Por Adriana Menezes e José Pedro Martins
Uma cidade é feita, entre outros fatores, de narrativas, das histórias que as pessoas escrevem sobre elas mesmas e sobre e com a sua comunidade, e também das imagens projetadas sobre si mesmas e os outros. Nas vésperas de Campinas completar mais um aniversário, neste dia 14 de julho, a Agência Social de Notícias publica enquete exclusiva, com cidadãs e cidadãos representativos de diferentes segmentos, em torno da pergunta: qual a sua Campinas dos sonhos e qual a dos seus pesadelos? Ou seja, qual a cidade que você quer e qual você não quer? Os resultados estão abaixo.
As pessoas falam sobre a cidade desigual, que tem o décimo-primeiro PIB Municipal do Brasil, sede da região metropolitana situada em segundo lugar em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no país, polo de ciência e tecnologia, mas que ainda tem muitos desafios a enfrentar na educação, na saúde, na cultura, no meio ambiente e em vários outros setores. A cidade que tem onze bairros entre aqueles com maior IDH Renda no Brasil, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), mas que tem bairros e comunidades com IDH equivalente ao de áreas vulneráveis no Norte e Nordeste.
Uma cidade complexa, que acolhe bem muita gente, mas que ainda convive com expressões de intolerância. Uma cidade dinâmica, aberta ao novo, mas que também mantém traços fortes de conservadorismo. Uma cidade fascinante.
Política
Jonas Donizette, prefeito municipal
– A minha Campinas dos sonhos é aquela em que as crianças sonham, os jovens perseguem os seus sonhos, os adultos concretizam os sonhos e os idosos desfrutam dos sonhos. É uma cidade que respeita aas diferenças.
– A Campinas dos pesadelos, aquela que ninguém quer, é uma cidade sectária, que não valoriza a sua gente, onde as pessoas não se sentem parte da cidade. Felizmente Campinas é uma cidade conhecida pela ciência e tecnologia mas, principalmente, que tem em seu povo a sua maior riqueza.
Henrique Magalhães Teixeira, vice-prefeito municipal
– A Campinas dos sonhos é uma cidade construída por todos, edificada com amor, onde todas as pessoas sejam respeitadas.
– A Campinas dos pesadelos é aquela que não queremos que volte jamais.
Planejamento
Alan Cury, arquiteto, presidente do IAB Campinas
– O sonho de uma Campinas planejada, estruturada e desenvolvimentista.
– O pesadelo de uma Campinas desarticulada, sem planejamento e linhas mestras sobre onde quer chegar.
Fuad Cury, arquiteto e urbanista, diretor do Secovi, ex-secretário municipal de Planejamento
– A Campinas dos sonhos é a de uma cidade equilibrada, sem preconceitos e com visão de futuro, o que ela nunca teve. Uma cidade que pense não apenas no horizonte de quatro ou oito anos, mas em uma perspectiva de décadas.
– A Campinas dos pesadelos é aquela que remete ao passado, que se fixa no que passou. Uma cidade sem equilíbrio, harmonia e diálogo entre os diferentes setores.
Ali El-Khatib, do Instituto Jerusalém
– Uma política pública de valorização do município a partir do centro contemplando os bairros, distritos e a zona rural com um programa de valorização cidadã através com um plano de animação cultural e turística.
– É a desordem urbanística e a falta de um planejamento estratégico eficiente em toda a mobilidade urbana no município.
Darci Fernandes Pimentel, advogada especialista em Direito do Estado; Procuradora aposentada da Municipalidade de Campinas; representante do setor Poder Público nos Conselhos de Consumidores da Agência Nacional de Energia Elétrica -ANEEL, da CPFL Paulista e da CPFL Piratininga; ex-Assessora da Assembléia Nacional Constituinte, ex Superintendente Técnica da Fundação CEPAM
– A Campinas dos meus sonhos é a resultado de planejamento global bem feito e implantado, com serviços públicos funcionando a contento da comunidade e a população feliz.
– A Campinas dos meus pesadelos é a com trânsito caótico, serviços públicos essenciais falhos, violência e moradores de rua espalhados pela cidade, à míngua dos recursos fundamentais.
Cidadania
Silvia Brandalise, presidente do Centro Infantil Domingos A.Boldrini
– A Campinas dos sonhos é aquela com uma educação de qualidade, inclusiva, e com grande aproximação dos centros de pesquisa das políticas públicas.
– A Campinas dos pesadelos é aquela onde prevalece a violência em todas as suas formas.
Emannuelle Alckmin Leão
– A Campinas dos sonhos é uma cidade sustentável, acessível e inclusiva em todos os sentidos, para todos os segmentos sociais.
– A Campinas dos pesadelos é aquela com avanço científico e tecnológico, com sustentabilidade, mas inacessível para grande parte da sua população.
Paulo Tavares Mariante, presidente do Conselho Municipal de Direitos Humanos e Cidadania
– A Campinas dos sonhos de certa forma já existe. É aquela que acolhe as pessoas que aqui se estabelecem, que mantém relações harmoniosas e respeitosas com a diversidade de todo tipo. O sonho é que isso seja mais abrangente, pela luta de sua população criativa e generosa.
– A Campinas dos pesadelos é aquela marcada pelas concepções de certos segmentos que se sentem donos da cidade, como no caso do capital imobiliário. A trágica ideologia de gênero é um símbolo dessa Campinas conservadora.
Gislaine Rossetto, coordenadora geral do SOS Ação Mulher e Família
– Que sejam mais numerosas as árvores e as praças bem conservadas, com muito espaço para as crianças brincarem quando não estiverem nas creches em quantidade suficiente para as mães poderem trabalhar.
