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Estudos divulgados na 6ª Semana da Educação mostram panorama das escolas de Campinas e visão dos professores
Um dos eventos da 6ª Semana da Educação, na FEAC, em 2015 (Foto José Pedro Martins)

Estudos divulgados na 6ª Semana da Educação mostram panorama das escolas de Campinas e visão dos professores

As escolas públicas de Campinas com somente o primeiro ciclo do Ensino Fundamental apresentaram na Prova Brasil 2013, considerando os alunos do 5º ano, um desempenho muito superior ao das escolas que incluem o Ensino Médio. Os dados estão em um estudo divulgado na manhã desta terça-feira, 10 de novembro, em evento da 6ª Semana da Educação de Campinas, realizado no auditório da Fundação FEAC. Outro estudo inédito mostrou a visão dos professores sobre o aprendizado dos alunos e sobre a profissão.

Os estudos foram divulgados pelo Observatório da Educação, vinculado ao Compromisso Campinas pela Educação (CCE), durante o evento “Observando Campinas – Novos estudos do Observatório da Educação”. Foram apresentados estudos sobre o cenário educacional de Campinas, com a participação dos seus autores, o professor Dr. Dalton Francisco de Andrade, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e da pesquisadora Dra. Stella Silva Telles, da Unicamp – ambos membros do Comitê Deliberativo do Observatório da Educação.

Todos os estudos estão disponíveis no portal do CCE no endereço: http://compromissocampinas.org.br/estudos/

ENEM - Um dos estudos de autoria do professor Dr. Dalton de Andrade, da UFSC foi “Análise estatística do desempenho dos alunos de Campinas-SP em Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Linguagens e Códigos e Matemática no ENEM para os anos de 2009 a 2013”.

De acordo com o estudo, a média de proficiência dos participantes do ENEM em Campinas nestes anos, considerando todas as disciplinas analisadas, foi sempre superior à média dos avaliados no Brasil, na Região Sudeste e no Estado de São Paulo. Entretanto, a média dos participantes do ENEM em Campinas declinou como regra geral desde 2009, com exceção de Matemática, assim como ocorreu com a média no Brasil, na Região Sudeste e no Estado de São Paulo.

Em Ciências da Natureza, a média dos alunos do ENEM em Campinas em 2009 foi de 552,1, contra uma média de 502,6 em 2013. Em Ciências Humanas, a média foi de 551,8 em 2009 e de 552,8 em 2013. Em Linguagens e Códigos, a média foi de 549,6 em 2009 e de 523,9 em 2013. E em Matemática, a média foi de 547,2 em 2009 e de 557,5 em 2013.

O professor Dalton de Andrade nota que o desempenho no ENEM não representa um termômetro real da qualidade do ensino médio em Campinas ou no Brasil. “Este desempenho é um retrato apenas da população que fez o ENEM e que inclui alunos do terceiro ano do ensino médio, ex-alunos, treineiros e quem não concluiu o ensino médio. Seria preciso um estudo mais aprofundado para verificar se esses resultados de fato demonstram um quadro real da qualidade no ensino médio”, ele explica.

Prova Brasil – “Análise do desempenho das escolas públicas de Campinas com base nos dados da Prova Brasil 2013” foi outro estudo apresentado pelo professor Dalton de Andrade no evento realizado na 6ª Semana da Educação de Campinas.

O especialista avaliou o desempenho dos alunos de 5º e 9º ano das redes municipal e estadual de Campinas, em Matemática e Língua Portuguesa, em comparação com três indicadores: (1) o nível de infraestrutura escolar, desenvolvido por Soares Neto, Jesus, Karino e Andrade (2013); (2) o nível socioeconômico da escola (segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP); e (3) o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) desenvolvido pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE).

Em termos do desempenho dos alunos, as escolas foram caracterizadas em escolas de Baixo e Alto Desempenho, assim identificadas:

Baixo desempenho – Uma escola é classificada de Baixo desempenho se a porcentagem dos seus alunos no nível abaixo do básico, no ano/série considerado, for igual ou superior a 20% em Língua Portuguesa ou Matemática.

Alto desempenho – Uma escola é classificada de Alto desempenho se a porcentagem dos seus alunos nos níveis adequado e avançado, no ano/série considerado, for superior a 50% em Língua Portuguesa e Matemática.

