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Lisboices: É pra se fartar de comer
Em Lisboa, a tentação culinária é grande (Foto Divulgação)

Lisboices: É pra se fartar de comer

Portugal é, com certeza, um país orgulhoso de suas tradições. E se alguma delas envolve culinária, aí então é que a coisa fica mais séria e saborosa. Em novembro, por exemplo, o Dia de São Martinho, comemorado no dia 11, encheu o céu de Lisboa de fumaça e um cheiro delicioso.
Para celebrar o dia do padroeiro dos mendigos come-se muitas castanhas assadas na brasa e bebe-se vinho jovem. E São Martinho deve ficar feliz, afinal o hábito das castanhas e do vinho jovem vão por novembro adentro, até quando houver colheita. Lembro-me de acordar e ao olhar pela janela uma senhora já, bem cedo, com seu carrinho fumegante e muita gente a saborear castanhas em volta dela. Também leva-se para casa para comer de manhã, de tarde ou à noite. O importante é comer!
Esta semana foi dia de celebrar Santa Luzia e manda a tradição que todo dia 13 de dezembro as mulheres devem oferecer aos seus amados o pito, que é um doce típico de massa e abóbora. Para aquelas que não têm tempo de fazer é fácil encontrar em todos lados da cidade.
Mas fico com dó de Santa Luzia e dou risada porque o português é mesmo uma língua que prega peças, pois o pito também é uma das milhares formas para designar o órgão genital feminino. Pelo menos no português luso. Na TV perguntam a um velhinho se ele vai oferecer um pito para sua esposa. Ele ri e diz que o dia será de pito e doces, causando uma gargalhada em todos à sua volta, incluindo o repórter.
Mas não pense que esta é uma tradição machista, em que apenas a mulher adoça a boquinha do amado. Em fevereiro é a vez dos homens retribuirem, oferecendo para suas amadas, no dia 3, dia de São Brás. a gancha do santo. A gancha é feita de água e açúcar. No fogo, à medida que vai enrijecendo, o açúcar caramelizado deve ser moldado em forma de gancho, que simboliza o cajado de São Brás.
Aí me lembro da festa da sardinha, entre junho e agosto, quando os bairros lisboetas se enchem de gente a comer sardinhas no pão e a dançar como um carnaval fora de época. E há ainda as festas medievais, em setembro, com pratos da idade média e agora, no fim do ano, quando começa a bater o frio, um caldo verde ou uma sopa são os preferidos para aquecer o corpo.
Meu Deus! Tem ainda as festas juninas quando se come fartura, churros, travesseiros de Coina e de Sintra e bebe-se licor de merda e vinho quente. O português é um tipo de gente que cria festas só para comer e comer bem! Tenho um amigo que chegou do Brasil faz dois meses e já ganhou uns cinco quilos. É bacalhau, café, chouriços, linguiças, bitoques, açordas, alheiras, favas e tantas iguarias lusas que é quase impossível não se jogar de cabeça e de boca.
Vamos deixar de lado o vinho, porque aqui qualquer birosca vende vinho bom e por preços inacreditáveis, tipo 1,50 2,00 euros. E já ia esquecendo que o Porto também tem suas delicias como a Francesinha, prato típico em forma de sanduíche, feito de pão, linguiça, salsicha, presunto, carnes  e coberto com queijo derretido. Provei novamente na minha recente ida à cidade. Tento manter meus 80 quilos, mas em Lisboa isso é uma luta diária e com muita malhação para não ir ganhando formas mais avantajadas.
Esta é minha última Lisboices de 2019 e me despeço desejando a todos um feliz natal e um maravilhoso 2020!

Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal