Artilharia pesada de palavras, fogo cruzado de sons e imagens, bombardeio de versos livres e libertadores. O Largo do Pará, centro de Campinas, foi invadido pela poesia na tarde desta quinta-feira, 6 de novembro, como parte do Projeto Cidade Ocupada, iniciativa do SESC-Campinas e com apoio da Prefeitura, EPTV e Sindivarejista de Campinas e Região.
A poesia vive um momento épico em Campinas, com uma Primavera de Saraus em vários bares, associações de bairros, centros culturais. A reinvenção da poesia, pelo resgate do cotidiano, da vida vivida aqui e agora, na carne da cidade. A palavra sangrando e borbulhando de esperança.
A invasão amorosa do Largo do Pará foi mais uma batalha vencida. Rafa Carvalho, agitador cultural, criador do Sarau da Dalva, era um dos poetas mais entusiasmados. Mas também estavam lá Ariane Sartori, Flá Perez, Aline Turim, Mariela Mei, Sabrina Sanfelice, André Nogueira, William Gardel, Márcio Ide e Guga Cacilhas, outro ativista da cultura viva, co-criador do Asa da Palavra, outro sarau que reúne muitos apaixonados pelas letras em Barão Geraldo.
A fina for da nova poesia de Campinas, reunida na praça do povo, meio espremida pela correria do cotidiano, meio sufocada pela rapidez dos automóveis na rua Barão de Jaguara e avenidas Francisco Glicério e Aquidabã. O Largo do Pará carrega um certo estigma, integra uma geografia noturna peculiar, e a intervenção poética de hoje reafirma a sua importância como espaço cidadão, da diversidade, do encontro e dos afetos.
O Largo do Pará também é uma homenagem ao estado onde morreu o ícone cultural de Campinas, o maestro Antônio Carlos Gomes. A juventude que faz poesia, que perpetua o encanto e a belezura da poesia, de certo modo ressignifica esse território. Propõe um diálogo permanente entre a história e o eterno que também é terno. O Largo do Pará é de todos, pelas esquinas e vielas da poesia. (Por José Pedro Martins)