Uma das poucas coisas que me irritam aqui em Lisboa é a prática de burlar a cobrança nos transportes públicos. O preço de uma passagem aqui não é lá tão barato, principalmente quando se mora na periferia e é preciso se deslocar pela cidade. Mas isso não é motivo para simplesmente não querer pagar. O governo concede uma série de subsídios para aposentados, estudantes e para quem recebe menos de um salário mínimo.
Como funciona o golpe: Uma pessoa compra a passagem de trem ou de metrô e passam duas, três, quatro. E é preciso ficar esperto, porque muitas tentam passar junto com você sem você saber. O problema, além da burla, é ser pego pela polícia, pois quem paga multa é quem facilita esse tipo de atitude, no caso, quem pagou a passagem, ou seja, você! Até explicar que foi usado por um espertinho, o estrago já está feito.
Outro dia, indo para Cascais, fiquei chocado com a ação de um grupo de rapazes que pagaram apenas uma passagem e entraram em 10. Como a porta automática abre e fecha rapidamente, o que passou primeiro forçava o equipamento, numa atitude que beirava a selvageria e o vandalismo.
O vendedor de bilhetes limitou-se a olhar. Afinal, não havia polícia na estação. O que ele poderia fazer contra 10 rapazes? Ontem, na estação do Terreiro do Paço, pai e filho passavam pela catraca do metrô. Apenas o pai paga e o filho passa junto. Que atitude este pai está a ensinar para seu filho? Quando ele crescer vai acreditar que é normal não pagar e não apenas no transporte, mas em muitas coisas no cotidiano.
O mais estranho é que muitas das pessoas adeptas desta prática reclamam dos políticos corruptos. O golpe delas é menor que o de um político corrupto?
Para mim não importa se o roubo é de 1 euro ou um milhão. O que pesa é a atitude. Se você exige que o governo e o outro lhe respeitem, então se dê o respeito. Seja honesto, mesmo que minimamente. Lisboa é superbacana, mas também é vítima dos espertinhos.