Um roteiro por paisagens ainda intocadas pela humanidade, algo cada vez mais raro, e ao mesmo tempo um apelo por uma nova era, de respeito ao planeta, casa comum de todos. Assim é a exposição “Genesis”, de Sebastião Salgado, que já percorreu o mundo e agora chega a Campinas com um conjunto de 100 imagens, resumindo o percurso do fotógrafo brasileiro por biomas com características tão diferentes. A exposição no SESC-Campinas será aberta oficialmente às 19 horas, com a exibição do documentário “O Sal da Terra”, de Wim Wenders, e ficará aberta ate 31 de julho.
“Genesis” é fruto de 8 anos de trabalho, em mais de 30 viagens, entre 2004 e 2012. A exposição é dividida em cinco seções geográficas: Planeta Sul (Antártica, Península Valdés, Sul da Georgia, as Falklands/Malvinas, arquipélago Diego Ramirez e as Ilhas Sandwich); Santuários (Ilhas Galápagos, Ilha Siberut – nos arredores da província de Sumatra, na Indonésia – e Madagascar; África (Delta de Okavango – na Botswana, Parque Virunga – na divisa de Ruanda, Congo e Uganda -, Namíbia, Sudão, Botswana, Etiópia, Líbia e Algéria); Terras do Norte (Alasca, Colorado, Parque Nacional Kluane no Canadá, extremo Norte da Rússia, Ilha Wrangel, Norte da Sibéria, península Kamchatka) e Amazônia e Pantanal (Pantanal no Mato Grosso, Rio Xingu, Rio Amazonas e seus afluentes no Brasil e Venezuela).
Sebastião Salgado costuma afirmar que “Genesis” é um grande prêmio que ele ofereceu a si mesmo, como possibilidade de ver o que havia de mais puro, de mais bonito no mundo, mostrando essa gama de texturas que formam o planeta Terra. “Acredito que essa exposição seja um fio condutor, no qual possa mostrar as pessoas uma nova forma de ver nosso planeta, para que a gente aprenda a amar, a respeitar e a protegê-lo. Essas fotos representam o que há de mais puro no planeta e acho que temos obrigação de fazer o máximo para proteger tudo isso, e, quem sabe, juntos, recuperarmos uma parte do que destruímos”, afirma o fotógrafo famoso, que também desenvolve há anos um trabalho de recuperação florestal no Vale do Rio Doce, recentemente golpeado pelo vazamento de uma barragem de rejeitos em Mariana (MG).
Para a curadora Lelia Wanick Salvado, esposa de Salgado e parceira nos diversos projetos, inclusive no trabalho de reflorestamento, “Genesis” é uma jornada em busca do planeta como existiu, desde sua formação e em sua evolução, antes que a vida moderna se acelerasse e afastasse do núcleo essencial. “É uma busca das paisagens terrestres e aquáticas até hoje intocadas; uma viagem em direção aos animais e grupos humanos que conseguiram escapar das transformações impostas pelo mundo contemporâneo. E “Genesis” comprova que o nosso planeta ainda abriga vastas e remotas regiões onde a natureza reina em imaculada e silenciosa majestade”, completa.
Um vigoroso apelo, portanto, à reflexão e ação. Reflexão sobre o que o chamado Antropoceno tem significado de impactos no planeta, ação para recuperar o que foi perdido e evitar que a devastação continue. De acordo com Luc Gnacadja, secretário executivo da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), o planeta perde por ano cerca de 12 milhões hectares de solo fértil, área correspondente a cerca de 11 milhões de campos de futebol. No Brasil são perdidas todo ano 286 milhões de toneladas de solo agricultável. Números suficientes para comprovar que o apelo à ação, feito por Sebastião Salgado, é uma urgência global.