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Movimentos de um Corpo Sentado neste sábado no Teatro Castro Mendes em Campinas
Cena de Corpo Sentado (Foto Christian Laszlo/Divulgação)

Movimentos de um Corpo Sentado neste sábado no Teatro Castro Mendes em Campinas

Amparada por diversas muletas tecnológicas, entre as quais as redes sociais e as inúmeras ofertas do universo televisivo, a cultura contemporânea tende a silenciar os movimentos das pessoas. Ao perceber tal situação, a premiada bailarina Jussara Miller resolveu dar um grito de alarde e fazer uma provocação para acordar esse tal sedentarismo. O resultado poético da ação está impresso no solo de dança Corpo Sentado, em cartaz neste sábado, dia 25 de junho, às 20 horas, no Teatro Municipal José de Castro Mendes, na Vila Industrial, em Campinas (SP). A entrada é franca.

A primeira versão de Corpo Sentado nasceu (literalmente) sentada, há 10 anos. Afinal, tratava-se do experimento prático de dissertação de mestrado de Jussara, defendida no Instituto de Artes da Unicamp. Na época, o resultado, além da conquista do título de mestre, foi o solo e a publicação do livro A Escuta do Corpo. Em comemoração aos 15 anos do Salão do Movimento, espaço de investigação de dança fundado pela bailarina, em Campinas, Jussara resolveu conduzir o espetáculo novamente à cena. Para tanto, contou com o edital Circulação de Espetáculo de Dança no Estado de São Paulo, do ProAC. Além da apresentação do solo por 10 cidades do interior paulista, a temporada oferece a oficina gratuita A Escuta do Corpo, ministrada pela coreógrafa.

A fim de remontar a nova versão do espetáculo, Jussara convidou o diretor e dramaturgista ítalo-argentino Norberto Presta. Por sinal, trata-se do quinto encontro entre os dois, que trabalharam anteriormente em Fuga! (2007), Clariarce (2010), Cá entre Nós (2011) e no solo premiado Nada Pode Tudo (2015). Em Corpo Sentado, Norberto assina tanto a direção quanto a dramaturgia do espetáculo. “Não somos porque pensamos. Somos porque os sentidos nos movem, dança sensorial que move o pensamento… danço logo existo!”, define o diretor poeticamente o solo.

No princípio, como agora, o solo trata de um corpo contemporâneo fixado, abandonado, acomodado, sedentário e estático. Muitas vezes, é claro, alimentado pela gama de informações e viagens oferecidas pelas telas da tevê, do computador e dos celulares de última geração. A partir dessa situação, a remontagem continua a refletir a cultura atual do não movimento, como destaca a bailarina, mas sem oferecer um juízo maniqueísta de valores ou moralista. Por isso, não busca dar respostas ao ‘corpo sentado’ do espectador, mas provocar uma reflexão. Instigar e causar sensações.

“Por trabalhar com a consciência do movimento na dança, percebo a grande importância que é a escuta do corpo em prol da compreensão de nossa expressão. E isso não está ligado somente ao bailarino, mas a todo ser humano. Cada vez mais, vejo que a cultura contemporânea nos leva para o não movimento. Até parece que a melhoria de qualidade da vida vem justamente com esse não movimento. Com isso, estamos cada vez mais nos ausentando, não mais escutando o outro e nos individualizando. Afinal, o ‘corpo sentado’ atual vem totalmente vestido de tecnologia”, provoca.

O encontro harmônico entre dança, fotografia e literatura se tornou a principal marca da linguagem da bailarina. Em Corpo Sentado, Jussara lança mão dos dois primeiros, continuando a parceria de quase três décadas com o fotógrafo Christian Laszlo. Afinal, cabe a ele assinar as imagens que são projetadas, por meio de duas telas, durante o espetáculo. “O trabalho faz um paralelo com essa excessiva oferta de imagens em nossa sociedade. Porém, nada é óbvio e sim provocações abstratas. A imagem serve como impulso e percebo o quanto ela reverbera em mim durante a dança”.

Além disso, na opinião da bailarina, Corpo Sentado vem carregado de um pensamento crítico do próprio processo da dança contemporânea no Brasil. “O que é falar de dança, hoje? Para mim, o entendimento da dança está sempre em processo, não é algo engessado. Por isso, após dez anos da estreia da primeira montagem, venho também refletir muitos aspectos da nossa arte. Por exemplo, na dança contemporânea, há uma cobrança e um certo preconceito sobre a atuação cênica do bailarino, que depois de uma idade não dança mais. Nesse sentido, eu tenho a militância de fazer dança na maturidade. Sigo na contramão, influenciada por um olhar pedagógico muito ‘linkado’ ao artístico”, avalia Jussara.

A oficina – Ministrada pela coreógrafa e professora Jussara Miller, a oficina A Escuta do Corpo está direcionada a bailarinos, atores e pessoas interessadas na pesquisa do movimento, a partir de 15 anos. Detalhe: não é preciso ter experiência anterior em dança. Durante o encontro prático de duas horas, “será trabalhado a improvisação em dança com enfoque na escuta do corpo, contextualizando o corpo presente a partir do referencial somático com a prática da Técnica Klauss Vianna”, destaca Jussara.

A bailarina – Com 30 anos dedicados à dança, Jussara Miller é bailarina, coreógrafa e doutora em Artes (Dança) pela Unicamp. Atualmente, compõe o corpo docente da Pós-Graduação em Técnica Klauss Vianna da PUC-SP, além de ser diretora e professora do Salão do Movimento, em Campinas. A partir da intensa pesquisa da compreensão do movimento, assinou dois livros: A Escuta do Corpo (Summus, 2ª ed, 2007) e Qual é o corpo que dança? (Summus, 2012). Ao longo da carreira, recebeu diversos prêmios, com destaque ao Prêmio Denilto Gomes de Dança 2015, como melhor coreógrafa, além da indicação ao Prêmio Governador do Estado de São Paulo, em 2015.

Informações: www.salaodomovimento.art.br

Oficina – A oficina gratuita A Escuta do Corpo será ministrada sábado (25/6), das 10h às 12h, no Salão do Movimento (Rua Abílio Vilela Junqueira, 712, Guará, Barão Geraldo, em Campinas/SP). Ao todo, serão oferecidas 15 vagas por ordem de inscrição pelo e-mail: contato@saladomovimento.art.br

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