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LISBOICES: Vida em suspenso
(Foto Pixabay)

LISBOICES: Vida em suspenso

Por Eduardo Gregori

Brasileiros, angolanos, moçambicanos e outros cidadãos lusófonos estão a inundar os Registros Centrais de Lisboa com o sonho de se tornarem portugueses. Eu mesmo percorri este caminho há quase dois anos, quando cheguei aqui. Ainda espero minha nacionalidade que está atrasada. E o atraso é pelo recorde de pedidos de nacionalidade, seja pela descendência, residência ou pelo casamento.

No ano passado passei cerca de 4 horas em uma fila para entregar a documentação. Para se ter uma ideia do quanto o caos se instalou nos Registros Centrais (serviço público que trata deste assunto), quem hoje inicia o processo conta com apenas 40 senhas de atendimento por dia e uma fila que está a dobrar o quarteirão. Antes, chegava-se às 7h e esperava-se a abertura do serviço às 9h. Hoje é preciso passar a noite na porta dos registros se quiser ser atendido no mesmo dia.

Em outro front, mais espera e desespero para quem chega a Portugal. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), órgão parecido com a Polícia Federal, anunciou que, devido ao grande volume de pedidos de atendimento para estrangeiros que querem se regularizar, só tem agenda disponível para 2020. Os jornais denunciaram outro problema: pessoas estão vendendo um lugar na fila do SEF. Os valores podem chegar aos 600 euros e sem garantias de que sejam verdadeiros. Muito provavelmente trata-se de uma farsa.

O desespero, principalmente dos brasileiros que ainda não têm o cartão de residência, é não poder encontrar emprego formal. Se para brasileiros legalizados é muitas vezes difícil encontrar uma boa posição no mercado de trabalho com contrato, imagine para quem está numa espécie de limbo legal. É mais ou menos do tipo: enquanto se espera por uma entrevista no SEF o estrangeiro não pode ser expulso do país, mas se não está regular, não pode encontrar um emprego melhor e muitas vezes nem mesmo utilizar o sistema público de saúde. É mais ou menos como se a vida legal da pessoa não existisse.

Vi de perto brasileiros serem explorados por não terem documentos portugueses. Muitas horas de trabalho, baixos salários e as vezes nem mesmo qualquer tipo de salário. Em outras palavras: trabalho escravo.

Portugal está mergulhado em um caos: de um lado uma avalanche de turistas que acabam por colocar pressão no mercado imobiliário. Os portugueses preferem alugar um imóvel por poucos dias e ganhar muito do que disponibiliza-lo para moradia e ganhar menos. Óbvio.

Mas essa pressão está levando portugueses sem casa própria e imigrantes para longe de Lisboa e até mesmo para as ruas, pois na capital e na região metropolitana não existem mais casas e apartamentos para alugar. E quando há os preços são proibitivos, como um quarto por 400 euros ou um apartamento tipo kitnet por 1 mil euros.

De outro lado, a enxurrada de imigrantes em busca de onde viver esticam ainda mais esta pressão e todos estão a se perguntar: até quando esta bolha aguenta? O governo tem promovido alguma remediação como beneficio fiscal para quem aluga a preços mais justos e realistas. Foram fixados tetos nos valores do aluguéis para determinadas áreas da cidade e que levam em conta também o tamanho do imóvel.

Porém, parece não haver muito resultado. Imagine, se você pudesse ganhar com sua casa 10 mil euros por mês ou 1 mil, qual escolheria? Confesso que escapei de tudo isso. Em 3 meses obtive minha residência, em 1 ano e meio consegui fugir do aluguel e espero para o final do ano a minha nacionalidade. É assustador como em 2 anos uma situação que estava sob controle hoje esteja neste caos e sem uma luz no fim do túnel. Quer vir viver em Portugal? Prepare-se e bem!

Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal