O conjunto de indicadores da economia aponta para o aprofundamento da crise, com a possibilidade de desemprego e retração da atividade produtiva. Para mudar o quadro, o governo brasileiro “deve fazer a sua parte no ajuste fiscal, cortando na própria carne, por exemplo com a redução de ministérios”, afirmou na manhã desta terça-feira, 24 de março, o diretor regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP-Campinas), José Nunes Filho, na apresentação da Sondagem Industrial, Comércio Exterior e Nível de Emprego Industrial de fevereiro de 2015.
O único indicador positivo apresentado hoje foi em termos das contratações pelo setor industrial. Foram 700 contratações em fevereiro, basicamente por cinco grandes empresas da região, uma do setor de máquinas agrícolas, outra de embalagens de alumínio e três do setor automotivo. Com as 1900 contratações de janeiro, já são 2.600 no na indústria da região de Campinas.
Este número, entretanto, é pontual, observou o diretor José Nunes Filho. Ele lembrou que em 2013 e 2014 foram registradas, no cômputo geral, 9.600 demissões no setor industrial regional. “A indústria já fez os seus ajustes”, observou, admitindo temer que as demissões passem a acontecer nos setores do comércio, serviços e construção civil, em razão da diminuição da atividade econômica, como vários indicadores têm demonstrado.
Ele citou os aumentos nas tarifas de água, energia e outras, de preços controlados. “Os reajustes nestas tarifas deveriam ser feitos em 2014, mas não foram e agora estão tendo grande impacto na economia. Por erros do governo, e porque ele escondeu a crise, estamos todos pagando agora”, protestou.
José Nunes Filho diz que é urgente a necessidade do ajuste fiscal e da reforma política. Entretanto, vê enormes dificuldades para que ambas ocorram como deveriam. “O governo está isolado, a presidente está isolada pelo próprio partido que não quer o ajuste”, lamentou.
Diante desse quadro, os movimentos de protesto, que tendem a se repetir, “são mais do que legítimos, porque a sociedade não aguenta mais, e não se trata de coxinhas ou algo do tipo, como o governo tenta desqualificar”, disse em tom veemente o dirigente do CIESP-Campinas. Para ele, o governo precisa fazer cortes, como no grande número de ministérios: 39.
Sondagem Industrial e Comércio Exterior – A Sondagem Industrial de fevereiro foi comentada pelo professor José Augusto Ruas, do Departamento de Economia da Facamp. Ele citou que, para 65,6% dos que responderam a pesquisa mensal do CIESP-Campinas, houve queda na produção. As vendas também caíram, para 65,6% dos entrevistados, contra 60,7% em janeiro.
Os aumentos nas tarifas já estão impactando diretamente o setor produtivo, pela pesquisa. Foram 90,6% os entrevistados que identificaram impactos das elevações dos custos de energia, água e transporte, contra 88,5% em janeiro. Um dos resultados desse cenário é a queda da lucratividade: 71,9% registraram queda, contra 61,9% em dezembro de 2014 e 71,4% em janeiro de 2015, apontando uma tendência de maior queda ainda.
Em termos do Comércio Exterior, as indústrias de 19 municípios da área de cobertura do CIESP-Campinas registraram um déficit de US$ 1,1 bilhão na balança comercial acumulada nos dos primeiros meses de 2015.
O diretor José Nunes Filho notou que o déficit na balança comercial é histórico na região de Campinas, considerando o perfil de seu parque produtivo, muito dependente de equipamentos importados. Entretanto, observou que tem havido uma expressiva redução dos valores envolvidos nas exportações: elas foram de US$ 277,2 milhões em fevereiro de 2014 e de US$ 219,7 milhões em fevereiro de 2015. Números que podem indicar uma desaceleração acentuada na “corrente industrial”, com impacto nas cadeias produtivas.
Um dado de destaque no balanço do Comércio Exterior da região de Campinas é que a Alemanha já aparece em quarto lugar entre os parceiros comerciais em termos de origens das importações, com um aumento de 134,7% em relação a janeiro e fevereiro de 2014. A Alemanha fica atrás da China, Estados Unidos e Japão.
O CIESP-Campinas conta com 163 empresas associadas que exportam. Entre o conjunto de associadas, 58 são multinacionais e 442 são nacionais. As associadas empregam atualmente 91.176 funcionários e têm um faturamento de R$ 37 bilhões anuais.