– Asfaltos esburacados, remendados, quase na altura das calçadas esburacadas, irregulares, despadronizadas, sem lugar para estacionar no trânsito congestionado, com árvores mutiladas por causa da fiação externa, em frente a casas pichadas e prédios cada vez mais altos, privados do sol e do vento pela proximidade entre si.
Maria Helena Novaes Rodriguez, vice-presidente da diretoria executiva da Associação de Educação do Homem de Amanhã (AEDHA) – “Guardinha”:
Campineira de nascimento, com muito orgulho, sempre digo que esta cidade tem tudo para ser, de fato, uma cidade dos sonhos. Afinal, muito do que é bom já temos por aqui: clima favorável, desenvolvimento econômico, industrial, científico e tecnológico de ponta…
Por outro lado, lastimavelmente, ainda que um dos municípios mais ricos da Região Metropolitana, é o que tem a maior desigualdade na distribuição de renda (agravada em anos recentes) e, por consequência, tem os maiores níveis de vulnerabilidade. Isso é paradoxal e cruel.
Está faltando aguçar o olhar e empreender com assertividade, para superarmos esse contrassenso. A cidade tem como fazê-lo: definir o ser humano como prioridade e cuidar das políticas públicas de saúde, assistência social e educação com sensibilidade e competência, com efetiva justiça social. Há muito por fazer! Arregacemos as mangas e vamos à ação lúcida e consequente!
Meio Ambiente
Rogério Menezes, secretário municipal do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Campinas
– A Campinas dos meus sonhos é cruzada por ciclovias integradas ao transporte rodoviário e sobre trilhos, com ônibus e táxis elétricos circulando pela cidade recarregados por energia solar. E com todas as Áreas de Preservação Permanente (APP) recuperadas formando parques lineares. E é isso que vamos construir.”
“A Campinas dos pesadelos é uma cidade que continue se projetando para os carros, como outras metrópoles, com o ar cada vez mais poluído e os carros sendo mais importantes que as pessoas. Pesadelo seria ter as áreas verdes mais destruídas.”
Arly de Lara Romeo, presidente da Sanasa –
– A Campinas dos sonhos é aquela de grande investimento em saneamento, que não tem falta d´água.
– A Campinas dos pesadelos é aquela do passado recente, que não queremos mais que volte.
Luiz Carlos Rossini, vereador, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Campinas
- O sonho de uma Campinas sustentável, sem violência, com uma natureza exuberante e qualidade de vida, onde as praças e os bosques estejam bem cuidados, com os rios cheios de peixes. Uma cidade feliz.
– O pesadelo de uma cidade com congestionamento de trânsito, suja, com pouco verde, onde as pessoas tenham uma relação de competição selvagem. Uma cidade violenta, sem solidariedade e com falta de água.
Economia
José Nunes Filho, diretor do CIESP-Campinas –
– Uma cidade com estrutura desburocratizada, com rapidez para a resolução dos problemas que impedem a instalação de empresas. Uma cidade com segurança jurídica, como na Lei de Ocupação do Solo, para que as empresas possam fazem os seus investimentos.
– Uma cidade com excesso de burocracia, com demora na liberação de alvarás e autorizações para novos investimentos e negócios, e com falta de segurança jurídica para as empresas investirem.
Sanae Murayama Saito, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Campinas e Região (Sindivarejista)
– A Campinas dos meus sonhos teria de volta os cinemas na área central. Quando falamos de revitalização do centro, precisamos trazer cultura. Os cinemas dos shoppings são caros e é preciso popularizar o cinema no centro.
– A Campinas dos pesadelos é uma cidade sem visão sistêmica, onde uma Secretaria Municipal não fala com a outra. É mais ou menos como é hoje e os nossos governos não enxergam. Para que tenhamos orgulho de ser campineiro, as secretarias têm de trabalhar unidas para o cidadão. Esse pesadelo tem de terminar.
Adriana Flosi – presidente da Associação Comercial e Câmara dos Dirigentes Lojistas de Campinas
Cultura
Ney Carrasco, secretário municipal de Cultura
– A Campinas dos sonhos é a cidade da igualdade e da diversidade cultural e humana.
– A Campinas dos pesadelos é aquela cidade que pensa pequeno, que não se vê como cidade grande, uma grande metrópole.
Egas Francisco, artista plástico
– A primeira coisa que uma cidade deve ser é séria, nas suas decisões, nos seus processos para resolver essas decisões. Está faltando seriedade, em geral, no Brasil inteiro. Campinas é um dos fulcros. Campinas já teve, num passado relativamente remoto, um prestígio maior quanto ao próprio caráter. Eu acho que ela precisa recuperar isso. Ela deve saber ser ela mesma, para que ela seja respeitada por todos. Essa é a Campinas dos meus sonhos.
– Eu estou extremamente decepcionado com Campinas, especialmente na parte cultural. Campinas dos meus pesadelos, eu nem falo.
Lígia Testa, curadora de arte e proprietária da empresa Projetos de Arte
– A Campinas dos meus sonhos seria altamente inclusiva em arte na infância. Acredito que se a criança cresce frequentando espaços nos quais ela possa conviver com a arte (adequada a cada faixa etária), inclusive participando de oficinas, ela vai apurar seu olhar estético. Na medida em que refina esse olhar, torna-se um adulto incapaz de sujar um parque, um lago, um local público. Torna-se uma pessoa melhor, que vai criar um mundo melhor, mais organizado, harmonioso, mais estético, mais ético.
– A Campinas dos meus pesadelos está cheia de espaços vazios de arte, de locais mal cuidados, sem instalações minimamente adequadas.
Maria Cecília Campos, coordenadora da Estação Cultura
E o povo nao fala aqui????