A desigualdade só aumenta no mundo, como mostram dois relatórios recentes, de organizações de perfis políticos e ideológicos opostos, a Oxfam Internacional e o banco Credit Suisse. Segundo a organização humanitária Oxfam, o número de bilionários duplicou no mundo desde a crise financeira de 2008, chegando a 1645 pessoas em 2014. De acordo com o banco suíço, o planeta tem 128,2 mil pessoas muito ricas, sendo 4,3 mil com mais de US$ 500 milhões e 45,2 mil com mais de US$ 100 milhões. O Brasil tem 1900 ultrarricos, 200 a mais somente entre 2013 e 2014, todos com mais de US$ 50 milhões.
O relatório da Oxfam, “Iguais: Acabemos com a desigualdade extrema. É hora de mudar as regras”, foi divulgado na última semana de outubro, e começa observando que, de Gana à Alemanha, da África do Sul à Espanha, as diferenças entre ricos e pobres “estão aumentando rapidamente, e a desigualdade econômica tem alcançado níveis extremos”. Atualmente, a desigualdade na África do Sul “é maior que ao final do Apartheid”, diz o documento, sintetizando o drama do agravamento da desigualdade global.
Nos cálculos da Oxfam, as 85 pessoas mais ricas do planeta possuíam, em 2014, “a mesma riqueza que a metade mais pobre da humanidade”. Entre 2013 e 2014, apenas estas 85 pessoas incrementaram sua riqueza em US$ 668 milhões diários. “Se Bill Gates quisesse utilizar toda sua riqueza e se gastasse 1 milhão de dólares por dia, necessitaria 218 anos para acabar com sua fortuna”, exemplifica a organização.
“É necessário um certo grau de desigualdade para premiar o talento, as capacidades e a vontade de inovar e de assumir riscos empresariais. Contudo, a atual desigualdade econômica extrema debilita o crescimento e o progresso e não dá lugar a um investimento no potencial e nas capacidades de centenas de milhões de pessoas”, afirma o estudo.
Segundo a Oxfam, o aumento da desigualdade fortalece a desigualdade entre homens e mulheres. Das 500 maiores empresas do mundo, listadas pela revista “Fortune”, apenas 23 são dirigidas por mulheres, nota a organização humanitária, acrescentando que somente 3 das 30 pessoas mais ricas do mundo são mulheres.
A Oxfam observa que a desigualdade é uma preocupação cada vez maior em vários setores. Cita, a respeito, que pelo terceiro ano consecutivo a pesquisa “Riscos Mundiais” do Fórum Econômico Mundial concluiu que “as grandes diferenças de renda” são uma das principais ameaçadas mundiais da próxima década.
A debilitação da democracia é um dos efeitos do aumento da desigualdade, segundo o relatório. “A enorme capacidade de influência política que as empresas ricas podem exercer para manipular as leis a seu favor tem incrementado a concentração de poder e dinheiro em mãos de uma minoria. As instituições financeiras dedicam mais de 120 milhões de euros anuais para financiar exércitos de lobistas que trabalham para influenciar sobre as políticas da União Europeia em favor de seus interesses”, diz o documento.
O relatório da Oxfam cita o Brasil como exemplo de que é possível executar políticas para reduzir a desigualdade. “No Brasil, o salário mínimo cresceu em quase 50% em termos reais entre 1995 e 2011, contribuindo assim para a redução da pobreza e a desigualdade de forma paralela”, frisa o documento.
A Oxfam cita algumas medidas que podem ser executadas para a redução da desigualdade: 1. Fazer com que os governos trabalhem para os cidadãos e façam frente à desigualdade extrema. 2. Fomentar a igualdade econômica e os direitos das mulheres. 3. Pagar aos trabalhadores um salário digno e reduzir as diferenças com as exorbitantes remunerações dos executivos. 4. Distribuir a carga fiscal de forma justa e equitativa. 5. Superar os vazios legais na fiscalização internacional e as deficiências de sua governança. 6. Alcançara serviços públicos gratuitos universais para todas as pessoas em 2020. 7. Modificar o sistema mundial de pesquisa e desenvolvimento e de fixação dos preços dos medicamentos para garantir o acesso de todas as pessoas a medicamentos adequados e acessíveis. 8. Estabelecer uma base de proteção social universal. 9. Destinar financiamento para desenvolvimento, redução da desigualdade e pobreza, e fortalecer o pacto entre a cida dania e seus governos.
Credit Suisse – O relatório The Credit Suisse Global Wealth Report 2014, do banco suíço, foi lançado em meados de outubro e também indicou o crescimento da desigualdade global. O relatório mostrou que a riqueza global em 2014 alcança US$ 263 trilhões, contra US$ 223 trilhões em 2012. São 35 milhões de milionários (riqueza acima de US$ 1 milhão) em 2014, sendo 128.200 ultrarricos, com riqueza superior a US$ 50 milhões, dos quais 4.300 têm acima de US$ 500 milhões.
Segundo o banco suíço, o 1% dos mais ricos no mundo possuem 48,2% dos ativos globais, enquanto metade da população soma somente 1% da riqueza planetária. Em muitos países os 10% mais ricos aumentaram sua participação na riqueza, informa o relatório. Na China, a participação dos mais ricos aumentou de 48,6% da riqueza nacional em 2000 para 64% em 2014. Na Índia, de 65,9% para 74,0% no mesmo período. Na Rússia, de 77,1% para 84,8%.
No Brasil a desigualdade também aumenta, segundo o relatório do Credit Suisse. Os 10% mais ricos aumentaram sua participação na riqueza nacional de 69,4% em 2000 para 73,3% em 2014. São 1900 ultrarricos no Brasil, com patrimônio acima de US$ 50 milhões, sendo 200 a mais de brasileiros nessa condição apenas no último ano. O banco suíço estima que em 2019 o Brasil terá 47% a mais de milionários.