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Por Eduardo Gregori
É engraçado como os lisboetas tem uma relação com a distância bem diferente do que temos nós, brasileiros. Outro dia uma colega de trabalho de disse que mora muito longe. O percurso que faz de carro leva meia hora. Falei que meia hora é apenas metade do percurso para quem toma um ônibus entre, por exemplo, a região do Campo Grande e o centro de Campinas e isso em um horário tranquilo. Não quis nem comentar sobre São Paulo, onde as pessoas praticamente vivem no trânsito.
Talvez essa relação com suas distâncias impeçam os lisboetas a conhecer lugares como o que eu vivo. O Barreiro é um município para quem busca qualidade de vida. São 30 quilômetros daqui ao centro de Lisboa, mas isso por terra. Se for de barco, são apenas 15 minutos até o Terreiro de Paço. Sou velho, confesso e aqui o máximo que se escuta de barulho são os aposentados a conversar sob a sombra da árvore bem embaixo do meu prédio. Uma vez ou outra escuto a vizinha colocar seus discos de Roberto Carlos, saudade do Brasil, será?
Mas o Barreiro não é um cemitério, apesar de ter bem no meio da freguesia do Lavradio, um monumento gigantesco ao homem que outrora abriu frente na Margem Sul do Tejo e trouxe para cá muitas pessoas para trabalhar e povoar. Mas os lisboetas pouco conhecem aqui e não sabem o que estão perdendo.
O Barreiro não deve nada a Lisboa. Se queres comer uma boa carne, um restaurante dentro de um açougue é um dos melhores de Portugal. E não pense naquele açougue típico com gente vestida de branco a cortar carnes. O Talho Central é um dos mais elegantes da cidade, com carta de vinhos e carnes com cortes nobres. Frequento uma vez por mês para saborear uma picanha bem ao gosto brasileiro. Claro, acompanhada de um bom vinho português.
Por falar em bebida, o presidente de Portugal descobriu que aqui é um dos melhores lugares em Portugal para saborear o licor da ginja. Tanto é que ele vem todo ano. O vi de perto, pela primeira vez em dezembro. Uma simpatia que arrasta multidões por onde quer que vá.
Se for para comer doces, a Mafraria é um dos lugares mais conceituados e conhecidos em Portugal. Todas as vezes que passo na porta há uma fila gigantesca. Bolas de Berlim e de Manteiga são as que saem mais, mas a tradicional doçaria lusa é tão vasta que talvez seja impossível enumerar as delícias que saem dos fornos da Mafraria.
Caminhar pelo Centro Velho do Barreiro é ver cenas que dariam uma novela. De um lado, na matriz, o padre celebra a missa enquanto, mais para frente, uma feirinha vende de artesanatos a bijuterias e claro, muitas bebidas típicas. Mais adiante, um bar de motoqueiros bem ao estilo Born To Be Wild. Gente vestida em couro dos pés a cabeça, muita atitude e máquinas potentes.
Seguindo adentro pelo casario antigo, uma banda toca rock clássico quase na beira da praia. A plateia vai a loucura, pula e grita junto com o vocalista. Antes de voltar para a praça principal, o RollBar é o templo do rock dos anos 80. Decorado com guitarras e DJ com set list que chega ao máximo nos anos 90, é o lugar da cidade para voltar no tempo, paquerar e tomar umas boas bebidas. Vou sempre que posso.
O final ou o começo deste tour deve ser na praça principal da cidade, onde crianças brincam de dia e de noite, mas também é para se sentar, apreciar o verde que domina o lugar e tomar um cafezinho, uma taça de vinho ou comer tremoço. E há muito mais, como uma hamburgueria cujos sanduíches são os mais saborosos deste lado da margem. E no verão tem as praias, os quiosques, os dias sem fim de calor e brisa.
Lisboa é linda, mas o Barreiro também é parte do paraíso que é viver em Portugal
