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Primeiro concerto de Villa-Lobos faz 100 anos: o Brasil que canta o Brasil
Foto de Heitor Villa-Lobos arquivada na Biblioteca Nacional, de autoria desconhecida, tirada por volta de 1922

Primeiro concerto de Villa-Lobos faz 100 anos: o Brasil que canta o Brasil

No começo de 1895, Nova Friburgo recebeu a sua primeira casa de espetáculos, o Theatro Dona Eugênia, no momento em que a cidade se firmava como uma opção de veraneio para a sociedade carioca. O teatro na rua General Câmara, atual Augusto Spinelli, tinha lugar para 600 pessoas.  Pois este foi o palco, no dia 29 de janeiro de 1915, do primeiro concerto em que Heitor Villa-Lobos apresentou obras suas. A centenária apresentação é um marco para a arte brasileira, e um momento particularmente especial para o compositor que simbolizou, como poucos, a busca de um caminho próprio para a música clássica nacional, verde e amarela.

Nascido no Rio de Janeiro, a 5 de março de 1887, Villa-Lobos herdou a paixão pela música do pai, Raul, um funcionário da Biblioteca Nacional que lhe ensinou os primeiros acordes e adaptou uma viola para que o filho começasse a estudar violoncelo. Com a força da música, Heitor pôde superar a morte precoce do pai, quando tinha apenas 12 anos. A vocação era nítida, o menino bebia e comia música o tempo todo, e essa fome o levava às raízes, às fontes da cultura brasileira. Ele queria traduzir o colorido que via e sentia em sons.

Em 1913, um fato central em sua vida, o casamento com a pianista Lucília Guimarães. Naquele 29 de janeiro de 1915, ela estava ao piano, acompanhando o marido que tocava o violoncelo. O flautista Agenor Bens também participou do concerto, que mesclou composições próprias do autor com obras de clássicos universais. “Minha música é natural, como uma cachoeira”, diria mais tarde Villa-Lobos sobre sua música. Os privilegiados que estavam no Theatro Dona Eugênia já puderam presenciar a tonalidade selvagem, radical, que o compositor impôs em toda sua obra.

Com essa força o maestro seria uma das estrelas da Semana de Arte Moderna de 1922, quando apresentou, em três recitais, composições como A Fiandeira, Danças Africanas, Festim Pagão, Solidão e Camponesa Cantadeira. Ao lado de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Guilherme de Almeida e Menotti Del Picchia, Villa-Lobos ajudava a escrever um dos mais importantes capítulos da história cultural brasileira. O grito de independência, a deglutição do velho e o vômito do novo, tupipinquim.

O amor pelo Brasil em outros campos. Villa-Lobos foi um entusiasta do Canto Orfeônico, através do qual considerava que o país poderia se alfabetizar musicalmente, contribuindo para o desenvolvimento em todos os sentidos. Em 1940, regeu para um coro de 40 mil estudantes no estádio de São Januário, do Vasco da Gama. Em 1942, fundou o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico.

Já casado com a segunda esposa, Arminda Neves d´Almeida, Heitor Villa-Lobos falece a 17 de novembro de 1959. Um dia depois, o jornal “The New York Times” dedica um editorial a sua obra. Era a comprovação do respeito que o autor de “Bachianas Brasileiras” conquistou em vários países. Ele compôs muito, e muita coisa boa, embebida em brasilidade. Há cem anos essa relação amorosa com o Brasil chegava aos palcos.

 

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