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Atletas e fotógrafos falam da exposição que conjuga esporte, deficiência, superação e novos olhares
Foto de Carlos Bassan do nadador Tiago Oliveira, de 15 anos, que tem planos de participar das próximas Paralimpíadas

Atletas e fotógrafos falam da exposição que conjuga esporte, deficiência, superação e novos olhares

Como promover a mudança do olhar sobre a deficiência? A resposta pode estar na exposição fotográfica “Um olhar sobre as diferenças”, aberta hoje ao público no Shopping Iguatemi Campinas. Idealizadores, fotografados e fotógrafos descobriram – depois da experiência das fotos – que tinham em comum o mesmo desejo de contribuir para uma nova postura e consciência a respeito desta questão na sociedade. As 12 imagens podem ser vistas de hoje, Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, até 30 de setembro. No dia 28/09, às 14h30, haverá visita guiada para deficientes visuais.

Doze profissionais diferentes registraram momentos de atletas especiais em suas modalidades: handbol, natação, basquete, lançamento de dardo, badminton, arremesso de peso, salto à distância, taekwondo, esgrima e lançamento de disco (veja abaixo a relação de fotos com nomes dos atletas e dos fotógrafos).

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Emmanuelle Alkmin, da Secretaria da Pessoa com Deficiência: exposição é um sinal de mudança     Fotos: Martinho Caires

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Emmanuelle lê em braille sobre mostra

Para a secretária Emmanuelle Garrido Alkmin, da Secretaria da Pessoa com Deficiência da Prefeitura Municipal de Campinas, a exposição é um sinal de mudança, “porque se antes não havia a inclusão na cidade e o deficiente estava sempre muito escondido nas entidades, hoje o lugar da pessoa deficiente é a ala nova da expansão do shopping Iguatemi Campinas. É uma inversão de valores importante”. A secretária acredita que há, portanto, potencial em Campinas para mudanças culturais de inclusão. “Estamos formando novas gerações. Mas, ao mesmo tempo, ainda nos deparamos com uma grande emissora como a Globo que decide não transmitir as Paralimpíadas do Rio, mantendo inclusive o estúdio ali.”

A idealizadora da exposição “Um olhar sobre as diferenças”, a publicitária Simone Martins, diz que o foco da mostra não está na deficiência, mas no talento esportivo das pessoas com deficiência em suas modalidades. “Eles não apenas aprendem a lidar com suas deficiências como nos ensinam a encarar de forma diferente. E, quando você vê as fotos e conhece suas histórias, deixa de ter pena e passa a ter admiração”, diz Simone, que já tem em mente uma ideia para a exposição de 2017.

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Simone Martins, publicitária idealizadora da mostra: você passa a ter admiração    Foto: Martinho Caires

Fotógrafos

A artista plástica Vera Ferro, com 40 anos dedicados à arte, diz que teve uma experiência nova ao fotografar Jeferson Prado, atleta de lançamento de disco. “Foi uma lição espetacular. Aprendi com o Jeferson e ele nem sabe o quanto; com a sua força e sua alegria. Ele é um herói pra mim.” Acostumada a fotografar água e reflexos, e com inúmeras exposições em sua carreira, a artista expõe pela primeira vez um retrato.

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A fotógrafa Carol Guerra ao lado da nadadora paralímpica medalhista Raquel Viel    Foto: Martinho Caires

Carol Guerra é fotógrafa, mas fez sua estreia em fotografia esportiva na exposição “Um olhar sobre as diferenças”. “Precisei correr muito em volta da piscina para acompanhar a velocidade da Raquel Viel. Adorei a experiência e durante as Paralimpíadas eu vibrei por ela. Programei meu celular para apitar cada vez que ela e a equipe brasileira estivesse competindo.”

Fotógrafo há mais de 26 anos, o jornalista Carlos Bassan se surpreendeu com a experiência que teve ao conhecer Tiago Oliveira, nadador de 15 anos cujo sonho é participar das próximas Paralimpíadas. Tiago perdeu os braços em um acidente quando empinava pipas, há dois anos, e sofreu uma descarga elétrica. “Eu estava preocupado em saber o que o incomodava, mas em três minutos de conversa eu percebi que não havia diferença nenhuma dele com qualquer outro adolescente. Isso foi uma surpresa e mexeu muito comigo”, diz Bassan emocionado.

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Giancarlo Gianelli ao lado da sua foto: ações que amolecem o coração das pessoas  Foto: Martinho Caires

O fotógrafo Giancarlo Gianelli participou da exposição promovida pelo shopping em 2015, com o mesmo foco no Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. Esse ano ele foi convidado para registrar Kelly Oliveira, do lançamento de dardo. “Acredito em iniciativas como esta para promover transformações. Isso amolece o coração das pessoas”, diz Gianelli, há muitos anos dedicado ao voluntariado e ações sociais. “A sociedade vai se tornar mais igualitária com relação a todas as diferenças: físicas, econômicas e sociais. Talvez eu não veja isso, mas no futuro isso vai acontecer.”

Atletas

O esporte entrou na vida da atleta Kelly Oliveira depois que sofreu um acidente, há três anos, e perdeu seu antebraço direito na fábrica que trabalhava. Primeiro praticou provas de pista, mas teve fraturas que a impediram de continuar. “Eu queria muito treinar e procurei outra saída. Encontrei o dardo”, diz Kelly, que pretende participar das próximas Paralimpíadas. “Não deu ainda, mas na próxima eu vou. Não consigo me ver sem o esporte. Quando estou treinando, esqueço os problemas.”

