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Influencer da sétima arte
Paula Ferreira: crítica e consumidora de cinema (Foto Divulgação)

Influencer da sétima arte

Por Eduardo Gregori

Paula Ferreira coloca o interior paulista em destaque ao ser a primeira da região a apresentar festival de cinema
Paula Ferreira é destas pessoas que não param quietas. Nascida em Campinas, mudou-se com a família ainda bebê para Foz do Iguaçu, no Paraná. Já adulta voltou para Campinas e passou três anos na cidade até se estabelecer em definitivo em Paulínia. Dona-de-casa, cabeleireira, empresária, ativista dos direitos LGBTQ+ e mais recentemente influencer. Trabalhar é o que move essa jovem senhora com ar e energia de uma moleca.
Popular na internet, Paula batalha cada like e inscrição de seu canal com um conteúdo construído sobre pautas de arte e cultura e também de militância. Sério, mas ao mesmo tempo leve, o canal que leva o seu nome mostra também de forma bem descontraída editoriais de make up e dicas. Um destaque é a playlist Babados de Cabeleireira, em que Paula garante boas risadas com histórias hilárias, contadas de forma bem descontraída e engraçada.
E toda esta espontaneidade chamaram a atenção do público, de marcas e do festival de cinema Cinefantasy. Paula, que já fazia parte do júri, recebeu o convite para apresentar o evento deste ano, realizado totalmente em estúdio por conta da pandemia. Paula nos conta nesta entrevista sobre a premiação, sobre cinema e sobre seu canal.
Fale-nos um pouco sobre a premiação?
Cinefantasy é uma premiação de cinema para filmes nacionais e internacionais com temática fantasia. Ela que acontece todos os anos em São Paulo. Além do prêmio há também workshop e mostra dos indicados.
Quando ocorreu e quantos filmes concorreram?
Esse ano aconteceu entre os dias 06 a 20 de setembro. Foram 140 filmes do cinema nacional e internacional selecionados a partir de 780 filmes assistidos por uma curadoria rigorosa.
Como deu-se a sua escolha para apresentar a premiação? 
Ano passado fui convidada por Monica Trigo, diretora do evento, e Eduardo Santana, o idealizador, para entregar o prêmio “Fantástica Diversidade” para curta metragem. Acredito que desempenhei  bem o papel e eles tinham em mente que eu entregasse novamente o prêmio porém, enquanto Monica me passava as coordenadas de como seria, já que esse ano por conta da pandemia tudo deveria ser feito em estúdio, ela me questionou se eu não gostaria de apresentar todo o festival. Nem preciso dizer que dei pulos de alegria e aceitei na hora.
Você sempre esteve no meio do cinema especialmente em Paulínia. Qual a sua ligação com o cinema? 
Eu amo arte e cultura. Trabalho com shows e performances desde os 19 anos de idade, então quando Paulínia se tornou polo cinematográfico senti que era o momento de tentar outras vertentes da arte. Participei então de trabalhos voltados à produção cultural como teatro, cinema, novelas, desfiles e até eventos musicais. Trabalhei de uma forma informal inicialmente, aprendendo ao exercer a obra, mas em 2017 me formei pela Cais das Artes em produção e gestão cultural e aí tomei a frente de projetos artísticos na minha região.
Você assiste muitos filmes? 
Amo e assisto muito, não só filmes, como também teatro, musicais e tudo que envolva arte.
Que tipo de trama te agrada mais? 
Eu gosto de esvaziar a mente com boas risadas e perspectivas quase juvenis. Adoro uma boa comédia romântica.
Paula Ferreira: planos  para o canal no Youtube (Foto Divulgação)

Paula Ferreira: planos para o canal no Youtube (Foto Divulgação)

