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LISBOICES: Tão perto, tão longe
"Daqui da margem sul, Lisboa pode ser tão longe, ou tão perto" (Foto Eduardo Gregori)

LISBOICES: Tão perto, tão longe

Aluguei um carro para ir ao Algarve, no sul de Portugal. Desde que completei 18 anos tenho carteira de habilitação (aqui chamada de carta de condução) e automóvel. A minha vida em Campinas era quase impensável sem carro: de casa para o trabalho, para o shopping, para o supermercado, para São Pauto etc.

Viajei e um dia antes de devolver a viatura (sim, aqui se diz viatura), fui buscar meu gajo no trabalho, no Bairro Alto, o mais boêmio e turístico da cidade. Se arrependimento matasse…

Desde que cheguei a Lisboa, olhava com estranheza pela janela do meu quarto querendo entender porque o estacionamento na Estação Fluvial do Barreiro, na margem sul do Rio Tejo, fica lotado durante o dia de segunda a sexta-feira.  Será que esse povo que mora aqui não gosta de carro? Não tem estacionamento? Não gosta de dirigir? A resposta veio nessa noite.

Atravessar o Tejo da margem sul para o Terreiro do Paço, bem no centro de Lisboa, não demora mais que 15 minutos de barco, num percurso tranquilo e acessível. Porém, ir de carro significa percorrer quase 20 quilômetros margeando a península e pagar pedágio, ou portagem, como aqui é chamado. Isso sem mencionar o trânsito, caótico nas horas de pico.

O GPS quase me enlouquece com tantos “vire aqui, entre ali, e saia acolá”. E o estresse de dirigir em uma cidade que não se conhece por completo? Entrei atrás de um bonde, será que estou certo? Subi uma rua, será que podia? Alguém me acena dizendo que não. O suor escorre pelo rosto e o coração quase salta pela boca.

Chego ao Bairro Alto. As ruas são tomadas pelos turistas e pelos boêmios. Esqueça a buzina, aqui a preferência é sempre de quem caminha. E agora, onde parar? Se em uma cidade grande como Campinas, encontrar uma vaga no Cambuí é como ganhar na loteria, em Lisboa, estacionar   na rua é como achar uma agulha no palheiro: impossível! Não existe jeitinho: parou errado, é multa.

Talvez, a única lembrança boa que guarde desta experiência de dirigir em Lisboa tenha sido cruzar a Ponte 25 de Abril e ver a cidade pintada pelo sol do fim de tarde. Uma visão quase poética. Meu amigo, que estava ao meu lado no banco do passageiro, chorou com tamanha beleza. Eu não podia, engoli seco e apenas dirigi.

Por isso, desisti de comprar um carro, algo que estava nos meus planos. Talvez o faça algum dia, mas apenas para viajar por Portugal e países vizinhos. No dia a dia, prefiro o barco, o metro, o trem, ou simplesmente caminhar. Aliás ontem, apenas dois dias após chegar dos Estados Unidos e com o jetlag e a diferença de 5 horas de fuso horário ainda gritando na cabeça e no corpo, preferi resolver minhas coisas a pé.

Então, entendi porque o estacionamento na Estação Fluvial do Barreiro fica tão cheio. Quem precisa pegar o barco para Lisboa e mora longe da estação, escolhe evitar todo esse estresse do trânsito, além de ter que colocar na balança os gastos com pedágio, combustível e desgaste do carro.

Daqui da margem sul, Lisboa pode ser tão longe, ou tão perto. Basta escolher de que forma queres chegar lá!

Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal

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