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Kelly Oliveira, lançadora de dardo, em foto de Giancarlo Gianelli que faz parte da exposição

A nadadora paralímpica Raquel Viel, de Vinhedo, foi fotografada por Carol Guerra. Classificada em 4º lugar nas competições do Rio em sua modalidade – 100m Costas -, Raquel não conseguiu medalha desta vez, mas trouxe cinco do Pan de Toronto, em 2015, e detém os recordes Panamericano e das Américas. “Mas no Rio foi mais emocionante por causa da torcida.”

Sua deficiência visual é congênita e a natação entrou em sua vida por intermédio da mãe, preocupada com sua segurança e sua saúde física. Em 2007 começou a treinar para o circuito paralímpico. Hoje, aos 33 anos, fisioterapeuta e atleta, Raquel visita escolas para falar de sua experiência. Ela acredita que ainda poderá participar das próximas Paralimpíadas, mas observa: “A nadadora que venceu na minha modalidade no Rio tem 19 anos. Os mais jovens estão aí.”

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Pedro Nogueira Filho, o melhor jogador de handbol do Brasil em 2014, mora em Santo Antônio de Posse e treina em Campinas, na Unicamp: esperança de ver a modalidade nas Paralimpíadas   Foto: Martinho Caires

O atleta Pedro Nogueira Filho, eleito o melhor jogador de handbol do Brasil em 2014, foi fotografado por Camila Oliveira. Há sete anos, Pedro sofreu um acidente de carro que o deixou paraplégico. “Na hora eu já não senti mais minhas pernas.” Não houve vítima fatal no acidente, mas dos quatro amigos que voltavam de um churrasco após muita bebida e diversão, dois tiveram consequências mais graves, entre eles Pedro e seu amigo que ficou tetraplégico e hoje também é atleta, jogador de rugby. “O passageiro da frente estava com cinto de segurança e não teve nada.”

Morador de Santo Antônio de Posse, Pedro treina na Unicamp regularmente, onde há uma equipe que se prepara para participar das Paralimpíadas quando a modalidade for incluída nas competições. “O badminton não era e, em 2020, vai ser incluído. Nós temos chances.”

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Liliane Silva Moreira, do arremesso de peso, em foto de Helena Pazzetti

ATLETAS E FOTÓGRAFOS

– Pedro Nogueira Filho, do handbol, retratado por Camila Oliveira.

– Tiago Oliveira, da natação, fotografado por Carlos Bassan.

– Raquel Viel, da natação, participante das Paralimpíadas do Rio, em clique de Carol Guerra.

– Eder Alexandre Domingues, do basquete, fotografado por FBarella.

– Kelly Oliveira, do lançamento de dardo, em foto de Giancarlo Gianelli.

– Júlio César Godoy, do badminton, clicado por Guilherme Pontes.

– Liliane Silva Moreira, do arremesso de peso, retratada por Helena Pazzetti.

– Vilma de Fátima Miranda, do basquete, em foto de Kaká Pillat.

– Larissa Oliveira, do salto à distância, em foto de Leandro Ferreira.

– os “Tigres de Bengala” (Adriana Galhardo, Ivailton de Souza Andrade, Jaqueline dos Santos, Lucas Carvalho Re e Quezia Lino de Souza Martins), do taekwondo, fotografados por Tatiana Ferro.

– Lenilson Tavares de Oliveira, da esgrima, em clique de Touchè.

– Jeferson Prado, do lançamento de disco, numa foto de Vera Ferro.

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Larissa Oliveira, do salto à distância, em foto de Leandro Ferreira

A data

O Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência foi instituído pelo movimento social em um Encontro Nacional, em 1982, com todas as entidades nacionais. Foi escolhido o dia 21 de setembro pela proximidade com a primavera e o dia da árvore, numa representação do nascimento das reivindicações de cidadania e participação plena em igualdade de condições.

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Parte dos atletas, fotógrafos e organizadores da exposição “Um olhar sobre as diferenças”, no Shopping Iguatemi Campinas     Foto: Martinho Caires

A exposição

A mostra ficará instalada no segundo piso do Iguatemi Campinas, próximo ao Suplicy Cafés Especiais, e poderá ser visitada gratuitamente de segunda a sábado das 10h às 22h e no domingo, das 14h às 20h. Além do patrocínio do Iguatemi Campinas, a exposição “Um olhar sobre as diferenças” tem o apoio da Secretaria da Pessoa com Deficiência da Prefeitura Municipal de Campinas, das agências NBS e Script e do Suplicy Cafés Especiais.

Serviço

Exposição fotográfica “Um olhar sobre as diferenças”

Quando: de 21 a 30 de setembro. No dia 28/09, às 14h30, haverá visita guiada para deficientes visuais.

Onde: segundo piso do Iguatemi Campinas (Av. Iguatemi, 777, Vila Brandina, Campinas, SP)

Horários: de segunda a sábado das 10h às 22h e domingo das 14h às 20h

www.iguatemicampinas.com.br

 

Sobre Adriana Menezes

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