Este ano, apesar da pandemia, teve algum filme que você gostou mais?  
Falei tanto de comédia romântica, mas vou indicar dois dramas: “Mignonnes” vale muito a pena assistir, pois tem uma crítica social relevante. Tem também “Viver Duas Vezes”. Esse fala sobre o que não podemos deixar pra trás e nosso tempo por aqui.  Vou indicar também uma comédia romântica: “Férias”, que é um remake, mas trazendo piadas sobre problemáticas mais atuais. Com certeza serão ótimas risadas.
Você se acha uma pessoa crítica no que diz respeito a um filme?  
Me sinto crítica, mas também consumidora. Não quero perder o prazer de ver bons filmes.
Qual seu critério para avaliar uma produção? 
Eu tenho dois olhares. Esse ano também fui jurada no Cinefantasy, assisti os mesmos filmes três vezes cada. A primeira pra descontrair, apenas eu e meu coração, a segunda vez olhei a atuação, o cenário e o que mais meu olho pode captar e a terceira me atrelei à direção e à construção da história.
Qual sua opinião sobre o Polo de Cinema de Paulínia que foi desmontado?
A cultura e a arte no Brasil não têm sido prioridade. Paulínia é um reflexo da política brasileira e da falta de incentivo à cultura e à arte que vem se estabelecendo. O que salva é que mesmo sem os tais incentivos de nossos governantes, nosso povo exala cultura em tudo que faz como artistas que, neste tempo de pandemia, ofereceram sua arte de forma gratuita via internet.
Neste momento de pandemia você se sente segura de ir a um cinema? 
Não, não me sinto segura em ir em nenhum local com aglomeração. Estou isolada desde o carnaval. Paralisei meus trabalhos no dia 16 de março por total e assim estou até a vacina chegar. Estou trabalhando em casa sem contato externo com raras idas para comprar mantimentos ou passear com o cachorro em um campo aberto próximo ao teatro, só pra matar saudade.
Como influencer  sua opinião tem um peso enorme. Aconselharia as pessoas a voltarem a ver filmes nos cinemas?  
Não, jamais e de forma alguma. No momento a minha dica é FIQUEM EM CASA, mesmo locais que já abriram e estão permitidos por lei eu não vou, não incentivo ninguém a ir. Estamos vivendo um momento novo em que não sabemos de nada. Cautela ainda é necessária, mesmo depois da vacina eu terei meus cuidados.
Qual sua opinião sobre filmes exibidos em drives ins? Já foi, gostaria de ir?
Sim eu fui e achei super interessante. Levei lanche e coberta pois estava frio. Foi uma experiência bem legal. Acho, inclusive que deveria se manter mesmo depois que tudo passar.
Você gostaria de atuar em um filme? 
Sim, inclusive eu recebi uma proposta para um curta. As gravações iriam acontecer em abril deste ano, mas foi cancelado devido a pandemia. Vamos aguardar para o ano que vem.
Fale-nos um pouco do seu trabalho nas suas redes sociais 
No início eu nem via como trabalho. Meu intuito sempre foi levar informações sobre transexualidade e travestilidade, pelo fato de não ter nada didático nas mídias abertas. As poucas que tinham eram de forma pejorativa e marginalizada e isso me incomodava. Então, além de falar sobre a minha vivência, trago outras pessoas trans para falar sobre os recortes sociais delas, tentando assim desmistificar tudo que se acha sobre pessoas como eu.
Também falo sobre arte e cultura porque entendo que junto com a educação são o caminho da mudança, da liberdade. Como disse, não tinha pretensão que virasse trabalho. Porém esse ano, em meio a toda essa confusão de pandemia me vi com tempo ocioso e criei mais vídeos, aumentei os dias de gravação e eis que em agosto comecei a receber pelo trabalho no youtube e também recebi propostas de parcerias comerciais. Ainda não é nada que me permita abandonar meu trabalho, mas já enxergo que é possível. Acho legal entender como um trabalho, já que há uma carga horária até maior de produção e uma dedicação que não é diferente de qualquer empresa.
É mais difícil ser uma influencer no interior de São Paulo?
Tem dois lados. Um mostra que no interior tem menos concorrência e você se destaca mais rápido, mas também tem menos trabalhos. O que te estagna em não conseguir avançar. Já na capital tem mais trabalhos, mais propostas, você pode crescer mais, mas tem mais concorrência e então você precisa ir além dos seus limites para ganhar destaque. Ainda assim, na balança, vejo que as capitais são vitrines e há sim mais oportunidades.
Quais planos tem para o seu canal e para a sua vida profissional?  
Gostaria de avançar meu canal em número de seguidores para conseguir me dedicar 100% a ele, melhorar em muitos quesitos desde a produção dos vídeos, o conteúdo, a aparelhagem, nossa dedicação que hoje é dividida com outros trabalhos. Automaticamente minha vida profissional se basearia em viver da minha arte e trago aqui inclusive uma frase que levo pra vida  “Escolha um trabalho que você goste e nunca terá que trabalhar um só dia”. Eu sei a frase contém problemáticas, porque eu trabalho até mais hoje, mas é meu, é com amor, eu realmente sinto prazer.
Premiação:

Canal Paula Ferreira:

 

 

 

Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal