LISBOICES: Desculpe-me lá

Há um hábito em Portugal que, para quem vem de fora, principalmente do Brasil, parece no mínimo bizarro. A primeira vez que presenciei foi ainda em Campinas, com meu marido.

Confesso que fiquei chocado e achava que talvez Paulo tivesse uma criação mais humilde, sem esses vernizes sociais que temos que nos submeter em público. Briguei com ele algumas vezes para que não repetisse aquilo, mas ele simplesmente não me atendia e não entedia porque eu lhe fazia uma pedido tão descabido.

Mas quando cheguei a Portugal, percebi que isso é feito por toda a gente, independentemente da classe social, educação, idade e sexo. Pois, outro dia estava no trabalho e uma menina linda fez o mesmo, na frente de todos. Achei aquilo tão grotesco que me deu uma certa repulsa.

Um amigo do Brasil, ao ver um rapaz fazer o tal costume português lhe disse: “que moleque mais porco”. Agora, toda vez que vejo o tal rapaz, que se converteu meu amigo, lhe chamo de garoto mais porco e rimos da história.

Outro dia, caminhando para o barco com dois amigos, um deles me diz que tem muitos gases e precisa aliviar. Virei-me para os dois e disse: “uma porcaria eu aguento, duas não!”. Me olharam rindo da minha cara de espanto

Depois que quase um ano por aqui digo que ainda não me acostumei e não sei se vou porque venho de outra cultura. Mas eu respeito e já não falo para a pessoa não fazer. Assim como muita gente acha estranho saber que tomo, as vezes, mais de um banho por dia, acho estranho o que esse povo daqui faz.

E quando fazem em público, em seguida vem a frase: “desculpe-me lá!”. Já ouvi tantas vezes que perdi a conta. Vocês têm alguma noção do que eu possa estar escrevendo sobre? Pois aqui em Portugal, arrotar em público é tão comum como espirrar, mas desde que digas desculpe-me lá, não é verdade?

Vivendo, aprendendo, respeitando, mas não copiando!