Por Eduardo Gregori
Saio do trabalho à 1h da manhã. Normalmente pego o transporte da empresa diretamente para casa. Mas neste dia toda a gente só falava em uma coisa: as Festas dos Santos. Em outras vindas a Portugal já tinha visto a cidade decorada com fitas coloridas e as pessoas a se divertir como num carnaval fora de época. Ano passado assisti pela TV as marchas, uma belíssima expressão cultural portuguesa em que cada bairro das mais diversas cidades de todo o país apresenta um tema musical autoral e, em grupo, faz belíssimas evoluções.
Naquela noite decidi pegar outro transporte para saber porque essa festa atrai tanta gente. Fui parar em Alfama, um dos bairros mais tradicionais, históricos e belos de Lisboa. Bem, tive que me esforçar muito para chegar lá, pois estava entupido de gente. Era um verdadeiro mar de gente. Percorrendo as ruas de Alfama entendi porque os Santos são tão amados. Além, claro, de homenagear o trio Antonio, Pedro e João, a festas são para desopilar, descontrair e ser feliz como deve de ser, melhor ainda se for depois de um dia estressante de trabalho.
Pelas ruas a gente vê de tudo: o povo que segue os cortejos com seus bons drinques, outros não deixam de saborear uma sardinha frita servida no pão e há quem vá mesmo apenas para ser arrastado pela multidão.
Um amigo me conta que encheu tanto a cara que não sabe como voltou para casa e outro dançou até não poder mais. A festa tem um apelo tão forte que um trio que trabalha na mesma empresa que eu e vive do outro lado do Tejo, ficou até de manhã, quando parte o primeiro barco e retornaram a Lisboa poucas horas depois para trabalhar.
Seguindo pelas ruas me deparo com uma cena inusitada: No terceiro andar de um prédio, um DJ coloca na varanda seu equipamento de som e liga na potência máxima. Quem passa pela rua faz o trecho em frente ao prédio uma verdadeira pista de dança. Penso que morar em Alfama nesta época deva ser um caos, mas que nada, os moradores estão na janela, às 3h da manhã a dançar e com uma imensa alegria nos rostos.
A festança vai até o fim do mês por todo Portugal. Quem foi normalmente se refaz da maratona, descansa e parte para outra. Quem ainda não foi ainda tem tempo de curtir e muito. Acho que momentos como estes, tão pitorescos e tradicionais fazem deste país um lugar especial para se viver.