Por José Pedro Martins
A mortandade de peixes disparou no estado de São Paulo em 2014, ano de forte estiagem e agravamento da má qualidade das águas. Foram 213 registros de mortandade em 2014, ou 22,5% a mais do que em 2013, fato que não ocorria desde 2010. Neste período a mortandade de peixes havia permanecido mais ou menos estável, em torno de 170 por ano de 2010 a 2013. As bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), onde está a região de Campinas, foram novamente “campeãs” no triste quesito, com 50 registros de mortandades, com a bacia do rio Mogi Guaçu em segundo lugar, com 40 registros, e a do Alto Tietê em terceiro, com 23.
Os dados estão no relatório “Qualidade das águas superficiais no estado de São Paulo 2014″, da Cetesb, a agência ambiental do governo paulista. O documento mostra como as bacias PCJ vêm mantendo a triste liderança na mortandade de peixes desde 2009, sendo responsáveis por 24% dos registros naquele ano, 26% em 2010, 22% em 2011, 29% em 2012, 27% em 2013 e 24% em 2014.
A bacia do Mogi Guaçu quase triplicou a sua participação entre 2013 e 2014, indo de 7% das ocorrências para 19%. A bacia do Alto Tietê, onde está a Grande São Paulo, mais do que dobrou a sua presença no lamentável ranking da mortandade de peixes, subindo de 5% em 2013 para 11% em 2014.
O relatório cita que, em fevereiro de 2014, “período de reprodução dos peixes, foi registrada uma grande mortandade de peixes no rio Piracicaba, causada pela queda na concentração de oxigênio dissolvido na água em decorrência da baixa vazão do rio”. Em novembro, acrescenta o documento, “devido à liberação de uma mancha de água anaeróbica no rio Tietê no município de Salto, ocorreu a morte de uma grande quantidade de peixes, na maioria corimbatás (Prochilodus sp), no Córrego do Ajudante, afluente do Tietê”.
Na bacia do Mogi Guaçu, houve grande mortandade de peixes na Cachoeira de Emas, conhecido ponto turístico, assim como em outros pontos do rio. A bacia do Alto Tietê, por sua vez, “apresentou uma taxa de registros de mortandades de peixes há muito não vista. Muitas das ocorrências estiveram relacionadas às Represas Guarapiranga e Billings, frequentemente associadas à floração de algas/cianobactérias”.
O documento nota que “a redução no nível dos reservatórios também foi um fator que levou à falta de oxigênio dissolvido e a uma ocorrência em particular de exposição de uma ampla faixa de sedimento que levou a morte indivíduos do bivalve Anodontites trapesialis no Reservatório Rio Grande. Esse organismo está nas listas estadual e federal de espécies ameaçadas e a redução no nível do reservatório levou à morte de milhares de indivíduos que compunham aquela população, sendo importante um estudo do impacto dessa ocorrência sobre a viabilidade dessa população no ambiente”.
A mortandade de peixes é um bioindicador da má qualidade das águas. Os números de 2014 confirmam o impacto da forte estiagem e, ao mesmo tempo, reforçam a necessidade de avanços nas medidas de despoluição e proteção das águas e da vida aquática.