Por Eduardo Gregori
No meu primeiro ano na grande Lisboa eu descobri durante o verão a Praia da Alburrica. Uma praia fluvial no Vale do Tejo, bem perto da minha antiga casa no Barreiro. Eu adorava ir apesar de não ser uma praia com belezas naturais e nem ter ondas. Mas me fazia lembrar as águas mornas do Brasil. Ficava horas ali aproveitando o sol e o ir e vir de barcos rumo à Lisboa.
Um amigo chegou do Brasil naquele ano e queria conhecer as praias da Linha de Cascais. Pegamos o trem e fomos em três. No primeiro dia fomos até Carcavelos, praia de areias a perder de vista e uma belíssima vista.
No segundo dia rumamos para a Praia da Parede, uma pequena faixa de areia espremida entre o mar e um paredão de concreto. No decorrer do dia a maré vai subindo e a água lambendo a faixa de areia até quase não existir mais lugar para sentar.
No terceiro fomos até a Praia da Rainha, a primeira de Cascais. De tão pequena é difícil encontrar um lugar no areial. Gostei do passeio, mas confesso que quase não entrei na água. Talvez mergulhar em uma pedra de gelo fosse mais agradável. Só não reclamei no último dia, quando fazia 45 graus e o choque térmico extremo foi muito relaxante.
Mudei-me do Barreiro para Almada, próximo da famosa Costa de Caparica. Famosa por suas praias nativas, muito verde e… águas frias. No verão do ano passado me deu muita saudade do Barreiro, mas fui tentando me acostumar em virar picolé em pleno verão.
As temperaturas subiram em maio deste ano, muito antes do verão começar oficialmente. Tempo de pandemia, sem muita coragem de sair para evitar o contato social. Decidi ir para a Caparica e a cada mergulho fui me sentindo mais a vontade. Meu amigo César, que veio comigo do Brasil, ainda não consegue furar as ondas geladas.
O verão segue e continuo a ir pelo menos uma vez por semana na praia. Se está mais frio eu levo um livro ou ponho as fofocas em dia com César. Se está mais quente, entro com tudo nas águas das praias da Fonte da Telha, da Bela Vista, da praia 19, batizada de Praia Gay da Caparica. Me sinto bem.
Hoje, a temperatura alcançou os 40 graus. Eu estava de folga, em plena quinta-feira e já havia ido andar de bicicleta e fazer exercícios no Parque da Paz em Almada. Estava com preguiça e um pouco esgotado, mas não resisti.
Estou dentro do mar com pensamento longe, relaxado e apenas curtindo aquele momento. Não quero ser piegas, mas fui tomado de uma sensação de bem-estar e de paz. Fiquei ao sabor das ondas por mais de uma hora. Perdi a noção do tempo.
Depois, já deitado na areia, tomo consciência que cada dia que passa eu me integro a este Portugal que estou aprendendo a amar, agora como cidadão. Seja com suas águas frias, seja com sua burocracia, seja com gente as vezes mal-humorada. Este é o meu Portugal com quem estou em plena paz.