmatado ao longo de todo o ano de 2021. No mês de setembro foram desmatados 1.455 km2 de floresta, ou 47% a mais do que no mesmo mês do ano passado.
Recuperar as medidas de combate ao desmatamento na Amazônia será então uma meta fundamental para o governo Lula. O realinhamento do presidente eleito com a deputada federal eleita Marina Silva é um sinal de que isso será feito. E, claro, todo cuidado é pouco com os dois meses que faltam para terminar o governo Bolsonaro. Como afirmou Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, em mensagem que acaba de ser divulgada:
“Acima de tudo, o país escolheu a democracia. Agora, temos que reconstruir um país destruído pela irresponsabilidade e pela incompetência. Na área ambiental, será uma longa jornada para refazer o que foi arrasado, começando pela retirada dos invasores das áreas indígenas e pela retomada do combate ao crime ambiental. O pesadelo está quase no fim, porém não podemos esquecer que Bolsonaro ainda tem mais 2 meses com a caneta na mão e ainda pode, neste fim de mandato, promover mais retrocessos na agenda ambiental.”
Mas também há outros desafios a cumprir nesse campo. O desmatamento também avança muito no Cerrado. No Agreste, é essencial garantir a preservação dos recursos naturais com a soberania alimentar da população. E o avanço da privatização da água e do saneamento deve ser repensado, pelo que isso significa de prejuízos para a população. Entre tantos outros tópicos a enfrentar.
Um enorme esforço terá que ser feito na área da Cultura, pelo reforço da cultura de paz, da retomada de princípios civilizatórios que foram esquecidos nos últimos anos. Na Saúde, o reforço do SUS, que demonstrou mais uma vez o seu enorme benefício durante uma pandemia que teve uma gestão catastrófica pelo governo federal. E no campo da Educação, muito a fazer para superar o enorme impacto provocado pela pandemia no sistema de ensino nacional, sobretudo na educação fundamental.
Trabalho não falta. Mas o arco de alianças que permitiu a vitória de Lula dá a esperança de que muitas conquistas serão alcançadas. Pelo bem de todo o povo brasileiro.