O estudo mostrou que em 2013 foram avaliadas pela Prova Brasil 135 escolas com o 5º ano do Ensino Fundamental e, pela classificação anterior, 67 (50%) apresentaram Baixo desempenho e 55 (41%) apresentaram Alto desempenho. Estes números representam uma melhora em relação ao universo avaliado em 2011, quando 60% das escolas apresentaram Baixo desempenho e 24%, Alto desempenho. “Escolas que não tiveram alto ou baixo desempenho não foram consideradas”, lembra o professor Dalton.

Por outro lado, em relação ao 9º ano do Ensino Fundamental, nenhuma escola pública de Campinas apresentou Alto desempenho em 2013, repetindo o que havia acontecido em 2011. Em 2011, das 128 escolas avaliadas, 105 foram classificadas em Baixo desempenho. Em 2013, de 128 escolas (duas diferentes em relação a 2011), 110 estavam com Baixo desempenho, demonstrando pequena elevação em relação ao período anterior.

Entre outros resultados, o estudo mostrou que a infraestrutura não interfere necessariamente no desempenho dos alunos. “A escola pode ter um laboratório mas não usar”, lembra o professor Dalton. Contudo, o estudo ratificou que, quanto maior o Nível Socioeconômico da escola, maior a possibilidade de um Alto desempenho. Por outro lado, escolas em território de alta vulnerabilidade social tendem a apresentar desempenho menor.

O estudo mostrou que, entre as escolas com somente o 1º ciclo do Ensino Fundamental, 58% apresentaram Alto Desempenho. Entre as escolas com 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental, 27% tiveram Alto Desempenho. Entre as escolas com 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental e Ensino Médio, 13% tiveram Alto Desempenho. E entre as escolas com 1º ciclo do Fundamental e Ensino Médio, 2% tiveram Alto Desempenho.

 

Todas as atividades da Semana estão tendo tradução por Libras

Todas as atividades da Semana estão tendo tradução por Libras

Absenteísmo – “Absenteísmo dos professores da rede pública de Campinas” foi o título de outro estudo apresentado pelo professor da Universidade Federal de Santa Catarina e membro do Observatório da Educação.

Para realizar o estudo, o especialista utilizou uma fórmula que considera as Faltas estimadas de dias letivos, Licença Saúde, Licença Maternidade, Licença Prêmio, Falta justificada e Injustificada, segundo os dados disponíveis para as redes municipal e estadual. Com o uso da fórmula, foi levantado um índice de absenteísmo mensal (índice1) e outro anual (índice2), entre 2012 e 2014.

De acordo com o levantamento, há muita variação mensal no absenteísmo nas escolas públicas municipais de Campinas. Na rede municipal, o índice1 (que indica a porcentagem de absenteísmo mensal de docentes em dias letivos) foi de 4,9 em janeiro de 2012 e de 6,2 em dezembro de 2014. Os meses com maior absenteísmo são os de agosto a outubro. De modo geral, foi verificada uma pequena redução do absenteísmo na rede municipal de Campinas, entre 2012 e 2014, de 9,3 para 8,5 (índice2). Foi possível levantar o índice mensal nas escolas do Município porque a rede municipal disponibilizou os dados a respeito no período.

Em função dos dados disponíveis, na rede estadual foi calculado o índice2 (porcentagem de absenteísmo anual de docentes em dias letivos) e índice2* (porcentagem de absenteísmo (faltas justificadas e faltas injustificadas) anual de docentes em dias letivos). A rede estadual disponibilizou os dados anuais, e até maio de cada ano. Pela metodologia usada, foi verificada uma pequena elevação do índice2 na rede estadual de Campinas, de 1,05 em 2012 para 1,27 em 2015 (o ano foi considerado porque o mês de referência é maio). No índice2*, elevação de 0,14 em 2012 para 0,34 em 2015.

Percepção dos professores – O quarto estudo divulgado, da pesquisadora Dra. Stella Silva Telles, versa sobre “O que pensam os professores da educação básica de Campinas sobre a aprendizagem dos alunos: evidências da Prova Brasil 2013”.

O estudo foi produzido a partir de um questionário aplicado junto a 1.000 professores de Campinas, sendo 84% mulheres, por ocasião da Prova Brasil de 2013, como parte de uma pesquisa nacional que ouviu 233.971 professores. Os professores responderam a um questionário de 152 perguntas, que possibilitaram traçar um panorama de sua percepção sobre o quadro atual da educação no país.

De acordo com o estudo, 91% dos professores têm ensino superior, 71% lecionam em apenas uma escola e 54% têm uma carga horária semanal de 40 horas, percentual que aumenta se o professor atua em escolas com Nível Sócio Econômico mais alto, em escolas grandes e em escolas municipais. O estudo identificou diferenças importantes na situação do professor nas redes municipal e estadual de ensino. Professores da rede municipal, por exemplo, concentram-se mais nas escolas menores, de até 500 alunos. Os salários também são mais elevados na rede municipal.

Em resposta à pergunta sobre as principais causas dos problemas de aprendizagem dos alunos, os professores apontaram, pela ordem, falta de assistência e acompanhamento dos pais na vida escolar dos alunos (94%), desinteresse e falta de esforço do aluno (89%), meio social em que o aluno vive (77%) e baixa autoestima dos alunos (76%). Percentuais menores receberam as respostas “sobrecarga de trabalho dos professores” (38%), “carência de infraestrutura física” (34%) e “conteúdos curriculares inadequados às necessidades dos alunos” (16%).

O evento teve a mediação da professora Dra. Maria Inês Fini, coordenadora do mesmo Comitê Deliberativo. Após as apresentações dos estudos, houve debate com os representantes da Secretaria Municipal de Educação de Campinas e das Diretorias Regionais de Ensino, Leste e Oeste. Para o dirigente regional de ensino da Diretoria Campinas Oeste, Antônio Admir Schiavo, o estudo sobre o desempenho das escolas públicas na Prova Brasil 2013, apontando melhor desempenho nas escolas com somente o 1º ciclo ou com 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental, “confirma que a reorganização na estrutura das escolas estaduais de São Paulo é uma tese correta”. Ele se refere à reorganização em curso na rede estadual paulista, apontando para o agrupamento, em uma mesma escola, somente de alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental ou Ensino Médio. “O estudo mostrou que o desempenho na escola com Fundamental e Médio é menor. De fato a direção dessa escola fica sem foco definido e a gestão é mais dificultada, com resultado na qualidade do ensino”, comentou o dirigente.

Por sua vez, o dirigente regional de ensino da Diretoria Campinas Leste, Nivaldo Vicente, defendeu o reestudo dos indicadores adotados pelo Ministério da Educação, principalmente no caso do Nível Sócio Econômico (NSE). Ele se referiu ao dado contido no estudo do professor Dalton Andrade, que usou os critérios do MEC, apontando para uma maioria de escolas públicas de Campinas com NSE Alto ou Médio-alto. “Quem conhece a realidade das escolas de Campinas sabe que a realidade é bem diferente. É preciso melhorar os questionários aplicados aos alunos, para se apurar a verdadeira dimensão da realidade sócio-econômica das escolas”, acentuou o dirigente.

A Secretaria Municipal da Educação de Campinas foi representada por Patricia Lazzarini Furlan, assessora do Departamento Pedagógico. Para ela, os estudos divulgados reforçam a necessidade “de se entender melhor a queda de desempenho nos anos finais do Ensino Fundamental”. Também presente, o promotor da Infância e Juventude de Campinas, Rodrigo Augusto de Oliveira, entende que a situação do 2º ciclo do Ensino Fundamental, compreendendo o 6º ao 9º ano, “é muito preocupante e merece ser vista com muito mais cuidado, de modo que sejam encontradas as estratégias para a melhoria substancial da qualidade do ensino nesse ciclo”.

Maria Alice Setúbal defendeu atenção especial para escolas em área de alta vulnerabilidade social

Maria Alice Setúbal defendeu atenção especial para escolas em área de alta vulnerabilidade social

Abertura na noite de 9 de novembro – A 6ª Semana da Educação de Campinas foi aberta na segunda-feira, 9 de novembro, à noite, no Teatro Brasil Kirin do Shopping Iguatemi Campinas, com conferência da socióloga Maria Alice (Neca) Setúbal. Ela defendeu uma ação concentrada do poder público e da sociedade em geral em relação às escolas localizadas em territórios de alta vulnerabilidade social, onde são identificados os piores indicadores de qualidade educacional. “É preciso uma ação afirmativa com relação a essas escolas, de modo a reduzir as desigualdades”, afirmou. Neca Setúbal é fundadora e presidente do Conselho de Administração do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC) e do Conselho Consultivo da Fundação Tide Setúbal.

A cerimônia de abertura também contou com a participação do prefeito de Campinas, Jonas Donizette, e da secretária municipal de Educação, Solange Vilon Kohn Pelicer, além de vereadores e de outras autoridades.

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Organização sediada em Campinas (SP) de notícias, interpretação e reflexão sobre temas contemporâneos, com foco na defesa dos direitos de cidadania e valorização da qualidade de vida.

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