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Maioridade Penal como conceito de totalidade social
Moraes: "Para o Comitê dos Direitos das Crianças, da ONU, existe uma recomendação que maioridade deveria ocorrer apenas após os 18 anos de idade". (Foto Adriano Rosa)

Maioridade Penal como conceito de totalidade social

Por Fernando Gomes de Moraes

Não tem sido tarefa simples essa discussão sobre a maioridade penal, considerando que além da pauta nacional que envolve tal questão, temos ainda o oportunismo político de alguns.

Quando colocamos a lupa para o resto do mundo, não é necessário muitos recortes científicos para compreender que não há um consenso sobre qual a idade mínima, para que uma pessoa deve responder por seus atos perante as leis de seu país, os próprios órgãos internacionais, como a Unesco, Unicef e a ONU não possuem uma definição exata com relação a essa idade, apesar de apresentar propostas de como esse tema deve ser tratado entre as nações.

Segundo a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), numa amostra dentre 54 países, existe uma grande diferença entre eles sobre a maioridade penal, que oscila entre os 12 e 21 anos no mundo. Para o Comitê dos Direitos das Crianças, da ONU, existe uma recomendação de que maioridade deveria ocorrer apenas após os 18 anos de idade.

É importante considerar, que aqui em nosso país, já temos a adoção da idade mínima, onde responsabiliza toda pessoa acima de 12 anos por atos ilegais. Isso está muito bem definido no Estatuto da Criança e do Adolescente, deixando claro que esse menor infrator deve merecer medidas socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. E todas essas medidas são aplicadas, considerando a gravidade da infração.

Entendo que a redução sendo discutida do jeito que está sendo, se torna perigosa, principalmente quando lançada através de discursos fervorosos e inflamados com grande apelo político, sem levar em consideração os dados e informações dos órgãos que estão legitimados para medir e regular essa questão aqui no Brasil, como os conselhos das Crianças, Instituições de internação e outras organizações sociais que possuem uma importante contribuição para trazer mais elementos em busca de compreender melhor esse cenário, e assim tratar uma questão tão complexa com informações mais apuradas e fundamentadas.

É necessário ter como essência nessa discussão, que ninguém, independente dos fatores econômicos, sociais ou políticos, nasceu criminoso ou delinqüente, e isso se estende também para o sistema prisional, onde ninguém que está lá privado de sua liberdade, nasceu preso, existe aí toda uma historicidade social e de privações de outra ordem, como desestruturação familiar, limitação ao acesso a educação, ao lazer, ao esporte e a cultura, a falta de acesso a uma alimentação adequada, consumismo, e o pior de tudo, da anulação de suas identidades sociais.

Penso que é necessário compreender a Maioridade Penal, dentro de um conceito de totalidade social, como uma categoria de conhecimento através da realidade, dentro de um todo estruturado e dialético, como definiu Enrique Dussel.

Por isso a redução da maioridade penal, sem trocadilhos, não pode ser reduzida a um sentimento raivoso misturado a outros de descontentamento societal, tem que ser pautada racionalmente em qualquer fato, mesmo que reunir todos os fatos não significa ainda conhecer a realidade, e todos os fatos (juntos) não constituem, porém a totalidade.

Os fatos somente se tornam conhecimento da realidade, se são compreendidos como fatos de um todo dialético, ou seja, se são compreendidos como partes estruturais do todo, e a maioridade penal não pode ser tratada dentro de suas especificidades, tem que ser conduzida em sua amplitude, passando pela os arranjos da Educação, dos acessos sociais para geração de autonomia e protagonismo.

 

Fernando Gomes de Moraes  é filósofo e teólogo,  Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos Sociais e Professor Universitário. Realizou muitos trabalhos no campo missionário em comunidades pobres, destacando África, em especial Angola e Moçambique, e também atuou na elaboração de Projetos de Desenvolvimento Comunitário para o Timor Leste (Protagonismo Juvenil), Paraguay, Venezuela e em comunidades Sertanejas do Nordeste Brasileiro.  É membro titular da Comissão de Estudos para o Desenvolvimento da África Austral do Parlamento Europeu – Bruxellas/Bélgica e da Comissão do Relatório Final do Projeto “Processos de Democratização e Desenvolvimento em Angola e África Austral” 2015, da Universidade Católica de Angola e o Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa. Foi Secretário Municipal de Inclusão e Desenvolvimento Social de Hortolândia-SP (2008-2012) e Presidente da Câmara Temática “Desenvolvimento Social” da Região Metropolitana de Campinas.  Atualmente é Diretor Estadual de Desenvolvimento Social da Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel – Funap – Governo do Estado de São Paulo. Lançou recentemente o livro “A ARTE DE PERTENCER”, pela Editora Novo Conceito

 

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