Em junho de 1958, o Grupo Vanguarda publicava o seu manifesto, que não deixava dúvidas quanto ao que queriam aqueles artistas de Campinas: “aos escribas q pretendem que uma andorinha modelada no bronze/ deva ter penas e cheiro de andorinha /propor / mostrar / demonstrar / fazer / refazer / renovar”. A revolução estética projetada pelos integrantes do Grupo Vanguarda foi fundamental para o movimento que levou à criação, em 1965, do Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC). Pois o próprio MACC foi o palco, na noite desta quarta-feira, 12 de agosto, da abertura da exposição de homenagem a Bernardo Caro, um dos expoentes do Grupo Vanguarda, marcando os 50 anos de fundação do Museu. E foi uma noite com a música e os passos do flamenco, simbolizando a estreita ligação que Caro manteve com a Espanha.
A exposição “Kaleidoscópio – Censura e Liberdade – Bernardo Caro” reúne 80 obras do multiartista, que foi pintor, gravador, desenhista, escultor, cineasta, fotógrafo, educador e professor. Nascido em Itatiba, em Itatiba, em 1931, passou já em 1933 a morar em Campinas, onde viveria toda a vida e faleceria, em 2007. Caro passou a integrar o Grupo Vanguarda em 1964, o ano que marcou o início do regime militar. Com os demais membros do Vanguarda, como Thomaz Perina, Mário Bueno, Geraldo Jürgensen, Francisco Biojone e Maria Helena Motta Paes, Caro passa a driblar a censura e o medo com uma obra seminal, que inclui Homens/Protesto, de 1967, quando a ditadura ficava mais intolerante.
Realismo fantástico, arte pop, arte conceitual, social. Caro transitou por vários estilos, sempre fiel ao primado da liberdade, daí o nome da exposição que tem como curadores Fernando de Bittencourt, curador do MACC, e Iracema Salgado, assessora de Artes Visuais da Secretaria Municipal de Cultura de Campinas. As obras pertencem em sua maioria à família de Caro, o artista que também deixou um importante legado acadêmico, tendo sido diretor do Departamento de Artes Plásticas da PUC-Campinas, de 1979 a 1982, também diretor do Departamento de Artes Plásticas da Unicamp, entre 1983 e 1986, e diretor do Instituto de Artes da mesma Universidade, de 1986 a 1989.
Bernardo Caro foi vice-cônsul da Espanha em Campinas, de 1996 a 2006. Chegou a expor em várias cidades espanholas e em 2007 o Instituto Cervantes, de São Paulo, montou uma retrospectiva da obra do artista, que morreu pouco tempo antes. Com entrada grátis, a exposição “Kaleidoscópio – Censura e Liberdade – Bernardo Caro” fica no MACC até 15 de novembro, a data da proclamação da República, cujos ideais sempre foram preciosos para o artista, assim como para todos membros do Grupo Vanguarda .
como princípio antes de tudo: m o v i m e n t o
antimodorra
predicado essencial: fazer
fazer conscientemente: ir ao âmago da coisa
por uma arte atual
pela renovação/revificação constante e progressiva
pela comunicação dos chamados §segredos da arte§
antiturris eburnea
contra a reserva dos mestres que guardam para si o pulo do gato
por uma crítica partindo do exame da coisa feita
NÃO §crítica 8 ou 80§ afirmação ou negação apoiada em pontos
estranhos ao objeto
interessa a obra em si s/ valor atual não o nome q a assina
pelo surgimento de uma atitude de debate
não basta dizer: isto é bom isto não presta
cabe dizer: porque é bom ou porque não presta
contra a cultura de almanaque
contra a crítica à moda blackwood
cumpre livrar a arte do misticismo inoculado pelos medalhões
asas conscientes
fuga porém sabendo os liames
pela divulgação impôr
escrever nos muros e andaimes se for preciso
arte para o lado de fora dos museus e das galerias fechadas
coerência c/ o atual estágio evolutivo da civilização
um poema é um poema
uma tela é uma tela
coisas não necessariamente ligadas a uma idéia determinada
de cujo esforço de expressão surgiram
sobrepor-se aos falsos estetas q usam vocabulário emprestado
a tratados superados
aos escribas q pretendem que uma andorinha modelada no bronze
deva ter penas e cheiro de andorinha
propor / mostrar / demonstrar / fazer / refazer / renovar
atitude de luta: anti-expectativa
conciliação de vectores numa ampla resultante:
renovação
não seremos velhos amanhã porque teremos mudado
artists are the antennas of the race (pound)
comunicação não / with usura / comunicação para arte presente
arte hoje
fora com os burgomestres falantes & vazios
fora com os fritadores de bolinhos
Alberto A Heinzl
Alfredo Procaccio
Edoardo Belgrado
Franco Sacchi
Geraldo Jürgensen
Geraldo de Souza
Maria Helena Motta Paes
Mário Bueno
Raul Porto