Por Eduardo Gregori
O verão finalmente havia terminado no Hemisfério Norte, mas na Peninsula Ibérica o sol e o calor, mais brandos, ainda persistiam um pouco mais. Os besouros que Anes faziam das areias escaldantes da Costa de Caparica a sua morada, agora já não são vistos e nem mesmo os verdejantes arbustos estão mais em seu esplendor. Tudo sinaliza a chegada do outono e consequentemente o adeus à praia.
Mas antes do último ato, mais uma vez estendo minha toalha para espreitar o que se passa no areal muito além de um simples relax e banho de mar. A esta altura do ano já não vejo mais os meus personagens retratados nos textos anteriores. Sinto dividir a praia praticamente com os surfistas.
Tese reforçada pelo confinamento motivado pelo Novo Coronavírus. Nos finais de semana, por exemplo, não é possível cruzar o Tejo, o que diminui ainda mais o público que frequenta a costa do outro lado da margem. Olho para um lado e para outro. Tiro o binóculos da mochila e nada, apenas pipas elevando os surfistas no ar e uns gatos pingados a caminhar pela praia. Dou um tempo e vou pro mar, ainda é possível entrar no gelado Atlantico Norte mas os nervos formigam um pouco, confesso. Volto pra areia, leio um pouco e ouço alguma mude na esperança que o cenário mude.
A tarde passa e quando dou por mim o sol quase está a se por no horizonte, naquele lindo espetáculo que só há na Caparica. Fico frustrado pois nada demais se passou ali naquele dia. Pego o carro e vou pra casa.
Me pego irritado, inquieto e ansioso afinal, só no próximo verão poderei encontrar-me com estas pessoas que buscam, de alguma forma, tipos de prazer que vão além do sol, do calor e da praia. Fico matutando aquela sensação na cabeça por dias até finalmente entender que faço parte daquele cenário também.
Estou em busca de prazer, mas não um prazer sexual é um prazer quase voyeurístico, do observar o comportamento humano, principalmente aquele que se destaca por não se encaixar no padrão do que é esperado normalmente num ambiente como uma praia, por exemplo. Lembro-me que observo sempre a vizinha da frente, não querendo ve-la em trajes íntimos, mas tento entender porque ela passa 365 dias por ano grudada na janela, ou o senhor que gasta o mesmo tempo na frente do prédio onde mora, parecendo observar o nada.
Agora é esperar o verão, que chega em três meses e ver se estes ou outros personagens vão surgir para satisfazer a minha curiosidade.
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