“O Expressionismo se empenhará em espremer o sumo da noite com todas as suas forças”, disse Henri Agel em “Estética do Cinema” (Cultrix, 1957), sobre essa que é uma das mais importantes correntes cinematográficas, fundadora de gostos e sintetizadora de tendências e da sensibilidade de uma época. Afinal, como nota o próprio Agel, o filme expressionista triunfou na Alemanha, a partir de 1914, sob o impacto das sombras da Primeira Guerra Mundial, antecipadora das trevas da Segunda. Pois o Expressionismo Alemão é, agora, o tema do novo ciclo do Curso de História do Cinema da Rabeca Cultural, no distrito de Sousas, em Campinas, com aulas ministradas por Bell Machado, nos meses de outubro e novembro. A primeira aula, aberta, será nesta quarta-feira, dia 4 de outubro, às 19 horas.
Ao longo do curso, haverá a exibição de clássicos expressionistas, seguida de discussão com o público. Caso de “Gabinete do Dr.Caligari”, de Robert Wiene, lançado em 1920, com Carl Mayer e Hans Janowitz, também autores do roteiro. “Misticismo e magia – forças obscuras às quais, desde sempre, os alemães se abandonaram com satisfação- tinham florescido em face da morte nos campos de batalha. As hecatombes de jovens precocemente ceifados pareciam alimentar a nostalgia feroz dos sobreviventes. E os fantasmas que antes tinham povoado o romantismo alemão, se reanimavam tal como as sombras do Hades ao beberem sangue”, comenta Lotte H. Eisner, em “A Tela Demoníaca” (Paz e Terra, 2002), sobre Expressionismo Alemão pós-Primeira Guerra em geral, mas que poderia ser a súmula de qualquer uma de suas obras-primas, como o próprio “Gabinete” ou “Nosferatu” (1922) e “Fausto” (1926), ambos do mestre F.W.Murnau.
As reflexões são atualíssimas, em tempos de ressurreição de ideologias que se pensava enterradas. Bell Machado vai, enfim, proporcionar um panorama sobre essa escola cinematográfica radical e perturbadora e que tem em Fritz Lang como um de seus grandes mestres, com filmes como “Dr.Mabuse – O Jogador” (1922) e o celebrado “Metrópolis”, de 1926.
Com o novo ciclo, Bell Machado contribui com a ampliação do olhar sobre o Cinema, o que já tinha feito com o primeiro, sobre o Neo Realismo Italiano, também na Rabeca Cultural. Outro ciclo gestado sob o impacto da guerra, a partir do lançamento de “Roma, Cidade Aberta”, de Roberto Rossellini, em 1945. Mais uma escola magistral, que teve Vittorio De Sica e Luchino Visconti como outros expoentes.
A arte que espelha, instiga, incomoda. A função do cinema e das linguagens artísticas, mais um brinde de Bell Machado aos interessados no novo curso na Rabeca Cultural. Bell é Bacharel em Filosofia pela Unicamp, em 2005. De 1983 a 1986 estudou Fonoaudiologia na PUC-Campinas e em 1989/90 Agronomia, na Universidade de Padova, Itália.
Foi docente no primeiro curso do Brasil de Especialização em Audiodescrição na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF, MG), em 2014 e 2015, no qual ministrou as disciplinas “Audiodescrição no Cinema” e “Linguagem Cinematográfica”. De 2009 a 2014, proferiu oito cursos de “Introdução à formação em audiodescrição”, com carga horária de 40 horas, em locais como a Secretaria Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida de Campinas (onde trabalhou, de 2013 a 2016, como coordenadora de projetos de acessibilidade cultural), Secretaria Municipal de Educação, Centro Cultural Louis Braille de Campinas, TV Comunitária – Canal Oito NET e Unicamp / LAB- Laboratório de Acessibilidade.
Entre 2013 e 2015, cursou o Mestrado em Multimeios no Instituto de Artes da Unicamp com a dissertação “A parte invisível do olhar : audiodescrição no cinema : a constituição das imagens por meio das palavras – uma possibilidade de educação visual para a pessoa com deficiência visual no cinema”. O cinema é, de fato, um território especial para Bell Machado, e é essa paixão que mostrou no primeiro ciclo da Rabeca e que repetirá no segundo, a partir da aula aberta nesta quarta-feira.
O curso terá continuidade, para os interessados, pelo custo de R$ 200,00 mensais. Uma primeira turma já foi formada, mas a Rabeca está aberta a outros interessados. A Rabeca Cultural fica na avenida Dona Maria Franco Salgado, 250, no Jardim Atibaia, distrito de Sousas, em Campinas. Informações no fone (19) 99720.6186.