Com todas as contradições inerentes à vida de um ser humano e à biografia de uma liderança política, a trajetória de Chico Amaral, o ex-deputado federal e ex-prefeito de Campinas falecido na madrugada desta quinta-feira, 28 de janeiro, às vésperas de completar 94 anos, simboliza uma época da história recente do Brasil, marcada pela união e luta de vários grupos pela redemocratização do país. O prefeito Jonas Donizette decretou luto oficial de três dias no município.
Amaral começou a sua vida profissional e política como advogado sindical. Foi eleito deputado estadual e, depois, deputado federal por seis mandatos, sendo de sua autoria a lei que autoriza a utilização do FGTS para a compra da casa própria.
Ainda como advogado sindical, participou da delegação brasileira que participou do V Congresso Sindical Mundial, em Moscou, em dezembro de 1961. Essa viagem lhe custaria várias referências nos arquivos da chamada comunidade de informações. Na capital da então União Soviética, Amaral esteve hospedado no mesmo quarto que Irineu Simionatto, uma das lideranças sindicais de Campinas que, após o golpe militar de 1964, passaram a viver na clandestinidade, sem direitos políticos.
Como deputado e no primeiro mandato como prefeito de Campinas, Amaral sempre manteve diálogo com os grupos de esquerda, em particular com o Partido Comunista Brasileiro. Um momento em especial, durante a ditadura, teve o envolvimento direto do então deputado. Com o Ato Institucional Número 5, de 13 de dezembro de 1968, houve o recrudescimento da perseguição a lideranças políticas e sindicais, e um dos mais procurados passou a ser o deputado Márcio Moreira Alves.
Moreira Alves ficou escondido durante muito tempo e soube-se muito depois que ele acabou se refugiando em Campinas, inicialmente a convite de Francisco Amaral e, depois, em um pequeno apartamento de um cirurgião-dentista e então suplente de vereador, José Roberto Magalhães Teixeira.
Tendo Magalhães Teixeira, o “Grama”, como vice, Amaral foi eleito prefeito de Campinas para o mandato de 1977 a 1982. Em várias oportunidades, por afastamento de Amaral, Magalhães assumiu a chefia do Executivo. Depois “Grama” foi eleito seu sucessor – na realidade, Amaral tinha se afastado do cargo, para se candidatar a deputado federal, e assumiu como prefeito por alguns meses o presidente da Câmara, José Nassif Mokarzel.
Na carreira parlamentar e no primeiro mandato como prefeito, Francisco Amaral militou no MDB ou PMDB, que era uma frente de oposição ao regime militar. Com a Lei da Anistia e o fim da ditadura, em 1984, a oposição, considerando os grupos políticos mais `a esquerda, se dividiu cada vez mais. Ainda no PMDB, Amaral foi deputado constituinte, tendo recebido “Nota 10″ do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), por ter votado sempre a favor dos direitos dos trabalhadores.
O próprio Amaral migrou depois para o PPB, pelo qual foi eleito para um novo mandato na Prefeitura de Campinas, entre 1997 e 2000. Ele recebeu muitas críticas durante este mandato, a começar pelo fato de ter sido eleito por um partido que tinha suas origens no PDS, sucessor da Arena. Houve muitos atritos com os servidores municipais, que chegaram a receber salários atrasados. Com o novo mandato na Prefeitura de Campinas, Amaral encerrou sua carreira política.
Longe da política, sempre perto do Guarani Futebol Clube, o time do coração. Gostava de assistir aos jogos do tobogã e se orgulhava de ter sido prefeito quando o Guarani foi campeão brasileiro, em 1978. Como uma das homenagens, teve a iniciativa de dar nomes dos jogadores campeões a ruas do DIC I.
O seu falecimento marca o fim de uma era política em Campinas, representativa do momento em que havia uma união de esforços pela redemocratização do país. A democracia plena, nos campos político e social, continua sendo um desafio nacional.