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É Preciso Entender De Arte Para Senti-La?

É Preciso Entender De Arte Para Senti-La?

Outro dia li sobre uma classificação dos diversos tipos de arte e tive a impressão que o tempo teria sido um dos fatores para o processo de numeração delas. Música (som), em primeiro lugar, seguida de Artes Cênicas – Teatro e Dança (movimento), Pintura (cor) e Escultura (volume), em terceiro e quarto lugares; e é sobre elas que quero falar mais adiante.

A seguir, em quinto e sexto, Arquitetura (espaço) e Literatura (palavra). Mais que sabido, a sétima arte contempla o Cinema (integrando elementos das anteriores e das próximas). Com o tempo, algumas expressões artísticas passaram a integrar “a galeria”, como: Fotografia (imagem), História em Quadrinhos, Jogos de Vídeo e Arte Digital, completando, assim, as 11 artes atualmente classificadas. Há várias outras classificações e novas artes surgirão.

O que me vem instigando há tempos está relacionado às Artes Visuais (pinturas e esculturas). Ouço quase todos os dias pessoas olhando admiradas para alguma tela e afirmando, após um tempo: ‘não entendo, mas gosto (ou não) do que vejo’. Às vezes, até se desculpam por ‘não entender de Arte’. Nunca ouvi, porém, alguém dizer que não emitiria opinião por não entender de Música, de Teatro, de Dança. Não vi uma única pessoa olhar maravilhada para uma casa e dizer: ‘não entendo de Arquitetura’! Frequento muitas salas de cinema e nunca presenciei alguém, nas saídas tumultuadas, comentar que não opinaria sobre o filme, por não entender de Cinema. Opinam livremente, o que é ótimo, estão expressando a emoção.

É Preciso Entender De Arte Para Senti-La?

É Preciso Entender De Arte Para Senti-La?

A Música, o Teatro e a Dança, especialmente na Grécia antiga (nas festas dionisíacas urbanas), igualavam nobres e plebeus que, no palco, tinham – de fato – a mesma importância. Em muitas peças, o nobre interpretava o plebeu e vice-versa (ali nasceu a democracia?). As Artes Visuais, porém, pertenciam apenas aos nobres e aos museus, onde apenas a elite tinha acesso e por um período muito longo, por séculos. Isso parece fazer com que a admiração concorra com o constrangimento em admitir o gosto pelas obras.

E a Arte é emoção para quem a contempla, com as mais diversas sensações brotando em diferentes pessoas: beleza, tristeza, alegria, indignação. E a Arte é absolutamente necessária, cada vez mais. E o que fazer para que as pessoas se sintam à vontade diante das Artes Visuais, apenas como contempladoras, assim como agem em relação à Música, à Dança, ao Teatro, ao Cinema?

Pessoalmente, não vejo outra forma além de expor de forma contínua e ostensiva as obras de artistas talentosos em vários locais: além de museus e galerias, em todos os espaços nos quais possa haver a convivência de pessoas, trocando ideias entre si e frente a elas, pinturas e esculturas. Expondo nos metrôs, nas feiras livres, nos vãos livres, facilitando a mobilidade e o acesso gratuitos, em alguns dias, para receber o maior número de gente possível. Promover e investir necessariamente na presença de crianças de todos os tipos de escolas, criando hábito, usos e costumes. Quanto mais conviver com a Arte, maior chance de a pessoa respeitar o patrimônio público, entendendo-se como também dona daquela obra, e melhor será sua relação com a estética e, a seguir, com a ética.

Victor Pinchuk, grande empresário ucraniano e fundador do PinchukArtCentre, um dos maiores centros de Arte Contemporânea na Europa Oriental, afirmou com sapiência: “arte, liberdade e criatividade mudarão a sociedade mais rapidamente que a política”.

Sobre Lígia Testa

Formada em Ciências da Computação mas absolutamente apaixonada por Arte e estudante de Arte desde sempre sem saber e, há uns bons anos, sabendo, atuando, e que assim seja até o final do meu tempo.

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