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São Paulo caminha para guerra da água, alerta professor da Unicamp
Rio Atibaia em momento crítico de 2014: vazão depende da liberação de águas do Cantareira (Foto Adriano Rosa)

São Paulo caminha para guerra da água, alerta professor da Unicamp

Sem chuvas que recomponham ao menos parcialmente reservatórios e a vazão dos rios, a Grande São Paulo e a Região Metropolitana de Campinas (RMC) caminham para uma guerra da água ao longo de 2015. A advertência é do professor Antônio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp, que lamenta a “ausência total de planos de contingência e a centralização das decisões sobre a crise hídrica no governo de São Paulo”. Os reservatórios do Sistema Cantareira, que abastecem metade da Grande São Paulo, chegaram a 5,3% nesta sexta-feira, 23 de janeiro. A vazão do rio Atibaia, de onde saem mais de 90% da água consumida em Campinas, estava em pouco mais de 5 metros cúbicos por segundo às 14 horas. O limite crítico para abastecimento é de 4 m3/s.

O professor Zuffo observa que as chuvas nos meses de maior precipitação, dezembro e janeiro, estão muito abaixo das médias históricas. Em dezembro choveu 70% da média e em janeiro, até hoje, dia 23, choveu somente 24%. Mantidas as chuvas abaixo da média em fevereiro e março, os reservatórios do Sistema Cantareira, por exemplo, podem secar nos próximos meses.

Antes disso, já entrarão em vigor as regras de restrição do uso da água na região de Campinas, indicadas nesta quinta-feira, dia 22 de janeiro, pela Agência Nacional de Águas (ANA) e Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica (DAEE). Quando os reservatórios do Cantareira estiveram com menos de 5% da capacidade, começarão as restrições, com corte de 20% da água para abastecimento humano e de 30% para os setores industrial e agrícola. Como os reservatórios do Cantareira estão com 5,3% da capacidade, a restrição pode ocorrer a partir da próxima semana, atingindo cidades como Campinas e outras das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.

Mas a restrição não ocorrerá apenas em termos quantitativos, observa o professor Zuffo, mas também qualitativos. “Com menor vazão nos rios, diminui a concentração de oxigênio e a captação para abastecimento eventualmente fica inviabilizada”, ele explica.

O especialista da Unicamp entende que a situação atual demonstra uma falta absoluta de preocupação com a segurança hídrica no estado mais rico e populoso do país, na medida em que cidades como Campinas dependem exclusivamente da água captada em rios, pois não contam com reservatórios de emergência. Por outro lado, as obras anunciadas para recompor o Cantareira e outros reservatórios demorarão no mínimo dois anos para estarem concluídas, não tendo portanto impacto a curto prazo. Neste cenário, a Grande São Paulo e a região de Campinas caminham para a guerra da água.

A longo prazo, o professor Zuffo entende que devem ser intensificadas medidas como a redução das perdas nas redes de abastecimento. Campinas tem sido um exemplo neste sentido, chegando a menos de 20% de perdas, e com anúncio de medidas para diminuir ainda mais o índice. No Brasil as perdas chegam a 37% em média, segundo relatório divulgado nesta semana pelo Ministério das Cidades.

O especialista da Unicamp lamenta que “o governo de São Paulo tenha concentrado totalmente as decisões para resolver a crise hídrica, contra o que diz a legislação, que prevê a descentralização de decisões através dos comitês de bacias”. Os comitês de bacia hidrográfica existentes em São Paulo estão, entretanto, paralisados, entende o professor Zuffo. “O governador tomou para si a gestão dos recursos hídricos e anulou os comitês, que não estão fazendo a função prevista na lei”, protesta.

 

 

 

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