Das sesmarias e capitanias hereditárias à política partidária do século 21. Os laços familiares continuam pesando, e muito, nas esferas do poder no Brasil, como reiteraram as eleições de domingo. São vários os eleitos, ou candidatos que vão para o segundo turno, em todos os níveis, que têm histórico de participação familiar na política partidária.
A começar pelo senador e ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB), que disputará o segundo turno da eleição presidencial com a presidente Dilma Rousseff (PT). Aécio é neto de Tancredo Neves, com longa trajetória na política nacional, encerrada com sua morte a 21 de abril de 1985, sem ter assumido a presidência da República que havia alcançado meses antes, no Colégio Eleitoral.
No lugar de Tancredo assumiu José Sarney, que vinha de carreira na Arena, o partido do governo militar. A família Sarney está há décadas no poder no Maranhão, sendo em 2014 derrotada por Flávio Dino (PC do B), o primeiro comunista a dirigir um estado. Mas a família Sarney continuará representada no Congresso Nacional, com a reeleição de Sarney Filho (PV).
Vários outros deputados federais e senadores foram reeleitos ou eleitos com a força do sobrenome. Um levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) mostrou que foram eleitos 82 deputados (42 novos e 40 reeleitos) com laços de parentesco com políticos, contra 78 eleitos em 2010.
Casos dos deputados federais eleitos Clarissa Garotinho (PR), filha do deputado e ex-governador Anthony Garotinho; Arthur Bisneto (PSDB), filho do prefeito de Manaus, Arthur Virgilio Neto; Rejane Dias (PT), mulher do senador eleito pelo Piauí, Wellington Dias; e Luiz Lauro Filho (PSB), sobrinho do prefeito de Campinas, Jonas Donizette. Entre os senadores eleitos e ou reeleitos está Simone Tebet (PMDB), filha do ex-governador de Mato Grosso do Sul, Ramez Tebet.
Vários sobrenomes fortes também entre os governadores eleitos ou candidatos que vão ao segundo turno. Casos de Beto Richa (PSDB), reeleito governador do Paraná, filho do ex-governador José Richa, e de Renan Filho, filho do presidente do Senado Renan Calheiros, eleito o mais jovem governador da história de Alagoas, aos 34 anos.
Mas também casos do governador Tião Viana (AC), que vai ao segundo turno no Acre e é irmão do senador Jorge Viana; Camilo Capiberibe (PSB), que tenta a reeleição no Amapá, é filho de políticos e é sobrinho de Raquel Capiberibe, ex-deputada federal; Henrique Alves (PMDB) e Robson Faria (PSD, pai do deputado Fábio Faria), candidatos ao governo do Rio Grande do Norte; e Cássio Cunha Lima (PSDB), que tenta um novo mandato no governo da Paraíba e é filho do ex-governador Ronaldo Cunha Lima.
Para o professor de Ética e Filosofia da Unicamp, Roberto Romano, a estrutura partidária brasileira ainda é “dominada por oligarquias, propriedade de meia dúzia, que manda nos cofres, na definição de candidaturas, o que impede a renovação da direção e afasta a militância dos jovens”. Na sua opinião, “a renovação apenas acontece quando seus filhos e netos se tornam candidatos”, o que torna a atividade partidária “uma federação de famílias poderosas”.